Kalil diz que mulher tinha 'irritabilidade frequente'; polícia faz perícia de resíduo de pólvora em ambos
Ilana Kalil foi encontrada morta na madrugada de segunda-feira na residência do casal com tiro na cabeça
247 - O ginecologista Renato Kalil afirmou à polícia que a mulher, Ilana Kalil, encontrada morta na madrugada de segunda-feira (14) na residência do casal, tinha "irritabilidade frequente" e que contava com o acompanhamento regular de um psiquiatra. A informação consta no boletim de ocorrência, registrado na 89ª DP de São Paulo e foi revelado em reportagem do portal Universa. O documento atesta que a morte foi causada por um disparo de arma de fogo e foi registrada na Polícia Civil como suicídio consumado.
De acordo com o BO, foi requisitado exame residuográfico em Ilana e também em Kalil, a fim de detectar vestígios que podem indicar uso de arma de fogo.A polícia ainda pediu que um médico legista comparecesse à casa para "retirar qualquer dúvida quando do disparo" e também para avaliação da "possibilidade de constatação de manuseio da arma por outra pessoa". Foi pedido exame toxicológico da vítima.
De acordo com a versão de Kalil à polícia, Ilana tomava medicamentos controlados. Ele afirmou também que os problemas passaram a ser mais constantes nos últimos dois anos e que eles haviam discutido na noite de domingo (13). O médico contou que, na madrugada de segunda, Ilana estaria irritada por causa de seu Instagram. O último post dela, nos Stories, dizia: "Fui censurada de novo. E lá vai... Quem viu, viu. Quem não viu, não vai ver mais. E viva a ditadura". No boletim de ocorrência, há referência ao episódio de forma genérica: "Ilana estava revoltada por ter tido que apagar o seu Instagram por questões outras que o casal vinha enfrentando".
Os dois teriam se deitado por volta da uma da manhã. Kalil relatou à polícia que a mulher não teria conseguido dormir e, depois de uns 40 minutos, foi para a sala, no andar inferior da casa.
Ainda de acordo com a versão apresentada pelo médico, por volta de 3h40 da madrugada de segunda-feira, ele teria ouvido o tiro. A mulher teria enviado mensagens a ele se despedindo. Ele afirma que a encontrou na sala e que na mesa havia uma carta de despedida e uma garrafa de bebida. Segundo o ginecologista, ela já estava morta.
Kalil diz que acionou os seguranças da rua onde vive que, por sua vez, chamaram socorro e a polícia. Segundo sua versão, a arma pertencia a seu pai, estava escondida e em situação regular. Ele afirmou também que a mulher não sabia manusear armas.
Os policiais ainda vão analisar o laudo do IML (Instituto Médico Legal) e da perícia no local para confirmar o suicídio ou abrir outra linha de investigação.
Ilana, 40 anos, era formada em nutrição, mas trabalhava como instrumentadora cirúrgica de Renato. Eles tinham duas filhas.
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A reportagem ainda destaca que o Ministério Público do estado de São Paulo designou o promotor do júri Fernando Bolque para acompanhar as investigações da morte, segundo informações da coluna Mônica Bergamo, da "Folha de S.Paulo".
Acusações de violência obstétrica
Recentemente, Ilana havia saído em defesa do marido nas redes sociais depois que ele foi acusado de violência obstétrica no parto da influenciadora digital Shantal Verdelho.
Em dezembro de 2021, Shantal compartilhou as filmagens do parto de sua segunda filha. No vídeo, Renato aparece ofendendo a paciente, chamando-a de "viadinha", realizando a manobra de Kristeller —desaconselhada pela OMS (Organização Mundial da Saúde)— e tentando convencê-la a tomar uma medicação que acelera o trabalho de parto, mas é contraindicada para mulheres que já realizaram cesárea anteriormente.
A influenciadora registrou um boletim de ocorrência contra o médico, o que permitiu que a Justiça abrisse um inquérito para investigar a atitude do ginecologista. Um mês depois, pelo menos outras três mulheres também foram à Justiça denunciar Kalil por violência obstétrica, assédio moral e abuso sexual.
"Quando a gente assistia ao vídeo do parto, ele me xinga o trabalho de parto inteiro. Ele fala 'Porra, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, porra'... depois que revi tudo, foi horrível. (...) Ele chamou meu marido e falou: 'Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela'. Ele falava de um jeito como 'olha aí, onde você faz sexo, tá tudo fodido'. Ele não tinha que fazer isso. Ele nem sabe se eu tenho tamanha intimidade com meu marido", contou Shantal recentemente em um aúdio.
Após o caso de Shantal ter vindo à tona, a jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente no Brasil do jornal The Wall Street Journal, corroborou as denúncias contra Kalil.
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Ao jornal O Globo, ela contou ter passado por episódios de assédio moral, principalmente na gravidez de sua segunda filha, nascida em meados de 2019. "Ele falava da minha vagina como se eu não estivesse ali. Passei semanas chorando sozinha em casa, sem saber se ele tinha dado mais pontos do que o necessário, com medo de transar, de sentir dor. Fui a outros médicos para saber se isso podia ser checado, mas não podia. Foi horrível".
Segundo Samantha, o médico ainda fez um comentário gordofóbico. "Samantha, você vai ter de emagrecer porque senão seu marido vai trair você. (...).
Na ocasião das acusações, por meio de seu advogado, o médico divulgou uma nota afirmando que "não praticou violência obstétrica" e que "a edição dos vídeos e das falas [dele durante o parto dela] induzem a erro de interpretação do que verdadeiramente ocorreu".
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