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    Como Gurgel fabricou uma crise

    Segundo Elio Gaspari, procurador-geral errou ao atribuir aos mensaleiros as críticas que sofre por ter engavetado inquérito contra Demóstenes

    Como Gurgel fabricou uma crise (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)
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    247 – Não anda fácil a vida do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Sem ter conseguido ainda se explicar sobre os motivos do engavetamento, durante três anos, do inquérito contra o senador Demóstenes Torres (sem partido/GO), ele vem também perdendo a batalha da opinião pública. Neste domingo, foi Elio Gaspari, no Globo e na Folha, quem criticou sua conduta. Leia:

    O procurador-geral fabricou uma crise

    Numa época em que surgiu o ofício de "gerenciador de crise", o procurador-geral Roberto Gurgel se tornou um fabricante de encrenca. O doutor sobrestou a Operação Vegas da Polícia Federal, que expunha relações do senador Demóstenes Torres com Carlinhos Cachoeira durante três anos. Em março, quando outra investigação detonou a quadrilha, Gurgel representou ao STF contra o senador. Conhecem-se duas explicações de sua conduta.

    Uma, apresentada numa nota oficial, informa que ele "optou por sobrestar o caso, como estratégia para evitar que fossem reveladas outras investigações". Noutra, contada pelo delegado que chefiou a Vegas, a subprocuradora-geral Claudia Sampaio (casada com Gurgel) disse-lhe que não foram encontrados elementos suficientes para a abertura de um processo.

    Diante das cobranças para que se explique melhor, Gurgel tumultuou o debate: tudo seria coisa de "pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão". Há gente com medo do desfecho do mensalão, é até possível que essas pessoas queiram azucriná-lo, mas a questão continua do mesmo tamanho: ele segurou a Operação Vegas.

    Pode tê-lo feito pelos melhores motivos, mas suas explicações ainda não satisfazem quem queira entendê-los. Em sua representação de 2012, Gurgel valeu-se de 22 gravações que estavam no inquérito que recebeu em 2009. O doutor não quer ir à CPI e tanto o ministro Joaquim Barbosa como seu contemporâneo Gilmar Mendes, do STF, dão-lhe razão.

    Quando uma CPI é instalada, começa a funcionar um filtro subjetivo que destaca aqueles que não querem depor ou se movem para bloquear depoimentos. Por exemplo: o PT não quer que o governador Agnelo Queiroz vá à CPI, já o PSDB, não quer que chamem o governador Marconi Perillo e o PMDB quer evitar a convocação de Sérgio Cabral. Gurgel não faz parte desse plantel, mas decidiu juntar-se a ele.

    A CPI de Cachoeira difere de todas as outras, que começaram com perguntas para desembocar em inquéritos. Ela começou com um inquérito, onde estão quase todas as respostas. Até agora, o que se vê é uma teologia da blindagem para evitar novas perguntas. Felizmente, a couraça da quadrilha de Cachoeira foi furada pela Polícia Federal com seus grampos.

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