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    Capítulo da história da ditadura em Rio Verde, segundo Greenhalgh

    Em Rio Verde, Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-presidente do Comitê da Anistia, lembra o assassinato do casal Marcio Beck e Maria Augusta Thomaz pelas forças da repressão no dia 17 de maio de 1973

    Capítulo da história da ditadura em Rio Verde, segundo Greenhalgh (Foto: Divulgação)
    Gisele Federicce avatar
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    Goiás 247 – A instalação da Comissão da Verdade, pela presidenta Dilma Roussef (PT), teve um simbolismo especial na cidade de Rio Verde(GO). É que no dia 17 de maio de 1973, portanto há 39 anos, o casal Marcio Antônio Beck e Maria Augusta Thomaz, militantes do Molipo (Movimento de Libertação Popular), foram assassinados por agentes da ditadura na Fazenda Rio Doce, a 240 km de Goiânia, entre os municípios de Rio Verde e Jataí.

    O fato foi lembrando na noite de ontem, 16, pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que proferiu palestra para cerca de mil acadêmicos no VI Simpósio de Direito e Ciências Sociais da Fesurv (Universidade de Rio Verde). Ele foi convidado pelos acadêmicos de direito para debater a Defesa de Delúbio Soares no STF, mas discorreu também sobre os fatos ocorridos no município durante os Anos de Chumbo.

    Greenhalgh lembrou que esteve em Rio Verde em agosto de 1980, como presidente do Comitê Nacional pela Anistia para apurar denúncias que apontavam para a localização dos corpos. "Nos dirigimos a Rio Verde para checar relatos de presos políticos de que uma equipe da repressão havia assassinado Marcio Beck e Maria Augusta, enterrando os corpos num casebre na Fazenda Rio Doce".

    Além de Greenhalgh, participaram da comissão o advogado e à época vice-presidente nacional da OAB Sepúlveda Pertence (que futuramente seria Ministro do Supremo Tribunal Federal), os deputados federais Airton Soares (PT-SP) e Línio de Paiva (PMDB-GO), e o deputado estadual João Divino Dornelles.

    Nascida em Leme (SP), em 14/11/1947, Maria Augusta Thomaz era estudante
do Instituto Sedes Sapientae, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Era muito bonita e tinha 26 anos quando foi morta. Marcio Beck Machado, 26, nascido em São Paulo, em 15/12/1947, era estudante de Economia da Universidade Mackenzie(SP).

    Ambos haviam sido indiciados no Inquérito Policial 15/68 por participarem do Congresso da UNE em Ibiúna-SP, em 1968. Tinham as prisões decretadas pela ditadura e naquele ano de 1973 refugiaram-se em Rio Verde na Fazenda de Sebastião Cabral, onde teriam sido descobertos por uma equipe do DOPS, que em Goiás era chefiado pelo Capitão Marcus Fleury. Relatos do grupo Tortura Nunca Mais dão conta de que os agentes da repressão invadiram a fazenda, assassinaram o casal e obrigaram o fazendeiro Sebastião Cabral e seu empregado a enterrar os corpos, esfacelados pelos tiros.

    Greenhalgh contou aos estudantes de Direito que a equipe teve apoio de um advogado local, Jorge Lemes de Morais, que tinha escritório na Avenida Presidente Vargas, número 916, em Rio Verde. "Seu escritório tinha uma placa: Pronto Socorro Jurídico, e foi ali que tivemos apoio para tomar depoimentos e comprovar os assassinatos", disse.

    Nos três dias que estiveram em Rio Verde, os membros da comissão foram seguidos. Luiz Eduardo Greenhalgh relata que estiveram com Sebastião Cabral no local onde estavam enterrados os corpos, mas no decurso de prazo que tiveram para conseguir autorização judicial para exumação, o local foi profanado por agentes da repressão. "Ainda assim encontramos restos mortais - dentes, cabelos e pequenos ossos -, que levaram à comprovação de que eram
de Márcio Beck e Maria Augusta", aponta.

    Em entrevista à Rádio Caiapó, em Rio Verde, no programa Jornal 96, o ex-presidente do Comitê da Anistia, Greenhalgh elogiou a instalação da Comissão da Verdade, destacando que a presidenta Dilma Roussef (PT) foi feliz na escolha dos nomes. Avalia que, a exemplo da Comissão da Verdade da África do Sul, instalada no governo de Nelson Mandela, a comissão brasileira não está atrás de revanchismos, mas de contar a verdadeira história ocorrida durante a ditadura. "As famílias têm direito aos entes queridos. Foram assassinadas 458 pessoas pela ditadura e há 145 desaparecidos políticos no Brasil. Desde tempos imemoriais é direito das famílias enterrarem seus mortos", atesta.

    Advogado de presos políticos, Greenhalgh não vê necessidade de mudanças na lei da Anistia. Entende que este é um processo consolidado, que não cabem revanchismos de parte a parte, mas entende que para superação dos traumas do período ditatorial toda história deve ser resgatada. "Na África do Sul, o presidente da Comissão da Verdade do cardeal Desmond Tutu foi indicado ao Nobel da Paz. É no espírito de reconciliação com a própria história que os brasileiros devem apoiar os trabalhos desta comissão", sintetiza.

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