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    Pesquisadores alertam para risco da emergência de novas doenças no país

    Em carta na revista “The Lancet”, 25 cientistas defendem criação de um sistema integrado de vigilância dedicado especificamente a agravos silvestres

    (Foto: REUTERS/Carl Recine)

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    Do Insttuto Oswaldo Cruz - Uma carta publicada na revista científica “The Lancet”, um dos periódicos de maior prestígio da área biomédica, alerta para o risco da emergência de novas doenças no Brasil, especialmente aquelas de caráter silvestre. Dez pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Centro para Sobrevivência de Espécies do Brasil (Center for Species Survival Brazil/IUCN-SSC) são autores da publicação. 

    O documento conta ainda com o apoio de 15 especialistas de instituições nacionais e internacionais, entre elas, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O texto aponta retrocessos nas políticas sociais e ambientais do país, que podem favorecer a ocorrência de infecções causadas por patógenos de origem animal, chamadas de zoonoses. Os especialistas defendem a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres.

    Cientistas de diferentes unidades e programas de pesquisa da Fiocruz subscrevem a carta, incluindo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), Fiocruz-Ceará, Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Projeto FioAntar e Programa Institucional de Biodiversidade e Saúde Silvestre (PIBSS/ Fiocruz). No IOC, pesquisadores de quatro laboratórios são autores do documento. São eles: Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatório, Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental, Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia e Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo.

    Relação entre biodiversidade e saúde

    De acordo com os especialistas, a perda da biodiversidade, a expansão das atividades humanas em áreas de matas e florestas e o consumo de animais silvestres como recurso alimentar ou em práticas exotéricas são alguns dos principais facilitadores de surtos recentes de doenças infecciosas, tais como ebola, Nipah e arboviroses (patógenos transmitidos por insetos). No cenário brasileiro, o aumento da vulnerabilidade social e da degradação ambiental elevam o risco de infecções zoonóticas. Assim, a emergência e a re-emergência de agravos, incluindo a febre oropouche, hantaviroses, doença de Chagas e febre amarela, são consideradas sinais de alerta.

    Para os pesquisadores, a progressiva flexibilização das leis de proteção, o desmantelamento das instituições ambientais, o desrespeito às evidências científicas e os ataques às organizações de conservação do meio ambiente são fatores que contribuem para o aumento do desmatamento, uso indevido de pesticidas e comércio ilegal de animais selvagens. “Todas essas ações representam um grande retrocesso nas políticas socioambientais, o que abre novas portas para o surgimento de zoonoses e impacta negativamente tanto a biodiversidade como a saúde pública, colocando milhões de pessoas em risco”, afirmam os autores.

    O fortalecimento do sistema público de saúde brasileiro, incluindo o paradigma da saúde única, que contempla a saúde humana, animal e ambiental, é apontado como o caminho para enfrentar o problema. Neste sentido, os especialistas defendem a criação de um sistema integrado de vigilância e monitoramento de doenças silvestres, com forte colaboração intersetorial. Além disso, enfatizam necessidade de cooperação multilateral e transfronteiriça.

    Considerando a pandemia de Covid-19, os pesquisadores afirmam que a doença ‘representa um argumento irrefutável da necessidade de integrar a conservação da biodiversidade, a inclusão social e a resiliência econômica, por meio de cadeias sócio-produtivas inovadoras e sustentáveis’. “A ciência e a justiça social precisam ser aplicadas como instrumentos para a transformação da formulação de políticas ambientais e de saúde”, concluem os cientistas. 

    Confira a íntegra da carta.

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