Para transferir votos de Lula a Haddad, PT aposta em campanha do 13
Para intensificar a transferência de votos de Lula para seu candidato a vice, Fernando Haddad, caso Lula seja impedido de disputar as eleições, o PT aposta na divulgação do número do partido; "O número do Haddad é o mesmo do Lula. Estamos fazendo a campanha do 13. Em eleição não tem nome, não existe nem Lula nem Wellington. É o 13. O número é muito forte", afirmou o governador do Piauí e candidato à reeleição, Wellington Dias; no Maranhão, Lula já transfere até 70% dos votos para Haddad
Reuters - Um dos nomes petistas que mais brigaram para que o partido colocasse a campanha na rua e definisse logo um plano B, o governador do Piauí, Wellington Dias, afirma não ter dúvidas de que Fernando Haddad, vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, irá herdar os votos do ex-presidente, e que para isso o PT fará campanha pelo voto no 13, o número da legenda.
"Tem um segredo que eu vou contar para vocês: o número do Haddad é o mesmo do Lula. Estamos fazendo a campanha do 13. Em eleição não tem nome, não existe nem Lula nem Wellington. É o 13. O número é muito forte", disse o governador em entrevista à Reuters na segunda-feira.
Wellington Dias, que foi o primeiro a receber Haddad em seu tour pelo Nordeste, acredita em um segundo turno com a presença do ex-prefeito, no caso de Lula ter sua candidatura barrada, mesmo que Haddad tenha registrado apenas 4 por cento das intenções de voto na última pesquisa nacional do Ibope neste mês.
No cenário sem Lula, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) lidera, seguido por Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
"Se você pergunta quem votaria se o candidato for Alckmin, Haddad, Bolsonaro, ele é um nome solto ali dentro, ele é pouco conhecido. Agora, estamos falando aqui... este é o candidato do Lula. Então quando a gente diz Haddad, o candidato do Lula, dá isso. E é isso que o programa de televisão vai dizer, é esse nosso papel como militante no Brasil inteiro", afirmou.
O PT tem reforçado a ideia do voto no 13 como forma de associar Lula a Haddad e facilitar a vida do eleitor, que não conhece o vice e potencial substituto de Lula na chapa, mas reconhece o número do ex-presidente. Nesta terça, fazendo campanha em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, o próprio Haddad enfatizou o número.
"O povo feliz de novo tem número e sabe o número: é 13 para presidente, é 13 para governadora, é 13 para senador e assim nós vamos caminhando até vencermos essa eleição", discursou.
Wellington disse à Reuters que encomendou duas pesquisas no Piauí, para consumo interno, associando o nome de Haddad como candidato de Lula. Na primeira, feita em julho, o ex-prefeito aparecia com 27 por cento das intenções de voto, segundo o governador. A segunda, na semana passada, depois da passagem de Haddad pelo Piauí e com o reforço de aparecer como vice de Lula, o ex-prefeito já apareceria com 49 por cento, disse.
A última pesquisa Ibope feita no Estado, neste mês, mostrou Lula com 65 por cento das intenções de voto. Sem o ex-presidente, o Ibope mostrou Haddad com 6 por cento.
Wellington garante que chegaram ao fim as disputas internas no PT sobre o nome que substituirá Lula caso sua candidatura seja barrada. Condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
"A outra dúvida não pode ter. Se o Lula não puder ser candidato, o nome é o Haddad, não tem nenhuma dúvida sobre isso. Há consenso", garantiu, mesmo reforçando que o PT ainda confia no registro do presidente e acredita que agora —com uma recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU que pediu ao país que garanta os seus direitos políticos— teria aumentado a chance de o registro ser concedido.
"De verdade, o nome primeiro que foi colocado era de Jaques Wagner porque a base maior do partido, a força é muito maior no nordeste. Nove governadores de diferentes partidos colocavam o nome de Jaques", contou.
"Mas Jaques colocou que ele, por razões regionais, preferia mesmo o mandato de senador", disse o governador do Piauí.
Para ele, o lado bom da escolha de Haddad é que o ex-prefeito já vinha coordenando o programa de governo e fazendo uma série de contatos por conta disso.
"Na política, em uma eleição, gente com muita vontade já não é fácil, imagina sem querer. O Haddad está com muita vontade para fazer esse trabalho de levar a mensagem do presidente Lula. Hoje ele é quem melhor representa isso para a militância."
O governador aposta em um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro. Afirma que, inicialmente, esperava que essa disputa se desse com o tucano Alckmin, mas que não vê mais o ex-governador de São Paulo com fôlego para crescer.
Haddad, diz, é visto como uma pessoa preparada e, nos últimos anos, avançou na capacidade de lidar com líderes de outros partidos e poderá negociar em um eventual segundo turno.
"Uma coisa boa pode acontecer (em um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad) é uma união de diferentes líderes e partidos pensando no Brasil. É uma coisa que estamos precisando muito e não é fácil de fazer, mas poderá acontecer em razão de um provável segundo turno. Eu considero isso provável", disse.
"Quem for eleito precisa ter uma boa base para governar saindo do resultado das eleições. Nesse caso, o segundo turno tem essa vantagem de fazer com que os diferentes possam, olho no olho, sentar e pactuar que Brasil vai sair das urnas", disse, apostando numa vitória de Haddad contra Bolsonaro.
PERDÃO
O governador disse ser contra a possibilidade de Haddad, caso seja eleito presidente, conceder um perdão ao ex-presidente Lula, medida prevista legalmente e que poderia tirar o petista da prisão. Ele defendeu uma eventual anistia judicial a partir do Congresso.
"Aqui para você saber: eu acho que, por uma iniciativa dele, não é bom para a democracia. Eu te digo de coração. Pode alguém ter uma ideia. Uma coisa é assim, nasceu do Congresso Nacional, tal, tudo bem, e não duvido que possa nascer", afirmou.
Wellington Dias aposta que Lula deixará a cadeia após a eleição, por decisão do próprio Judiciário.
"Estou dizendo assim, é que eu tenho tanta confiança. Acho que o Judiciário brasileiro a gente tem que dar um voto de confiança. É ruim você, como se diz assim, não deixar o próprio Judiciário consertar esse negocio", disse.
Com 47 por cento das intenções de voto no Piauí de acordo com a última pesquisa Ibope, enquanto o segundo colocado, Dr. Pessoa (SD), tem apenas 13 por cento, Wellington Dias é uma das apostas de vitória consideradas certas no PT. Se reeleito, irá para seu quarto mandato desde 2002 — foi governador entre 2002 e 2010 e depois eleito novamente em 2014.
O governador disse que não sabia de denúncias, veiculadas em redes sociais e na imprensa, de que houve pagamento a influenciadores digitais para elogiarem a gestão dele e de outras lideranças do PT, uma prática proibida na campanha.
"É a coisa mais maluca que já vi na minha vida", disse ele. "Por que eu vou pagar para falar bem do Piauí, vamos ser sinceros? Com a situação que estou lá? Para fora... se fosse ao menos dentro do meu Estado", disse, ao destacar que tem "zero" preocupação sobre uma eventual investigação. "Pode ter investigação do que quiser. Zero. Zero. Zero. Zero."
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