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    Em 2022, Telegram será ferramenta do bolsonarismo para articular ondas de fake news

    Ferramenta não tem representante no Brasil e pode ignorar ordens judiciais. Telegram não assinou acordo com TSE para conter fake news de campanhas eleitorais

    (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)

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    Rede Brasil Atual - “Inscreva-se em nosso canal no Telegram e tenha acesso à ações que querem a todo custo esconder de você.” A exortação, com todos os erros de linguagem originais, é do perfil oficial de Jair Bolsonaro e foi postada nesta quarta-feira (16), em sua conta no Twitter. Foi publicada por volta das15 h, no horário de Brasília, ou 21 h na Rússia, onde o mandatário se encontrou hoje com o presidente Vladimir Putin. Em ano de eleições, o Telegram se transforma em uma ferramenta importante para o bolsonarismo no Brasil. Entre as plataformas digitais, é o próximo cavalo-de-batalha da família que governa o Brasil.

    “O Telegram é usado para articulação e distribuição de conteúdos para os apoiadores mais aguerridos, mais ideológicos e articulados do bolsonarismo”, diz Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC. A ferramenta não tem tanto alcance quantitativo. Muito dificilmente – explica o professor – a ferramenta vai atingir “a tia e o primo do interior”, o “tiozão ou a tiazona do WhatsApp”. Ou seja, Bolsonaro vai para o Telegram para criar uma rede de perfis cuja função é “replicar conteúdo”.

    O presidente não está pedindo para os seguidores usarem a ferramenta por acaso. Na terça-feira (15), o Tribunal Superior Eleitoral assinou acordos com oito plataformas digitais para combater a disseminação de notícias falsas no período eleitoral.

    Twitter, LinkedIn, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram, YouTube, TikTok e Kwai fizeram acordo com o TSE. O Telegram – que não tem representação no Brasil – não negociou. Mais do que isso, ignorou o pedido do TSE para debater o tema.

    “O Telegram não aceita ordem judicial, não tem representante no Brasil, e com ele o bolsonarismo vai poder distribuir conteúdos desinformativos, mentiras, comandos de perseguição de pessoas pela plataforma. Não vai fazer isso pelo WhatsApp, por exemplo, sem ser reprimido pela Justiça”, destaca o professor da UFABC.

    Por isso, no post de Bolsonaro do Twitter, ele fala de “ações que querem a todo custo esconder de você”. O Telegram não respeita legislação, a Constituição, o Judiciário no Brasil. A plataforma é importante porque o bolsonarismo age ilegalmente.”

    Pontas de lança

    A plataforma terá na eleição o papel de articulador dos divulgadores do bolsonarismo. Em uma de suas contas, Bolsonaro já tem mais de 1 milhão de inscritos. Alguns desses – não todos, mas os mais influentes, os chamados pontas de lança – vão replicar conteúdos, levando-os para as redes “tradicionais”, como Instagram, WhatsApp etc. As pessoas que não usam internet como ferramenta normalmente não têm ou não usam o Telegram, que em um aspecto é semelhante ao Twitter.

    Nesse sentido, os usuários do Twitter – ressalta Amadeu –, que é pequeno em comparação com WhatsApp, Facebook, Instagram, podem ser bons articuladores. Se o Twitter não alcança o “tiozão” do interior, é muito usado por formadores de opinião, artistas, jornalistas, profissionais de conteúdo e militantes.

    Usuários

    Segundo uma pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, realizada pela Infobit e divulgada em setembro de 2021, o Telegram está em 53% dos smartphones no Brasil.  Enquanto o WhatsApp está instalado em 99% dos celulares brasileiros e é usado por 86% desse total, o Telegram é utilizado por 25% das pessoas que baixaram o aplicativo.

    O Brasil teria hoje cerca de 109 milhões de usuários de smartphones, segundo estudo da consultoria Newzoo citado pela revista Exame em agosto do mesmo ano.

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