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    Danuza é emblema da crise estrutural da mídia

    Demissão da colunista de elite da Folha de S. Paulo vem acompanhada de dezenas de cortes no jornal da Barão de Limeira; Editora Abril pronta para iniciar processo de enxugamento de até 10% de seu pessoal; Estadão, onde o também demitido Nelson Motta acusou internautas de "relincharem", definha em praça pública; Valor, joint venture Folha-Globo, diminui redação; com monopólio no Rio, família Marinho preserva as Organizações Globo, mas não se sabe até quando

    Danuza é emblema da crise estrutural da mídia
    Felipe L. Goncalves avatar
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    247 – As torres de papel da mídia tradicional estão caindo. Uma a uma. A informação livre em circulação pela internet, mídia que todos os números e pesquisas apontam como a de maior e mais rápida ascensão entre o público brasileiro, fustiga os alicerces nada sólidos daquela que já foi chamada "grande imprensa". Os custos de operação, as dificuldades logísticas e a falta de visão de presente e futuro dos líderes de negócios dos jornais e revistas – obnubilada na fixação pelo passado -- formam o conjunto responsável pela debacle. Um processo acelerado pela miopia ideológica da famílias detentoras aplicada às linhas editoriais de cada veículo, todas elas convergentes a um conservadorismo pulverizado em praticamente todas as seções jornalísticas – Política, Economia, Cidades, Esportes etc. Um atraso que quebra a sincronia das rotativas com a visão de mundo mais ampla e plural do leitor atual. Um fracasso contratado.

    A demissão da colunista de elite Danuza Leão, da Folha, revelada nesta quinta-feira 6, é emblemática da situação de crise estrutural da mídia de papel. Em seus livros, Danuza sempre se apresentou como uma socialite cheia de bons conselhos a dar, mas, pouco a pouco, em seu espaço no diário da família Frias, foi empunhando a pá ideológica que cavuca o fosso sempre profundo que separa ricos de pobres, emergentes de quatrocentões. Foi perdendo, a cada golpe, atratividade de leitura, acumulando adversários entre os leitores, diminuindo, assim, pelas opiniões isoladas do resto do mundo, sua razão de estar ali, tratada a pão-de-ló por 12 anos. Não precisava, neste sentido, a colunista ter troçado dos leitores, reclamando da democratização das viagens pelo exterior, de modo a lamentavelmente ser possível encontrar o porteiro de seu próprio prédio em lazer em Paris (aqui)!

    DESCOLAMENTO DO PÚBLICO - Danuza, no entanto, não é a única a padecer neste momento. Entre jornalistas, comenta-se que ela apenas entrou no corte de cerca de 40 profissionais promovido pela Folha ao longo desta semana. Um "passaralho", como se diz na categoria profissional, que vai sendo baixando aos poucos, já há alguns meses, na redação do concorrente Estadão. Ali, um famoso colunista que rodou foi o crítico musical Nelson Motta. O mesmo fenômeno de descolamento em relação ao público ocorreu com ele.

    Ao longo de sua história de quase 50 anos em torno da música e do entretenimento, Nelsinho, como é chamado, construiu uma imagem de simpatia. Bastou, porém, ter seu próprio espaço emoldurado num jornal conservador, para se deixar contaminar pelo entorno. Ao comentar os posts de leitores de 247, onde a expressão é livre e aberta, de modo a que cada posição seja conhecida e, nessa medida, respeitada e discutida, Nelsinho registrou que só ouvia "relinchos". Foi escorraçado nas mídias sociais (aqui). Sem escalas, trocou uma posição de queridinho por tantos para a de ridicularizado por muitos mais. Dançou.

    HORA DA ABRIL - Na maior editora de revistas da América Latina, a situação promete ser ainda mais dramática. Reconhecia-se entre a diretoria, meses antes da morte do presidente Roberto Civita, a necessidade de promover mudanças internas que produzissem uma economia de até R$ 100 milhões anuais em custos. Civita, ciente da imagem de superioridade que a Abril sempre prezou, barrou até o final as propostas de profundos cortes de pessoal que pousaram em sua mesa. Agora, porém, sob a direção de seu filho Giancarlo, o prognóstico entre os profissionais da empresa é que se inicie uma verdadeira Noite de São Bartolomeu, na qual até 10% dos mais de nove mil funcionários da organização poderão ser degolados. Com 52 revistas em seu portfolio atual, habitando um prédio com mordomias como piscina que lhe custa estimados US$ 1 milhão mês, a Abril só encontra lucro em uma ou outra operação, jamais em todas. É provável, assim, que títulos desapareçam. No carro-chefe Veja, cuja redação quintuplicou de tamanho nos últimos quinze anos, sem que o mesmo acréscimo tivesse se dado em seu conteúdo jornalístico, ao contrário -- há cada vez menos notícia, cada vez mais editorialização --, as aparências devem ser mantidas. Isso, entretanto, ainda é incerto.

    Na mídia especializada, como o jornal Valor Econômico, a crise estrutural também já se achega. Produzir a partir do zero, todos os dias, redigir, editar, diagramar, imprimir e distribuir um jornal custa muito caro, até mesmo para um veículo que, na prática, detém o monopólio da publicidade legal no País. Quando a coluna do lucro começa a ter números encolhidos, a alternativa empresarial é, salvo raríssimas exceções, enxugar a folha de pagamentos. É o que está acontecendo lá, onde vagas estão sendo congeladas e vínculos empregatícios formais vão sendo substituídos por mão de obra sazonal.

    Barbeiragens empresariais se somam ao grave momento da mídia tradicional. Na Record que tirava quadros da Globo a preço de ouro e bateu a emissora dos Marinho na cara disputa pelas Olimpíadas de Londres, a conta chegou na forma de 400 demissões apenas esta semana.

    INTERNET QUEBRA RECORDES - Enquanto isso, a audiência na internet quebra recordes dia a dia, provocando uma saudável disseminação de informações por meio de jornais, revistas, tevês e blogs especialmente criados para este veículo de alta velocidade, farta concorrência e vasto acesso. Cria-se aqui um ambiente de briga de mãos limpas, honesta, onde os "sem rotativa" e os "sem antena" passam a ter iguais condições de disputar o interesse do leitor, a atenção das fontes, o respeito do mercado publicitário e, sobretudo, adquirem influência no circuito que nasce com bases populares e alcança os formadores de opinião.

    Os tempos estão mudando. A mídia tradicional descobriu, na última hora, que o passado não mais é capaz de corrigir seus excessos corporativos, erros gerenciais e choques com uma nova e numerosa classe de leitores. Pagam pelo desastre comercial provocado pela soberba os profissionais que ajudaram a construir cada uma dessas máquinas. É o capitalismo em estado bruto mostrando sua velha e vincada face assustadora.

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