Kátia, a rainha da polêmica
Conhecida por defender temas controversos e de pouco ou zero apelo social, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) é o nome mais polêmico entre os futuros ministros da presidente Dilma Rousseff; desde que foi anunciada, sua indicação conseguiu desagradar setores da esquerda e da direita ao mesmo tempo; dos dois lados, manifestações pipocaram; a esquerda cobra coerência de Dilma e a direita cobra o mesmo de Kátia; PT torce o nariz, o PMDB também; mas contra tudo e todos, Kátia Abreu construiu uma relação consolidada com a presidente Dilma Rousseff e será ministra
Aquiles Lins, do Tocantins 247 – A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) é sem dúvida o nome mais polêmico entre os futuros ministros do segundo governo Dilma Rousseff (PT). Pôs em miniatura as manifestações contrárias à indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, que já sinalizou uma guinada da política econômica executada até então.
A indicação de Kátia Abreu conseguiu desagradar setores da esquerda e da direita ao mesmo tempo. Tanto os movimentos sociais quanto produtores rurais torcem o nariz desde o dia 19 de novembro, quando Dilma fez o convite a Kátia. Desde então pipocam manifestações dos dois lados.
O lado esquerdo da ideologia, alinhado ao PT, cobra coerência da presidente. Movimento dos Sem Terra, intelectuais, ambientalistas, representantes de minorias lembram que Kátia Abreu teve sua carreira política sempre ligada à defesa de interesses contrários aos deles. Protestos contra Kátia ministra incluem abaixo assinado virtual, ocupação de fazendas em Santa Catarina e no Tocantins, manifestos e até a ocupação por índigenas da sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília.
Já do lado da direita, alinhado ao Agronegócio, produtores rurais sustentam que, ao se aliar ao PT, Kátia Abreu perdeu legitimidade no comando da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pedem sua renúncia. O grupo JBS, maior produtor de proteína animal do planeta e o maior doador da campanha de reeleição de Dilma, já pediu abertamente ao governo federal que não a nomeie ministra.
Acompanhando de perto as manifestações, Kátia Abreu tem evitado comentar o assunto e classifica como “cogitação” sua ida para a Esplanada dos Ministérios. “A única resposta que eu tenho a dar é que você ter sempre o nome cogitado para espaços importantes traz uma honra muito grande, uma alegria muito grande. E eu acho que tudo isso não é só meu, essa cogitação é também uma honra para o Tocantins. É um sinal de que o Tocantins está avançando”, declarou a senadora durante o Fórum das Águas, que ocorreu em Palmas, nessa quinta-feira, 4.
Qual a razão de tantos protestos, manifestações contrárias à presidente da maior associação do Agronegócio do país assumir o controle do Ministério da Agricultura?
Boa parte deles reside nas bandeiras abraças por Kátia como ideal político.
Oposição raivosa
Kátia Abreu chegou ao Congresso Nacional pelo Tocantins em 2000, como suplente de deputada federal. Logo foi escolhida para presidir a Bancada ruralista no Parlamento, sendo a primeira mulher no país a comandá-la. Em 2006 foi eleita para o Senado, pregando ideais de direita, como o livre mercado e a regulação mínima do Estado.
Tanto na Câmara quanto no Senado, Kátia Abreu sempre defendeu temas polêmicos e que interessavam a grandes empresas. Entre eles estão o uso de sementes transgênicas; a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público; a PEC 215, que dá ao Congresso o poder sobre a demarcação de terras indígenas; e o fim da lista suja das empresas flagradas promovendo trabalho escravo. Tanto que lhe renderam apelidos como "Miss Desmatamento".
Em dezembro de 2007, Kátia Abreu foi a relatora do projeto que rejeitou a prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), impondo a primeira derrota expressiva ao segundo governo do presidente Lula. Desde então, Kátia se viu rotulada como ameaça ao governo do PT. Como oposição, seu poder de barganha política era negativo no governo.
Gradualmente, a senadora trabalhou seu distanciamento político da oposição raivosa e migrou para o centro e depois para a base governista.
Governista roxa
Apesar da gritaria dos movimentos sociais e dos temas controversos defendidos por Kátia Abreu, o fato é que hoje ela é próxima, e muito, da presidente Dilma Rousseff. A aproximação entre Kátia e Dilma é fruto de uma articulação de sucesso da senadora tocantinense. O processo começou ainda em 2010, durante a campanha de Dilma à Presidência. Kátia, então filiada ao DEM e apoiando a candidatura de José Serra (PSDB), escreveu uma longa carta desejando “força” para Dilma superar o momento difícil pelo qual passou, com o tratamento do câncer no sistema linfático.
No texto, Kátia disse para a presidente ter coragem e fé para enfrentar a doença, e que Dilma era muito importante para assegurar a presença feminina na política. O gesto tocou a candidata petista e foi o primeiro passo de Katia, o pessoal.
O segundo passo de Kátia Abreu rumo a Dilma foi político. Junto com o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, Kátia deu adeus aos DEM no dia 13 de abril de 2011, ao participar da fundação do PSD. Ela estava se desvencilhando da direita raivosa e rumando para a base da presidente no Senado.
Em 2012, Kátia Abreu estabeleceu a primeira parceria institucional com o governo Dilma Rousseff, através do programa Minha Casa, Minha Vida para a zona rural. Como presidente da CNA, se mostrou aliada de primeira hora.
Outro programa em que Kátia se fez importante, este de carinho especial para a presidente, foi o Pronatec. Por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), ficou sob a batuta da senadora a responsabilidade de tocar o programa no Tocantins, o que motivou inclusive a presença de Dilma à capital Palmas, no dia 19 de dezembro de 2012, para a formatura de cinco mil alunos.
Em 2013, Kátia Abreu deixou o PSD para o PMDB, sob as bençãos do vice-presidente Michel Temer. Era o sacramento da sua transformação de desafeto do PT para congressista de confiança da presidente Dilma.
Peso econômico do Agro
Durante a campanha eleitoral de 2014, Kátia Abreu dividiu as atribuições de sua reeleição ao Senado para apoiar a reeleição de Dilma. Em junho organizou um jantar para Dilma com 46 grandes nomes do Agronegócio do país.
Kátia Abreu foi ganhando importância pela presidente Dilma Rousseff também pelo peso econômico maior que o Agronegócio tem representado na economia brasileira, respondendo atualmente por 23% da economia do país.
Katia ministra
Que política pública o Brasil terá para a Agricultura com Kátia Abreu no ministério? É outra pergunta que aterroriza ambientalistas, ecologistas e agricultores familiares.
Em seus discursos, Kátia defende o aumento da produtividade nas lavouras brasileiras sem a necessidade de expandir fronteiras. Quer produzir mais, na mesma área. A senadora é a favor também do aumento de áreas de plantação irrigadas. Apesar da crise hídrica instalada no país, Kátia defende que o Brasil pode ter 29,5 milhões de hectares de agricultura irrigada, o quíntuplo do que se tem atualmente.
Outra bandeira da senadora são as hidrovias. Kátia gosta de dizer que entre seus maiores legados como politica será a luta pela concretização da hidrovia Tocantins, transformando seu estado natal num centro de logística do país.
Contra a vontade dos movimentos sociais, do Agronegócio, do PMDB, e de boa parte do PT, o Brasil caminha para ter Kátia Abreu como ministra da Agricultura. Que polêmicas Kátia protagonizará por lá?
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