TV 247 logo
    HOME > Ideias

    Max Lesnik, o homem das duas Havanas

    No final da década de 1970, Lesnik desempenhou um papel fundamental no estabelecimento do diálogo entre a comunidade cubana nos EUA e o governo de Havana

    Max Lesnik (Foto: Prensa Latina )

    Por Salim Lamrani (*) - Max Lesnik Menéndez, jornalista e figura influente na história do exílio cubano, nasceu em 1930 em Vueltas, uma pequena cidade de Cuba. Filho de um judeu polonês que fugiu da perseguição antissemita e de uma mãe cubana, envolveu-se desde cedo no ativismo político. Aos 15 anos, ingressou no Partido Ortodoxo, movimento liderado por Eduardo Chibás e dedicado à luta contra a corrupção governamental. Na década de 1950, tornou-se secretário nacional da Juventude Ortodoxa, ganhando notoriedade no cenário político cubano.

    Na Universidade de Havana, Max Lesnik conheceu Fidel Castro, com quem compartilhava os ideais do Partido Ortodoxo. A amizade entre os dois se fortaleceu em um contexto de efervescência política, marcado pela mobilização estudantil contra a corrupção e a violência. Ele participou da criação do “Comitê 30 de Setembro contra o Gangsterismo”, no qual Fidel Castro, apesar das ameaças de morte, denunciou publicamente os funcionários corruptos.

    Durante a ditadura de Fulgencio Batista, Max Lesnik juntou-se à Segunda Frente do Escambray, liderada por Eloy Gutiérrez Menoyo, dedicando-se à propaganda e à mobilização política. Após o triunfo da Revolução Cubana, em 1º de janeiro de 1959, tornou-se o primeiro dirigente revolucionário a discursar na televisão cubana. No entanto, apesar de seu apoio inicial ao novo governo, logo manifestou suas divergências diante da crescente influência dos comunistas e da aliança com a União Soviética. Defendia uma soberania cubana plena, livre de qualquer dependência, seja de Washington ou de Moscou.

    Em 1961, devido à sua postura crítica em relação ao processo revolucionário, Max Lesnik exilou-se nos Estados Unidos. Ao saber da notícia, Fidel Castro tentou convencê-lo a retornar a Cuba por meio de um amigo em comum, Alfredo Guevara, mas sem sucesso. Diferentemente de muitos exilados cubanos, no entanto, recusou-se a se aliar aos setores mais reacionários ou a aceitar o apoio da CIA. Durante a invasão da Baía dos Porcos, denunciou publicamente a intervenção dos EUA em seu programa de rádio, o que lhe rendeu ameaças e até um ataque de extremistas de Miami ao seu estúdio.

    Em meados da década de 1960, fundou o jornal Réplica, que mais tarde se tornou uma influente revista com tiragem de 100.000 exemplares. Em suas páginas, defendia o diálogo entre Cuba e a comunidade de exilados, uma posição que lhe rendeu a inimizade dos grupos radicais anti-Castro. Entre 1979 e 1990, foi alvo de um total de onze atentados a bomba, o que acabou forçando o fechamento da revista devido à pressão sobre seus patrocinadores.

    No final da década de 1970, Max Lesnik desempenhou um papel fundamental no estabelecimento do diálogo entre a comunidade cubana nos Estados Unidos e o governo de Havana. Em 1978, após 17 anos, retornou a Cuba e reencontrou seu velho amigo de universidade, Fidel Castro. Também teve um papel importante na aproximação entre a Igreja Católica e o governo cubano, contribuindo para a histórica visita do Papa João Paulo II em 1998.

    Apesar da hostilidade de certos setores em Miami, Max Lesnik jamais deixou de defender sua visão de reconciliação entre os cubanos da ilha e os do exílio. Sua vida foi marcada por uma luta incansável contra as sanções econômicas dos EUA e pela defesa do direito soberano do povo cubano de decidir seu próprio destino.

    Max Lesnik, apelidado de "o homem das duas Havanas", faleceu em 8 de março de 2025, aos 94 anos. Ao longo de sua vida, demonstrou um compromisso inabalável com a liberdade de pensamento e com a busca por uma solução pacífica e soberana para seu país.

    (*) Salim Lamrani tem doutorado em Estudos Ibéricos e Latino-Americanos pela Universidade de Sorbonne e é professor de História da América Latina na Universidade de La Réunion, especializando-se nas relações entre Cuba e os Estados Unidos.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: