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    Belo-horizontino come, fuma e bebe mais

    Pesquisa divulgada pelo Ministrio da Sade mostra que moradores da capital mineira ficaram mais obesos que os brasileiros em geral nos ltimos cinco anos. Tambm se bebe, se fume e se come mais carne com gordura

    Belo-horizontino come, fuma e bebe mais (Foto: Divulgação)
    Gisele Federicce avatar
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    Minas 247 - Uma estatística que a população de Belo Horizonte não tem por que se orgulhar. Na capital mineira, os índices de obesidade são mais elevados do que no restante do país; as pessoas fumam mais; e, na capital dos butecos, também se bebe em maior quantidade.

    Os números foram colhidos pela pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada nos últimos cinco anos e divulgada agora pelo Ministério da Saúde.

    De 2006 a 2011, os belo-horizontinos com excesso de peso passaram de 37,3% para 45,3% da população (aumento de 8 pontos percentuais). O aumento no Brasil foi de 5,8 pontos (pulou de 42,7% para 48,5%).

    O cigarro é cultivado por 15,6% da população de BH; no Brasil eles são 14,8%.

    Outros dados da pesquisa Vigitel: 42,3% dos entrevistados assumiram comer carne com excesso de gordura (a média nacional é de 34,6%). Já o consumo abusivo de bebidas alcóolicas (quatro ou mais doses na mesma ocasião) atinge um em cada cinco entrevistados de BH - entre os homens, a proporção sobe para um em cada três. 

    Leia abaixo reportagem de Flávia Ayer e Gustavo Werneck publicada no jornal Estado de Minas:

    Moradores de BH estão gordos, fumando e bebendo mais que os demais brasileiros

    O belo-horizontino está devagar, quase parando, na corrida por uma vida saudável, e acelerando rumo aos tamanhos extragrandes (XG) no guarda-roupa. Apesar de, em cima da balança, ainda estarem abaixo da média nacional, proporcionalmente, os moradores da capital ganharam mais peso e ficaram mais obesos do que os brasileiros em geral, nos últimos cinco anos. De 2006 para 2011, a parcela da população de BH com excesso de peso passou de 37,3% para 45,3%, aumento de 8 pontos percentuais. Já no Brasil, houve salto de 42,7% para 48,5% (mais 5,8 pontos percentuais), o que corresponde a quase a metade dos habitantes. Na capital dos botecos, também se bebe, se fuma, se come mais carne com gordura do que no país, embora mais gente por aqui diga ser adepta de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos e o consumo de frutas e verduras.

    O perfil desse belo-horizontino de contradições, mais gordinho e, ao mesmo tempo, mais atleta é um dos destaques da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2011. Divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, o estudo entrevistou por telefone 54 mil brasileiros a partir de 18 anos, nas 26 capitais e no Distrito Federal, com objetivo de investigar seus hábitos. Apesar do culto ao corpo perfeito, na prática, há cada vez mais obesos no país. Se em 2006 pessoas com índice de massa corporal (IMC) – peso dividido pela altura ao quadrado – acima dos 30 kg/m² anos correspondiam a 11,4% da população, cinco anos depois, já somam 15,8% dos brasileiros. Em BH, a quantidade de obesos quase dobrou: antes, 8,8% dos habitantes, agora, correspondem a 14,2%.

    Assim como no país, em Belo Horizonte, o sobrepeso (IMC acima de 25 kg/m²) é maior entre os homens, sendo que 48,5% estão estourando ponteiros da balança. Já a obesidade é mais frequente entre as mulheres. Na capital mineira, 14,7% das mulheres se encontram nessa situação, que preocupa Shirley Vieira da Silva, de 40 anos. Vendedora de uma loja especializada em roupas para “gordos elegantes”, no Centro de Belo Horizonte, ela tem 1,63m de altura e pesa 96 quilos. “Eu deveria estar pesando 64, estou fora de forma”, lamenta, lembrando que foi uma criança magra. “Sou cardíaca, tive problemas de saúde que afetaram os pulmões e sei que ando fazendo tudo errado. Como tudo o que me oferecem, de dobradinha com feijão branco a coxinha. Além disso, não faço exercícios físicos e sou fumante.”

    “As pessoas precisam saber que a obesidade e o excesso de peso são considerados doenças, que levam a outras doenças como diabetes, hipertensão, artrose”, alerta o presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Saulo Cavalcanti da Silva. Segundo ele, essa situação é reflexo de um fenômeno cultural, nascido nos anos 1960, em que se cultuam a comida e o sedentarismo. “Os meninos trocaram a bola pelo videogame, os adultos só andam de carro e as pessoas estão cada vez mais viciadas em comida. O lazer agora é comer e a gordura induz ao vício. O gordo não come porque sente fome, mas porque tem desejo”, ressalta.

    O cardápio do dia a dia de Shirley é comum entre a maioria dos belo-horizontinos. De acordo com a pesquisa Vigitel, 42,3% dos entrevistados assumiram comer carne com excesso de gordura, quantidade bem acima da média nacional, de 34,6%. Refrigerante e bebida alcoólica também estão na mesa. Enquanto a média de consumo de refrigerante cinco ou mais vezes na semana é de 29,8% no país, em BH, é de 32,3%. A capital dos botecos também é boa de copo. O consumo abusivo de álcool (ingestão na mesma ocasião de quatro ou mais doses para mulheres e cinco para homens), em 30 dias, correspondia à realidade de um em cada cinco entrevistados e de quase um em cada três homens.

