Presidente do PDT-RS: "não vejo Fortunati sem o PDT"
Bastante indignado com a falta de coesão da base aliada durante uma votação, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati sinalizou inclusive a saída do PDT em definitivo ao final do mandato, em dezembro de 2016; mas a direção do PDT tratou de minimizar a ruptura. Pompeo de Mattos, presidente do partido no estado, foi categórico: “não vejo o Fortunati sem o PDT”
Sul 21 - Algumas horas após a derrubada de dois vetos do executivo municipal na Câmara de Porto Alegre, o prefeito José Fortunati anunciou pela imprensa sua licença do PDT. Bastante indignado com a falta de coesão da base aliada na votação desta segunda-feira (17), Fortunati sinalizou inclusive a saída do partido em definitivo ao final do mandato, em dezembro de 2016. Já a direção do PDT tratou de minimizar a ruptura. Pompeo de Mattos, presidente do partido no estado, disse que não vê Fortunati sem o PDT.
“Minha vida política foi marcada por decisões fortes. Acertadas ou não, sempre olhei para trás com orgulho de tudo que fiz pelo Estado e pela cidade e não me arrependo delas. A noite de ontem consolidou mais um destes momentos. Estou oficialmente me licenciando do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Afasto-me das estruturas partidárias, mas não de seus valores, movimentos sociais e militantes. Trata-se de um ato revestido de grande simbolismo para mim”, escreveu o prefeito ainda pela manhã em seu blog.
O anúncio pegou as lideranças do PDT e vereadores da sigla de surpresa. A maioria não foi encontrada pelo Sul21 ou não quis falar à reportagem. “Fico surpreso com a posição do prefeito. Ele como um democrata deveria saber que o Parlamento é soberano. Se o parlamento tiver que ser submisso ao executivo, não precisa ter um parlamento. Melhor fechar”, disse o vereador Dr. Thiago Duarte.
A decisão de José Fortunati tem relação direta com a derrubada de vetos em dois projetos apreciados na sessão plenária desta segunda-feira. Um deles trata da criação de 14 Áreas Especial de Interesse Social (Aeis) na Capital, proposta de autoria da vereadora Fernanda Melchionna e do ex-vereador, hoje deputado estadual, Pedro Ruas, ambos do Psol. O outro veto de Fortunati rejeitado diante das galerias lotadas foi o que mantém a obrigatoriedade do serviço de ar-condicionado nos ônibus. Fortunati disse que irá à Justiça derrubar a decisão da Câmara sobre o transporte coletivo e avaliou que as duas propostas são inconstitucionais.
“(…) Representamos a população”, rebate vereador do PDT
Os vetos de Fortunati a dois projetos em favor das comunidades e usuários do transporte público teve o apoio de apenas um vereador do seu partido, o ex-secretário da Copa, João Bosco Vaz. Além do Dr.Thiago, o vereador Delegado Cleiton (PDT) também votou contra o veto do executivo. Os vereadores Márcio Bins Ely e Nereu D’Avila (PDT) não votaram.
“Sou um defensor ferrenho da independência dos poderes, algo fundamental para a consolidação do Estado Democrático de Direito. Agora não posso admitir que exista em diversos parlamentares uma esquizofrenia política tamanha, na qual se é ao mesmo tempo governo e oposição, cruzando esta fronteira por mera conveniência pessoal”, afirmou Fortunati.
Na avaliação do vereador Dr. Thiago Duarte, os votos favoráveis a queda dos vetos do prefeito foram coerentes, uma vez que os textos já haviam sido aprovados pelos vereadores da Casa. “O projeto das AEIS é em favor da dignidade da pessoa humana com garantia de acesso a moradia e outro, pelo amor de Deus. Porto Alegre é uma cidade tropical, ar condicionado é o mínimo para uma qualidade de vida no transporte público. Se o prefeito quer licitação de ônibus este item pode ser incluído sem problema algum, a menos que a intenção dele não seja fazer de fato uma licitação. Nós representamos a população no Parlamento, temos que ser a favor dela”, criticou Duarte.
Também não votaram em favor do executivo os aliados Dinho do Grêmio (DEM), Lourdes Sprenger (PMDB), Séfora Mota (PRB), Waldir Canal (PRB) e Paulinho Motorista (PSB) . Abstiveram-se da votação os vereadores Reginaldo Pujol (DEM) e Guilherme Villela (PP), que também compõem a base governista.
Aliança de Fortunati: desgastada desde 2013
Eleito em 2012 com uma coalizão de nove partidos (PRB / PP / PDT / PTB / PMDB / PTN / PPS / DEM / PMN), o prefeito José Fortunati sempre se orgulhou da construção da ampla aliança ‘Com amor por Porto Alegre’. Ao longo do mandato, buscou outras siglas para compor o governo, como o PSB, do recém empossado diretor do DMAE, Elisandro Oliveira. Fez movimentos para aglutinar também o PSD, do ex-vereador Nelcir Tessaro, que esteve com Manuela D’Ávila no pleito de 2012. A falta de apoio de tais aliados é justamente a razão do atual descontentamento do prefeito.
Alguns quadros do PDT, que pressionaram pela saída do ex-secretário de Saúde, Carlos Casartelli, em fevereiro, podem ainda estar insatisfeitos com a distribuição dos cargos no governo. “Da parte do PDT, a direção afirma que não existe insatisfação. Agora, podem existir descontentamentos pontuais. É isso que vamos resolver esta semana e com a reunião de sexta”, admite o presidente da sigla, Pompeo de Mattos.
As relações internas serão azeitadas em reunião no diretório do PDT na próxima sexta-feira (20), sem a presença de José Fortunati. Os vereadores serão chamados a dar explicações sobre ‘a falha de articulação do PDT’ na Câmara. “Temos a responsabilidade maior pela unidade por sermos o partido do prefeito, mas não foi só o PDT que falhou. O PMDB também e o Sebastião Mello sairá por conta disso”, disse Pompeo de Mattos sobre o vice-prefeito.
“Não imagino Fortunati sem o PDT”, diz presidente da sigla no RS
Segundo Pompeo de Mattos, a direção pedetista entende as razões da angústia do prefeito neste momento, mas “não vejo o Fortunati sem o PDT”. Para o presidente do partido no Estado, “a postura dele (Fortunati) é compreensível, mas o diálogo deverá levar a um bom termo”.
À imprensa, Fortunati admitiu que o descontentamento com a postura da base na Câmara acontece há tempo e considerou a saída em definitivo da sigla. No entanto, afastou a possibilidade de estar conversando ou projetar futuras aproximações com outros partidos com vistas às eleições de 2016. “Meu compromisso é claro: governar Porto Alegre pelo próximo ano e nove meses ao lado da população e daqueles que realmente querem o melhor para a cidade, independente de bandeiras ou colorações partidárias”, defendeu.
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