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    "Temos que criar uma UTI climática", diz Marina. Ministra entrega a Lula nos próximos dias um plano de prevenção de desastres

    "É uma tentativa de fazer um deslocamento da necessária abordagem de gestão do desastre para a gestão do risco", explica a ministra do Meio Ambiente

    Marina Silva (Foto: Reuters/Adriano Machado)

    247 - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou ao jornal O Globo que trabalha em um plano de prevenção de acidentes climáticos a ser entregue nos próximos dias ao presidente Lula (PT). "É uma tentativa de fazer um deslocamento da necessária abordagem de gestão do desastre para a gestão do risco. Nós não temos um similar (no mundo). A chuva vai acontecer do mesmo jeito, a seca vai acontecer do mesmo jeito, porque não se fez o trabalho preventivo a partir da Rio-92. Não só o Brasil, mas o mundo inteiro. O plano tem a característica de preparação e adaptação. Não é um plano de curto prazo. É um plano de médio e longo prazos. É um plano que já está em andamento, mas passa a ter uma estrutura".

    A ministra também foi questionada sobre os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul na percepção da sociedade sobre a urgência climática: "acho que é um sinal de reconhecer e aceitar esse fato, porque a pior coisa que tem é não ter consciência do risco. A outra é ter uma sociedade mobilizada para exigir de governos e empresas fazerem o dever de casa. Sem falar na outra parte, que é, digamos, lenta, porque não vemos a seca correndo atrás das pessoas, mas ela vai igualmente prejudicar as safras inteiras e vai igualmente prejudicar as possibilidades de renda de muita gente. É até difícil falarmos com essa força toda, porque antigamente quem falava assim era chamado de ecoterrorista. Agora, a natureza nos colocou num lugar de realistas. Só os negacionistas não vão atentar para o que está acontecendo. Temos que criar uma UTI climática".

    Ainda sobre o plano desenhado pelo ministério, Marina detalhou: "queremos reduzir ao máximo a perda de vidas, danos materiais. Que possamos ser o máximo previdente. Temos alguns municípios que, sem dúvida, estão numa UTI climática. Temos que olhar para essa UTI climática sem que seja só o trabalho dos intensivistas na hora que as coisas estão acontecendo. Do ano passado para cá, no Rio Grande do Sul teve uma mudança de comportamento. Se considerarmos que tivemos mais de 40 mil salvamentos e se essas pessoas não tivessem sido salvas, que realidade nós poderíamos ter? Se muitas pessoas não tivessem saído das áreas antecipadamente, que realidade nós teríamos? O estado está praticamente todo embaixo d'água".

    Marina explicou que sua equipe esbarra em "abordagens legais" para estruturar o plano. "Nós não temos o estatuto jurídico da emergência climática. Temos debatido com outros ministérios. No meu entendimento, seria reconhecer que existe emergência climática em situação permanente. A calamidade tem um prazo de duração. Será um processo continuado de ações. Em muitos municípios, vai ter que convencer que uma parte dos recursos deve ser direcionada para fazer a limpeza do rio e que parte da população tem que sair daquele bairro".

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