Adriano, a redenção do Imperador iluminado
Atacado por ter trocado Milo pela favela, como rotulou a Veja, craque faz gol decisivo e fica perto de se tornar campeo pelos dois clubes mais populares do Brasil: o Flamengo, em 2009, e, agora, o Corinthians
Marco Damiani_247 – Adriano, o Imperador, está de volta aos braços do seu povo. O título lhe foi dado na sofisticada Milão, um dos centros mais desenvolvidos da Europa, onde ele levantou nada menos que quatro campeonatos italianos pela Internazionale. Mas sua terra verdadeira, onde ele gosta de conviver, falar a mesma língua e dividir seus momentos de alegria e angústia é mesmo bem longe dali – e muito perto de onde ele está agora. Nascido e criado na Vila Cruzeiro – uma das favelas mais populosas e violentas do Rio de Janeiro --, o craque já foi atacado, e duramente, por ter escolhido viver perto da gente humilde da qual é parte em lugar de aproveitar a fama entre a alta roda europeia.
Foi assim em 2009, quando a vetusta revista Veja buscou aplicar-lhe uma lição de moral barata numa reportagem cujo título já demonstrava seu partido: “Ele trocou Milão pela favela”, registrou-se em tom de condenação pelo que se dizia ser uma escolha absurda, improvável, algo que ninguém, em sã consciência, poderia fazer. Adriano, para a publicação, era o homem na contramão do sucesso, aquele que fizera a escolha errada de buscar o Brasil como refúgio para um mundo de riquezas e prazeres que lhe sorria noutra freguesia.
O jogador, para sorte dos dois clubes mais populares do País, deu de ombros para aquela e outras manifestações de crítica. Ele havia acabado de perder seu pai, estava deprimido e considerava que apenas o retorno poderia dar-lhe o alento para a superação. Fez-se, porém, campanha para desacreditar da escolha consciente de Adriano, julgando-a, como se viu, insana, coisa de um desajustado social. A vida, no entanto, mostrou onde estava a verdade – e era com Adriano e sua vontade de estar com sua gente. Sorte grande para a galera do Flamengo, pelo qual o Imperador fez 19 gols naquele ano da volta e sagrou-se artilheiro e incontestável campeão brasileiro. Ele havia, sim, trocado Milão pela favela – e essa escolha só fortaleceu sua performance, absolutamente espetacular naquele 2009 dramático e vitorioso.
Agora, a mesma felicidade ele está a dois passos de encontrar junto à chamada Nação Corinthiana, a imensa torcida que faz do clube paulista o segundo mais popular do Brasil. Desta feita, com um único, singular e maravilhoso gol, executado aos 44 minutos do segundo tempo neste domingo 20, no Pacaembu, que selou a vitória de virada de sua equipe frente ao Atlético Mineiro. Faltam dois jogos para o Corinthians, líder isolado da competição, tornar-se campeão brasileiro – e, com seu gol, é como se Adriano não precisasse fazer mais nada, apenas estar ali, junto e com o povo. Repita-se: o seu povo. Uma posição escolhida de maneira pessoal e consciente, contra a maré dos que só enxergam verdade e beleza nas opções pequeno burguesas, conservadoras, de consenso.
Lamentem! Com Adriano, provado está, é diferente. O Imperador das Multidões quer e precisa da força das massas para superar, uma a uma, todas as barreiras impostas contra o seu modo de ser. Ele é autêntico, o que choca e irrita os conservadores. Adriano já segurou, sim, um fuzil cuja propriedade foi atribuída a traficantes. Ao mesmo tempo, no entanto, ele ganhou a Medalha Pedro Ernesto, maior honraria da Cidade do Rio de Janeiro por seus serviços e apoio prestados à comunidade carente. Em defesa de Adriano, é preciso lembrar que ele jamais foi acusado de ter cometido qualquer tipo de delito. Ele já passou por relações amorosas turbulentas, nada que outros famosos não tenham enfrentado. A diferença, nele, é que o peso da crítica vem acrescido da má vontade que jamais irá aceitar sua opção de convívio entre os pobres brasileiros em lugar dos almofadinhas europeus.
Adriano é, sim, feliz na favela. É lá que tem seus amigos, guarda a sua memória, mantém a base de seu sucesso. É lá, na Vila Cruzeiro em que nasceu ou na periferia leste da capital paulista, onde seu atual clube tem raízes, que Adriano é, verdadeiramente, o Imperador – e qualquer julgamento moral sobre sua escolha cheira muito mais a preconceito de classe do que advertência construtiva. Mas, pelo que se viu por meio do gol redentor, a história apenas se repete: enquanto os cães ladram, o bonde pilotado pelo iluminado camisa 10 avança para fazer história.
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