    CIGARRO 

    O cigarro é hábito cultivado por 15,6% da população de BH, sexta capital com mais fumantes no país, onde tabagistas correspondem a 14,8% dos brasileiros. Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a grande questão é que o aumento de peso da população brasileira tornou-se um problema de saúde pública. Embora as taxas de 15% ainda não tenham atingindo o patamar dos EUA (27,6%) nem alcançado níveis da Argentina e Chile (20% e 25,1%), o ministro considera que essa é a hora certa de virar o jogo e não permitir que o aumento da obesidade seja tendência da população.

    “É preciso melhorar os hábitos alimentares já na escola, evitando o surgimento de uma geração de obesos e prevenindo uma série de doenças relacionadas à obesidade, como hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer”, alerta. A estudante Paloma Sabrina, de 20 anos, está fazendo tudo para emagrecer. Com 1,65m de altura, ela já chegou a pesar 89 quilos e hoje está 85. “Sempre fui mais gordinha. Aliás, tenho reportagens de jornais feitas comigo criança, quando já falava sobre o assunto”, diz a simpática jovem.

    Mais exercícios físicos

    Numa academia do Centro de Belo Horizonte, o bailarino Edmárcio Júnior de Jesus, de 20 anos, mostra que está em boa forma. Corre na esteira, malha e faz alongamento. “Não bebo, não fumo nem uso drogas. Além disso, como de três em três horas”, afirma o jovem. Com 1,80m e 70 quilos, Edmárcio diz que “uma mente saudável” é fundamental para a qualidade de vida. “E muita salada, é claro!”. O bailarino é exemplo de hábitos saudáveis que muitos belo-horizontinos dizem estar seguindo. Quase a metade dos homens (46,9%) em BH declararam praticar atividades físicas suficiente no tempo livre, o que corresponde a 150 minutos por semana. O índice põe BH em terceiro lugar no ranking das 26 capitais e Distrito Federal.

    Os dados são da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada ontem pelo Ministério da Saúde, e apontam ainda que um total de 35% fazem exercícios regularmente na hora do lazer, nível acima da média nacional de 30,3%. Quando o assunto é suar a camisa, 25% das entrevistadas em BH disseram praticar atividades físicas, índice superior à média nacional de 22,4%. A advogada e professora de direito Cláudia Mara Viegas faz parte desse grupo. “Não fumo, bebo socialmente e ando todos os dias, a não ser aos domingos”, diz a advogada, que está longe de aparentar 40 anos. “Alimentar-se bem, malhar e viver feliz são essenciais para ter qualidade de vida”, conta Cláudia, na Praça JK, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul.

    Em 2006, quando a pesquisa Vigitel foi feita pela primeira vez, esse índice correspondia a 14,9% no país e a 15,9% em BH. O Ministério da Saúde ressalta que a metodologia usada nessa pergunta mudou, de acordo com novos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, por isso, não é possível comparar os dados. O presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Saulo Cavalcanti da Silva, desconfia da informação. “As pessoas mentem muito ao falar de exercícios físicos. Acham que porque se matricularam na academia fazem atividade física. Também arrumam as mais diversas desculpas para não se exercitar: porque choveu, porque tive que fazer a declaração do Imposto de Renda”, afirma.

    MAIS VERDE 

    De acordo com a pesquisa Vigitel, o consumo de frutas, legumes e hortaliças, pelo menos cinco vezes por semana, cresceu nos últimos cinco anos, passando de 28,9% para 30,9%. Em BH, a adesão a uma dieta verde também aumentou e pulou de 34,4% para 37,4% da população. Junto dos exercícios físicos, essa é a aposta da consultora empresarial Fabíola Nilo de Carvalho,de 28 anos, para abandonar a marca dos 100 quilos. “Faço hidroginástica e hidrospinning. Carrego sempre uma maçã na mochila e barrinha de cereais. A gente come muita porcaria na rua, salgados, sanduíche, então é preciso fugir deles. Adoro doces e, com essa vida corrida, as pessoas acabam ficando sedentárias, sem tempo para se alimentar direito”, afirma a consultora, lembrando que ficou com pressão alta devido ao excesso de peso.

    Na contramão de Fabíola, o técnico em exaustores Diogo Alberto Belgrano, de 63 anos, morador do Bairro Planalto, na Região da Pampulha, não conseguiu se livrar dos maus hábitos no cotidiano. Ele ficou 14 anos sem fumar e beber. Há um ano, “sem que nem pra quê”, conforme ele diz, voltou aos velhos hábitos: de meio maço a um maço de cigarros por dia e à cervejinha e de vez em quando uma pinga. O resultado ele vem sentindo e não procura disfarçar: muito cansaço. “Sofri dois enfartes, divorciei, mas já estou me preparando para parar de fumar e beber novamente”, adianta Diogo, que tem quatro filhos e três netos. “Para fumar, depende do momento e onde estou parado”, contou, na tarde de ontem, o técnico, que trabalha como autônomo, enquanto tomava café numa lanchonete da Avenida Afonso Pena, na Região Centro-Sul de BH.

    Membro da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Outras Drogas, o psiquiatra Valdir Campos ressalta que bebida e cigarro fazem parte da cultura do brasileiro. “Há uma certa permissividade da comunidade em relação ao consumo do tabaco e do álcool. Além de preconizar uma idade mínima para o consumo dessas drogas, é preciso aumentar a fiscalização e regular a disponibilidade desses produtos, o que dificultaria a venda”, afirma Valdir. “Ter 15,6% da população fumante e 20% consumindo álcool em excesso em BH é preocupante. Ambos os hábitos podem causar inúmeras doenças e levar à morte”, ressalta.

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