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    Noam Chomsky: 'tentativa de golpe no Brasil foi mais organizada que nos EUA'

    Golpistas chegaram 'perto de atingir seus objetivos', disse o filósofo, que também falou de política externa e do Meio Ambiente: ou contém desmatamento ou 'será o fim do Brasil'

    Ataque ao Capitólio, nos EUA (quadrado, em cima), invasões à Praça dos Três Poderes, em Brasília, e o filósofo Noam Chomsky (Foto: Reuters)
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    247 - Um dos maiores intelectuais da atualidade, o linguista e filósofo norte-americano, Noam Chomsky, 94 anos, afirmou que a tentativa de promover um golpe de estado no Brasil, no dia 8 de janeiro, foi mais organizada e planejada que os acontecimentos no Capitólio, em 2021. As declarações foram publicadas nesta quarta-feira (8) pela coluna de Jamil Chade

    "No caso do Brasil, foi algo muito melhor organizado, planejado. O esforço era para criar um caos suficiente que fosse declarada uma lei parcial por parte do Exército e iriam caminhar para algo parecido à ditadura militar de 1964. Algo que Bolsonaro elogiou enquanto esteve no poder. Passaram muito perto de conseguir atingir seus objetivos", disse ele, que também é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofia no MIT e professor do Programa de Meio Ambiente e Justiça Social na Universidade do estado do Arizona (EUA).

    Em 8 de janeiro de 2022, apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto. Em janeiro de 2021, apoiadores do então presidente norte-americano, Donald Trump, invadiram o Capitólio, onde fica o Senado e a Câmara nos EUA. Trump e Bolsonaro acusaram os sistemas eleitorais dos dois países de serem fraudulentos. 

    De acordo com o analista Noam Chomsky, "se Trump tivesse tido êxito no que ele estava tentando fazer nos últimos dias de seu governo, que era mudar a cúpula militar por pessoas leais, e se Mike Pence tivesse tomado outras decisões, o golpe poderia ter tido sucesso. E, definitivamente, foi um golpe".

    "Houve uma diferença. No Brasil, ao contrário do que ocorreu nos EUA, a classe política inteira condenou e se opôs. Não foi o que ocorreu nos EUA. Nas eleições legislativas, temos negacionistas eleitorais nos republicanos e que hoje de certa forma controlam a Câmara. No Brasil, isso não ocorreu. O governo agiu de forma rápida e teve a participação de uma ampla gama de líderes da sociedade", acrescentou.

    Lula e as relações externas

    Na avaliação do estudioso, os "sinais apontam que Lula pode reconstruir o que de fato conseguiu em seu primeiro governo, quando o Brasil passou a ser um ator importante nos assuntos mundiais". "Isso tudo foi perdido com Bolsonaro. Mas passou a ser um dos países mais respeitados do mundo e, com Celso Amorim, o Brasil teve um papel muito importante e uma voz do Sul Global. Lula está tentando reconstruir isso e pode ser muito importante. A relação com os EUA será central nesse projeto, dado o poder dos EUA e sua influência".

    Questionado sobre quais são os maiores desafios para Lula no Brasil, oi norte-americano disse que é "o mesmo desafio que a centro-esquerda sofre em outros locais, como Colômbia, Chile e Argentina".

    Comparação: Ásia e América Latina

    De acordo com o filósofo, "na América Latina, há um problema profundo: os ricos não têm qualquer compromisso com a sociedade". "Isso é algo radicalmente diferente do que ocorre no Sudeste asiático. A América Latina tem muitas vantagens que os asiáticos não têm. Recursos materiais e intelectuais, sem inimigos. Tem tudo para que o milagre econômico que aconteceu na Ásia pudesse acontecer. Mas não ocorreu", continuou.

    "No Sudeste Asiático, as elites têm controles, há controles de capitais, não compram casas na riviera. Não importam luxo. Importam bens de capital. Seguem os planos do governo para investimentos e funcionou. Na América Latina, é uma sociedade desigual, com concentração de poder e riqueza. São opostos a acontecimentos dos programas de centro-esquerda. O mesmo acontece com investidores internacionais. Sempre que Lula fala que vai fazer algo pelos pobres, a bolsa cai, o real sobe. Eles preferem Guedes. Privatizar e entregar o país. E isso não é só no Brasil. Vemos isso na Colômbia e Chile. É um problema que a América Latina precisa superar".

    Meio Ambiente: 'ação ou fim do Brasil'

    O analista não deixou de citar as pautas ambientais para o Brasil ter mais protagonismo no mundo. "O mais central é a questão se ele e Marina Silva conseguem reverter a destruição da Amazônia? Se isso não acontecer, é o fim para o Brasil", alertou.

    Segundo o estudioso, "a destruição da Amazônia que estava acontecendo no governo Bolsonaro já começa a ter um efeito em transformar partes em savana". "Se continuar, teria um dano extraordinário ao Brasil e para o mundo. Isso precisa ser revertido. Escolher Marina é bom passo. Mas não será simples. O agronegócio e o garimpo, vão se opor".

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