Em noite fria, Bloco de Lutas volta às ruas por passe livre
A manifestação com cerca de 500 pessoas tinha como objetivo fazer pressão sobre o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, para que dê encaminhamento ao projeto de passe livre municipal para estudantes e desempregados, elaborado pelo Bloco durante a ocupação da Câmara que encerrou-se na semana passada. Para entrar em tramitação na Câmara, é necessário que o Executivo encaminhe a proposta ao parlamento
Igor Natusch
Sul 21 - Foi em clima de reencontro a manifestação do Bloco de Luta Pelo Transporte Público na fria noite de segunda-feira (22) em Porto Alegre. Em mais de um sentido. Além de ser o retorno do grupo às ruas depois de mais de uma semana de ocupação da Câmara de Porto Alegre, a noite gelada acabou limitando o número de participantes, dando ao protesto ares semelhantes às primeiras manifestações do Bloco, no começo do ano, quando a causa do transporte coletivo ainda tentava ganhar espaço no inconsciente da cidade. Cerca de 500 pessoas participaram do ato, com concentração em frente à Prefeitura de Porto Alegre.
A manifestação tinha como objetivo fazer pressão sobre o prefeito José Fortunati para que dê encaminhamento ao projeto de passe livre municipal para estudantes e desempregados, elaborado pelo Bloco durante a ocupação da Câmara que encerrou-se na semana passada. Para entrar em tramitação na Câmara, é necessário que o Executivo encaminhe a proposta ao parlamento. O prefeito já sinalizou dando a entender que não é possível atender a solicitação, o que motiva a pressão dos integrantes do Bloco. Além disso, o ato desta segunda-feira buscava manter a mobilização em torno de outras demandas, como a abertura de contas das empresas que operam o transporte coletivo em Porto Alegre.
O momento do começo da marcha acabou sendo bastante simbólico. Eram 19h07 quando os presentes começaram a caminhar, pegando a Júlio de Castilhos pela curva do Mercado Público. O mesmo relógio que marcava o horário indicava a temperatura: sete graus. A caminhada seguiu um trajeto menos extenso do que os protestos que movimentaram Porto Alegre em junho, passando por terminais de ônibus do centro da cidade antes de fazer a volta pelo Camelódromo, tomar a Voluntários da Pátria e regressar ao Largo Glênio Peres. O encerramento foi no mesmo local de onde a caminhada saiu – em frente à Prefeitura de Porto Alegre.
Possivelmente devido ao clima gelado, a marcha acabou tendo um ritmo um pouco mais rápido do que o usual. Eram visíveis faixas com frases de ordem tipo “Os vândalos estão no poder”, “Recua, burguesia, recua” e “Pelo transporte público 100% gratuito”. Gritos já conhecidos, como “Somos o povo e o passe livre os ricos vão pagar”, uniam-se a menções irônicas ao poder público e alguns veículos de comunicação. “Chora a RBS, chora o prefeito, chora vereador, e ninguém cala esse chororô”, cantavam os manifestantes.
Ao passar pelos corredores de ônibus, a caminhada causou surpresa em alguns, mas foi recebida de forma positiva pela maioria das pessoas que aguardavam condução para casa. Alguns, já familiarizados com a pauta, não pouparam frases de apoio. “Dez ou vinte centavos não adianta, tem é que garantir passagem de graça para quem precisa”, disse um senhor que esperava condução no terminal ao lado do Mercado Público, sendo incentivado por parte dos integrantes da caminhada.
O clima tranquilo do ato manteve-se até o fim da marcha, em frente à prefeitura. Com a presença de um carro de som, as vozes uniram-se aos tambores e a música fez-se presente, animando a lenta dispersão. Por volta das 21h, um grupo de menos de cem corajosos manifestantes resistia ao frio de seis graus e seguia cantando e gritando frases de efeito. “O Fortunati foi ver o Papa no Rio, mas a gente fica aqui esperando ele voltar”, garantiu um dos presentes – em uma promessa que talvez não deva ser tomada de forma literal, mas que marca a disposição do Bloco de Lutas em seguir fazendo pressão sobre o Executivo e a Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
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