'Sem maioria, Dilma terá que fazer negociata'
O senador eleito pelo DEM, Ronaldo Caiado (GO), disse, em entrevista a revista IstoÉ, que a oposição ganhou mais espaço nas últimas eleições e que a presidente reeleita Dilma Rousseff não possui mais a maioria necessária para aprovar os projetos de interese do Governo e será obrigada a fazer "uma grande negociata para aprovar qualquer coisa" junto ao Congresso Nacional; segundo o parlamentar, a presidente Dilma não tem legitimidade política para brigar com o Congresso em nome dos anseios da população
247 - O senador eleito pelo DEM, Ronaldo Caiado (GO), disse, em entrevista a revista IstoÉ, que a oposição ganhou mais espaço na súltimas eleições e que a presidente reeleita Dilma Rousseff terá que fazer "uma grande negociata para aprovar qualquer coisa" junto ao Congresso Nacional. Segundo o parlamentar, a presidente Dilma não tem legitimidade política para brigar com o Congresso em nome dos anseios da população.
"Vamos mostrar que Dilma não está fazendo a lição de casa e cortando as despesas. Ao mesmo tempo quer punir os brasileiros com impostos e decisões que dificultam o acesso aos benefícios trabalhistas", disparou. Segundo ele, diante do cenário político atual, a presidente Dilma não possui mais a maioria do parlamento e que ela será obrigada a "fazer uma grande negociata para conseguir qualquer coisa aqui".
O democrata disse, ainda, que os rumos dos debates sobre a possibilidade de um impeachment da presidente não "está sendo realmente discutida" pelo Congresso. Para ele, a "mobilização social é que vai ditar os rumos do debate".
Confira abaixo ou no link a entrevista com o senador Ronaldo Caiado.
ISTOÉ - Desde o início do segundo mandato, crescem os movimentos em defesa do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O sr. acha que o momento é adequado para a discussão?
RONALDO CAIADO - Esse assunto está em toda parte do País. Não há uma conversa de grupos ou redes sociais em que não se cogite a saída da presidente. O único lugar em que essa questão ainda não está sendo realmente discutida é no Congresso. Mas a mobilização social é que vai ditar os rumos do debate sobre o impeachment.
ISTOÉ - A insatisfação vai crescer ainda mais com o pacote de ajuste fiscal que o governo pretende enviar ao Congresso? Como o sr. acha que a Casa irá se posicionar?
RONALDO CAIADO - O clima político se deteriorou a uma proporção inimaginável. Acho que, desse pacote de maldades que o governo quer aprovar, pouca coisa vai passar pelo Parlamento. Nós da oposição vamos mostrar que Dilma não está fazendo a lição de casa e cortando as despesas. Ao mesmo tempo quer punir os brasileiros com impostos e decisões que dificultam o acesso aos benefícios trabalhistas. Entendo que a reação do Congresso deve ser intensa. Não vejo nem a base aliada disposta a esse desgaste.
ISTOÉ - O que mudou na relação entre governo e Congresso?
RONALDO CAIADO - Dilma não tem mais maioria. Precisa fazer uma grande negociata para conseguir qualquer coisa aqui. Isso está evidente para a população. Ao mesmo tempo, você tem uma população indignada porque não recebeu o que foi prometido e ainda precisa encarar um remédio mais amargo do que as piores previsões. Isso desqualifica a presidente. Ela colocou um banqueiro no Ministério da Fazenda, aumentou os juros, precisou admitir que a pobreza aumentou e reajustou a conta de luz, que prometeu baixar. Ou seja, ela fraudou os números e os dados para se eleger e a população já percebeu isso.
ISTOÉ - A oposição gostou da indicação de Joaquim Levy para a Fazenda? As ideias dele não são mais afinadas com as de vocês?
RONALDO CAIADO - Sim, mas o problema é que quando você me vende um carro novo, não pode entregar uma sucata. Não é correto. Ninguém pode usar de artifícios em uma eleição. Mentir, enganar e depois fazer justamente o que disse que os outros fariam. O PT criticou o FMI a vida inteira e agora escolheu gente que representa justamente o sistema financeiro. Se eu sou cirurgião, omito de um paciente os exames prévios e, depois, ele tem um problema, eu responderia por isso. Eu poderia ser preso, perder meu registro. O mesmo deveria acontecer com a presidente Dilma. Uma pessoa não pode fraudar os dados, se beneficiar dessa fraude e assumir o cargo de presidente da República normalmente.
ISTOÉ - Deveria ser responsabilizada?
RONALDO CAIADO - Ela não ganhou a eleição pelo simples fato de ser candidata. Ela ganhou porque vendeu um cenário, porque ameaçou que outros candidatos fariam tarifaços, tirariam a comida da mesa dos brasileiros e aumentariam o desemprego. Por vários momentos ela disse que a miséria estava em zero. O discurso era ufanista. Uma grande parte da sociedade que já foi base de sustentação das teses do governo populista do PT hoje percebe que está sendo guiada por uma presidente atabalhoada.
ISTOÉ - Nesse cenário, o sr. vê alguma chance de o ex-presidente Lula voltar em 2018?
