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    Caso Samuel Klein: Folha cancelou publicação do escândalo de crimes sexuais na última hora

    Ombudsman revela que a Folha tinha parceria para reproduzir a investigação da Agência Pública sobre o esquema de crimes sexuais com crianças e adolescentes comandado por quase 20 anos pelo fundador da Casas Bahia, mas cancelou. Mídia silencia sobre os crimes

    Samuel Klein (Foto: Reprodução)

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    247 - Provavelmente o maior escândalo de crimes sexuais comandado por um empresário brasileiro de que se tenha conhecimento é mantido em segredo pelos principais veículos da imprensa do País, incluindo emissoras de televisão, portais e jornais impressos. 

    Uma extensa investigação da Agência Pública, que levou quatro meses para ser concluída, revelou no dia 15 de abril que o fundador da Casas Bahia, Samuel Klein, já falecido, comandou durante ao menos duas décadas um grande sistema de práticas de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, dentro da sede da empresa e em suas residências.

    A história foi reproduzida no mesmo dia pelo Brasil 247 e por alguns outros portais, como Revista Fórum, El País, revistas Marie Claire e Claudia, mas não ganhou uma linha - ou um minuto, no caso da televisão - nos veículos de maior alcance nacional, como Globo, Folha de S.Paulo ou Estado de S.Paulo.

    Neste domingo (25), a ombudsman da Folha, Flávia Lima, falou sobre o assunto em sua coluna, destacando a ausência do tema nos jornais e revelando que a Folha chegou a fazer um acordo com a Agência Pública para a publicação do caso (em uma versão resumida), mas que o trato foi desfeito de última hora.

    Diretor, editor e repórter da Agência Pública, Thiago Domenici contou à jornalista que “a Pública estava com a publicação acertada com a Folha —uma versão reduzida que sairia na semana passada. Ao final, receberam a notícia de que o texto não seria publicado sob a alegação de que foi uma decisão editorial. ‘Ficamos sem entender’”.

    “Há mais coisas incompreensíveis. Casos como esse parecem envolver engrenagens que operam por anos sem que seus responsáveis sejam incomodados —nem pela polícia nem pela imprensa. O suposto esquema de exploração sexual descortinado pela Pública corria em paralelo, muitas vezes dependente do negócio principal. É estranho que caso tão bem apurado só apareça na Folha em artigos de opinião, ou seja, não exista em forma de notícia. Republicar a íntegra de um caso como esse pode ser uma escolha. Incluí-lo na cobertura noticiosa é uma obrigação”, critica a ombudsman.

    Samuel Klein recebia carros cheios de meninas para estuprar na sede da empresa

    Nos fundos da sala do fundador e presidente da Casas Bahia, Samuel Klein, havia um quarto anexo com uma cama hospitalar. Era ali que ele levava com frequência crianças e adolescentes para praticar estupros, dentro da própria da sede da empresa, em São Caetano do Sul (SP). As denúncias foram publicadas na última quinta-feira (15) pela Agência Pública, que fez um extenso trabalho de investigação sobre o caso, ouvindo dezenas de vítimas, que trouxeram relatos de embrulhar o estômago.

    As denúncias indicam que o empresário conhecido em todo o Brasil como um exemplo de empreendedorismo e filantropia sustentou um enorme esquema de estupro de crianças dentro da empresa e de ao menos cinco de suas residências. Eram palco dos crimes sexuais apartamentos no edifício Universo Palace, em Santos (SP), e na Ilha Porchat, em São Vicente (SP). Também as casas de veraneio em Guarujá (SP) e em Angra dos Reis, além de seu imóvel no condomínio de Alphaville, em Barueri (SP).

    Durante pelo menos duas décadas, o senhor cuja fama era de ser bondoso atraía meninas muito jovens oferecendo dinheiro, retirada de produtos nas lojas e cestas básicas em troca de sexo. Pagamentos em quantias maiores eram feitos através dos caixas das filiais das Casas Bahia, denúncia que já havia vindo à tona quando foi revelado o escândalo similar envolvendo um dos filhos, Saul Klein.

    “De origem socioeconômica vulnerável, as adolescentes geralmente ficavam sabendo por outras meninas que o empresário dava dinheiro e outros presentes, como cestas básicas, produtos da Casas Bahia, carros e até apartamentos para mulheres e menores de idade que fossem se encontrar com ele”, revela a reportagem. Uma das mulheres a dar entrevista revela ter sido abusada por Samuel Klein quando tinha apenas nove anos.

    Diversos relatos obtidos pela reportagem apontam que taxistas, motoristas e as próprias mulheres também faziam parte da engrenagem de exploração sexual sistemática de adolescentes pelo fundador das Casas Bahia. Muitas mulheres relatam que ele tinha preferência por virgens e havia um estímulo financeiro para quem as trouxesse. “Quando ele perdia o interesse, a gente levava uma menina mais nova pra encantar mais ele, entendeu? Ele dava mais dinheiro pra gente, poderia pegar mais coisa: um armário, uma TV. Aí a gente estourava”, afirma Karina Carvalhal. “Eu, com 15, levei a minha irmã porque ele perdeu o interesse em mim… Aí ele me dava de tudo”, confirma a irmã de Karina, Vanessa.

    Em outro trecho da reportagem, outra vítima, chamada pelo nome fictício de Cláudia, relata que frequentou as várias residências de Samuel por três anos. Esteve nas casas de Alphaville, Santos e Angra dos Reis, e conta que os encontros aconteciam sempre com várias mulheres adultas e com a presença de adolescentes. “Todas as casas dele tinham espécie de kits prontos para esses encontros sexuais, como gel lubrificante ao lado da cama. Muitas usavam preservativo feminino escondido porque ele não gostava.” 

    ‘Fernanda’, outra mulher que frequentou a casa do empresário em Alphaville, na mesma época, entre 2008 e 2009, confirma que era obrigatório o sexo vaginal sem preservativos. “A ajudante passava lubrificante antes e dizia que matava tudo”, lembra. Para ela, chamava atenção a quantidade de garotas levadas para a casa do empresário no condomínio luxuoso. “Era no mínimo dois carros por dia. Em um dos dias que estive lá, quando eu e um grupo de meninas estávamos indo embora, vimos que a Káthia já havia chegado de Santos com outro carro cheio de meninas. Então eram dois, três carros por dia.” 

    Como ela e todas as entrevistadas sustentam, Samuel preferia meninas menores de 18 anos. “O que ele gostava era de desvirginar mocinhas. Quando ele pegava uma menininha menor, mocinha, que era virgenzinha mesmo, nossa, ele enlouquecia. Dava carro pra família, fazia qualquer coisa”, conta.

    Em resposta à Pública, a Via Varejo, empresa que controla a marca Casas Bahia, esclareceu que a família Klein nunca exerceu qualquer papel de controle na holding constituída em 2011 para gerir as marcas Casas Bahia, Pontofrio, Extra.com.br e Bartira. A família Klein lamentou que o patriarca não esteja vivo para se defender das acusações mencionadas. Sobre dois processos em andamento, a família disse que eles correm em segredo de Justiça e que as decisões serão acatadas.

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