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    Governo Bolsonaro vai distribuir alimentos de baixo valor nutricional a comunidades indígenas

    Governo não ouviu necessidades dos povos tradicionais e enviará cestas sem produtos in natura

    Organizações indígenas afirmam que não foram consultadas sobre os itens que deveriam ser distribuídos (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    Rede Brasil Atual - O governo Bolsonaro, por meio do Ministério da Cidadania, irá distribuir mais de um milhão de cestas de alimentos a comunidades indígenas. O problema é que os itens escolhidos possuem baixo valor nutricional e não condizem com a realidade e necessidades dos mais de 300 povos indígenas brasileiros.

    O ministério aponta que a escolha dos alimentos foi feita pela Fundação Nacional do Índio (Funai) junto às coordenações regionais. No entanto, os itens selecionados não condizem com a realidade da alimentação das comunidades indígenas.

    É o que aponta Aline Ferreira, professora de nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante do grupo de trabalho sobre saúde indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

    “Do ponto de vista nutricional, tirando o arroz e feijão, os itens possuem um baixo índice. Além disso, há pouca diversidade de alimentos e sem respeitar as particularidades culturais desses povos. São mais de 300 grupos étnicos, com características diferentes, e não há nada para suprir as necessidades de cada um”, explicou a especialista à repórter Júlia Pereira, da Rádio Brasil Atual.

    Outros interesses

    A distribuição das cestas atende à decisão do Supremo Tribunal Federal, que, cobra respostas do governo aos impactos da pandemia sobre os povos indígenas. No entanto, chegam com atraso, já que a ação foi ajuizada em julho de 2020.

    Além da demora, organizações indígenas afirmam que não foram consultadas sobre os itens que deveriam ou não ser distribuídos, mas a nutricionista não acredita que esse seja o único motivo que levou à composição da cesta por alimentos não condizentes com a realidade das comunidades.

    “Existe uma falta de diálogo, mas a sensação que tenho, olhando para essa cesta, é que há um privilégio da indústria alimentícia, sem alimentos in natura. Então, há outros interesses por trás dessa distribuição do governo federal”.

    Rosquinha de coco, açúcar e café moído estão nas cestas básicas que o governo federal adquiriu por R$ 173 milhões e que vai distribuir para 233 mil famílias indígenas de todo o país durante seis meses. Não há proteína de origem animal como o charque, por exemplo, que já apareceu em outras cestas distribuídas a indígenas em anos anteriores por governos estaduais e pela própria União.

    A professora de nutrição da UFRJ aponta, ainda, que os impactos dessas cestas podem ir desde ao descarte dos produtos até ao aumento das chances de problemas de saúde pelo consumo de alimentos industrializados e ricos em carboidratos.

    “Há locais que não consomem alguns alimentos, porque não tem nem como consumir na rotina de alguns povos. Uma cesta não adequada nutricionalmente, rica em carboidratos e açúcar, aumenta a chance de problemas de saúde, como hipertensão e diabetes”.

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