RONALDO CAIADO - Por mais que eu seja otimista, não consigo ultrapassar a linha do otimismo para o ilusório, uma situação totalmente fictícia e virtual, como é a chance de ela fazer um bom trabalho nesse segundo mandato. Afinal, se você puxar para os dados reais do País percebe que é impossível. A ferramenta principal para você reestruturar a situação de um país é a credibilidade do governante. Esse é o principal predicado que um presidente precisa ter nesse contexto. E esse governo carece justamente de credibilidade. Isso faz com que ela não tenha nem apoio popular nem apoio político. Isso reflete nele também.
ISTOÉ - O caso Petrobras pode enterrar de vez essa possibilidade?
RONALDO CAIADO - Esse caso se alastra para todos os órgãos do governo, conforme já foi dito pelos delatores. Então, isso é um modus operandi: uma forma de administrar baseada na usurpação do bem público em beneficio de uma campanha ou de um partido. Isso parece uma provocação à sociedade.
ISTOÉ - Que sinais a saída de Graça Foster e da diretoria deu para a oposição?
RONALDO CAIADO - Foi um atestado de grave comprometimento da presidente Dilma com as práticas de corrupção que existiram na estatal. Graça foi mantida para apagar as digitais da presidente e saiu de forma tardia do cargo. No estatuto da Petrobras está dito que os membros do conselho diretor possuem responsabilidade sobre as decisões. Isso leva Dilma ao contexto e acho que tanto o Ministério Público como a Polícia Federal já possuem mais dados sobre isso. Além disso, a investigação oficial não exclui a responsabilidade do Legislativo com essa nova CPI.
ISTOÉ - A possibilidade de mais de 50 parlamentares estarem envolvidos na Operação Lava Jato está trazendo quais efeitos aos trabalhos do Legislativo?
RONALDO CAIADO - Muitos e nenhum benéfico. Mas agora é hora de esperar a lista oficial com as denúncias dos envolvidos. A partir daí, analisar o rumo dos trabalhos. Será difícil, desgastante, e acho que deve haver uma paralisia dos trabalhos do Legislativo para dar atenção a esse caso.
ISTOÉ - Na semana passada, o sr. apresentou um mandado de segurança pedindo a dissolução da Mesa Diretora do Senado. Há uma insatisfação na Casa que vai além da distribuição dos cargos da Mesa?
RONALDO CAIADO - Pedimos que o Supremo se pronuncie porque o presidente Renan Calheiros fez uma composição de acordo com o apoio que recebeu, desrespeitando as minorias. Já houve decisões do STF sobre esse tipo de conduta. Em todas elas os direitos e a proporcionalidade foram estabelecidos. A eleição de Renan desestabilizou o Senado e paralisou a Casa. Tanto que não votamos nada relevante, enquanto na Câmara eles avançam em propostas importantes. O Senado está paralisado por problemas pessoais e porque tem um presidente (Renan Calheiros) enclausurado e sem capacidade de diálogo.
ISTOÉ - Desde que o PT chegou ao poder, a oposição sempre atuou de forma acanhada. Os próximos anos serão diferentes?
RONALDO CAIADO - Quando existe uma alternância de poder, o novo eleito chega com condições e credibilidade. Mas quando a população começa a sentir o resultado do atual governo, a sociedade começa a reagir. Você agora tem uma oposição que passa a ser vocalizada por milhões de pessoas que entenderam o que está acontecendo. Aí está a diferença. Antes, éramos vozes isoladas. Agora, fazemos um alerta em um discurso e ele é repercutido. Isso dissemina as ideias.
ISTOÉ - Quais os efeitos do fatiamento de ministérios para abrigar os partidos políticos aliados?
RONALDO CAIADO - O governo personalista leva o Estado a óbito. Os brasileiros deveriam saber o nome dos 39 ministros. Mas não é isso que acontece. São pessoas desconhecidas. Se uma delas tiver uma crise de hipotonia e cair pelos corredores, vai demorar dois dias para ser identificada. Ninguém sabe quem são. Essas pastas servem apenas para abrigar alguém do partido, para garantir uma bancada e para ser também a fonte financiadora. Onde está o interesse da sociedade nisso?
ISTOÉ - Como fazer esse cenário negativo sobre a realidade do governo chegar aos apoiadores de Dilma Rousseff nas regiões mais pobres do país e dependentes dos programas sociais? Não seria essa a grande dificuldade da oposição?
RONALDO CAIADO - Tenho uma longa trajetória na oposição. O que noto hoje é que antes, quando uma pessoa fazia uma critica forte ao Lula, podia ser vaiada ou, se fosse muito respeitada pela plateia, um silêncio se instalava. Hoje, o cenário é muito diferente. As pessoas são capazes de reconhecer que foram anestesiadas esses anos todos. O cidadão que comprou o carro, que fez o crédito consignado, que contraiu dívidas, agora está ansioso porque percebeu que há instabilidade. Percebeu que, enquanto os créditos eram distribuídos, o PT quebrava fundos de pensão, se apropriava de estatais. Isso vai ser corrigido como? Á custa do bolso do cidadão. Não tem outra saída.
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