Um é bom, dois é melhor. As vantagens de se viver como casal
Em uma era cada vez mais individualista, viver juntos está se tornando cada vez mais difícil. Mas a vida a dois é mais benéfica em muitos aspectos.
Por Pascale Senk
Há alguns anos, na França, uma pesquisa do Insee (1) causou um rebuliço. De fato, foi relatado que aqueles que vivem como casal eram mais propensos a viver mais tempo e em boas condições de saúde que os solteiros Para os parceiros entre 40 e 50 anos de idade, a vida a dois provou ser quase «mágica», e a taxa de mortalidade de duas a três vezes menos elevada que para os solteiros.
Essas informações, num contexto nacional onde a taxa de casamentos está diminuindo constantemente, onde 40 a 45% deles acabam em divórcio (normalmente no final de doze anos de vida em comum), eram uma boa notícia para os «pro-casais». Isto se deveu a uma campanha promocional voltada à escolha de um modelo de vida cada vez mais frágil!
Mas a verdade é que viver a dois não afasta somente uma porção de doenças. Protege da precariedade, do isolamento social, de alguns comportamentos de risco… E psicologicamente falando, a fórmula continua muito eficiente em termos de transformação de cada um, como observou, ao longo de sua carreira, o sociólogo Jean-Claude Kaufmann. «Ela me puxa para cima », foi o que disse uma testemunha da série Infrarouge recentemente apresentada no canal France 2 (2), sobre sua companheira de “longo prazo”, um belo modo de resumir a estimulação ou o progresso pessoal possibilitado pela vida em comum (embora no caso de violências conjugais ou de relações ruins, esta intensidade tem, infelizmente, muitos efeitos no sentido destrutivo…).
A melhor terapia que existe
Geralmente protetor e formidável, atua o casal como um apoio mútuo? ”Em uma época em que os laços tradicionais de solidariedade - a família ampliada, a comunidade... - desmorona, a crise ocorre aos poucos. O casal é certamente uma célula econômica que aparece como um refúgio” admite a socióloga Bernadette Bawin-Legros, que acaba de publicar com a psicoterapeuta Hannelore Schrod, Le Couple rythmé par ses crises (O casal pontuado por suas crises) (3). «No entanto, esta contribuição é secundária em relação ao aspecto narcisista.» De fato, por meio de seu parceiro ou sua parceira, os projetos que realizam em conjunto, a educação que dão aos seus filhos, a decoração de seu lar, cada um pode realmente dizer algo, realmente profundo sobre sua personalidade… «O casal continua sendo um dos últimos lugares onde é possível desvendar e entregar seu lado mais íntimo » resume a socióloga. Enquanto a pressão econômica se intensifica, a liberdade de expressão de cada um, especialmente na vida profissional, fica limitada,o espaço conjugal poderia paradoxalmente representar um dos últimos lugares de emancipação, o que não deixa de ser um verdadeiro paradoxo para aqueles que têm medo de se envolver!
Outra contribuição da vida como casal: «É um lugar de produção emocional privilegiado », disse Hannelore Schrod, que chega ao ponto de qualificá-lo de «melhor terapia que existe. Viver junto é o ato mais criativo que podemos pedir na vida, pois a partir dele é possível desencadear a estruturação individual de cada membro do casal.»
Muitos terapeutas familiares consideram que casais não são constituídos somente por duas pessoas. Simbolicamente, cada um de nós chega à vida conjugal carregando os mitos herdados de seus próprios pais ou aqueles provenientes de uniões anteriores … E então, um novo mito tem que ser inventado. «Até então, quando nos uníamos ao outro, trazíamos inconscientemente os valores herdados de mitos familiares antigos, observa Hannelore Schrod. A ideia que devemos ficar juntos, solidários, assumir a segurança da família, ajudar-se mutuamente… Mas hoje, para o casal contemporâneo, é como se devêssemos nos ajudar mutuamente para poder florescer!»
Um laboratório excepcional
Viver a dois possibilita uma iniciação sexual de longo prazo. «Anteriormente, esta dimensão era bastante secundária, lembra Bernadette Bawin-Legros. Mas, desde a liberação sexual da década de 1970, ela ocupa um lugar de destaque.» Viver a dois pressupõe que encontramos a satisfação sexual e que esta última se tornou, com o sentimento amoroso, o “cimento” dessa união.
Finalmente, talvez menos atraente para os refratários à fidelidade ou para os fanáticos da fusão, o casal permanece um lugar excepcional de experiência e de aprendizado da diferença do outro. «É uma escola superior de compromisso psicológico e sexual », resume Bernadette Bawin-Legros, acrescentando que «esta última substituiu provavelmente os compromissos políticos do passado ». Mesmo assim, é preciso que os alunos continuem a se inscrever.
(1) «Les personnes en couple vivent plus longtemps» (As pessoas que vivem como casal vivem mais tempo), Instituto nacional de estatísticas e estudos econômicos (Insee), agosto de 2007.
(2) «L'Envie conjugale» (A vontade conjugal), escrito por Thierry Demaizière, Alban Teurlai e Carole Griggy, lançado em 17de março de 2015.
(3) Bernadette Bawin-Legros e Hannelore Schrod, «Le Couple rythmé par ses crises. Un regard croisé entre une sociologue et une thérapeute de famille» (O Casal pontuado por suas crises. Um olhar cruzado entre uma socióloga e uma terapeuta de família). Ed. L'Harmattan.
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