Glenn Greenwald: publicamos o primeiro áudio; palavra mais importante: 'primeiro'
Em conversa com estudantes no 57º Congresso Anual da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília, o jornalista Glenn Greenwald falou sobre o farto material da Vaza Jato que ainda será divulgado e mostrou que não se intimida por ameaças de bolsonaristas
RBA - Após quatro horas em audiência pública no Senado, o jornalista Glenn Greenwald participou de um debate no 57º Congresso Anual da União Nacional dos Estudantes (UNE), o Conune. “A energia aqui é muito, muito melhor do que no Senado”, disse.
Glenn é o principal responsável pelo The Intercept Brasil, que vem reportando o escândalo conhecido como Vaza Jato. Sobre o poder da informação que ainda há por vir, disparou: “Estamos muito mais perto do começo do que do final (…). Nesta semana publicamos o primeiro áudio. A palavra mais importante é: primeiro”.
A Vaza Jato escancarou para a opinião pública a relação promíscua entre o ministro Sergio Moro, quando era juiz federal, e os procuradores do Ministério Público, responsáveis pela Lava Jato. “Esse acervo tem capacidade para nos mostrar a verdade. Isso está assustando eles (…). Eles estão desesperados e devem estar. No final deste processo, todos saberão o rosto deles”, disse, em um tom mais descontraído do que na audiência da manhã.
Glenn falou sobre os ataques que vem sofrendo da base do governo do presidente, Jair Bolsonaro (PSL). A estratégia de Moro e de integrantes da base segue intacta: tentam criminalizar o jornalismo, atacando a forma como o material chegou até os profissionais. Mais recente, começou a circular a informação de que o jornalista seria alvo de uma investigação do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf) a mando da Polícia Federal, controlada pelo ministro Moro.
“Quando Moro me ameaça, quando abusa do poder da Polícia Federal, quando me investiga, eu fico feliz”, disse. “Isso mostra que eles estão com o medo que eles merecem ter. Eles sabem o que fizeram. Sabem que temos evidências sobre o que fizeram. Sabem que vamos mostrar e vamos publicar até o final tudo isso”, completou.
Poder do jornalismo
Para o profissional laureado com os mais importantes prêmios mundiais de sua área, os ataques de Moro têm um efeito colateral ao esperado pela base bolsonarista. “Quanto mais ameaçam, mais as pessoas vão entender a importância do jornalismo (…). Todo o mundo democrático entende que o papel do jornalista é de reportar qualquer informação de interesse público. Moro não está acima da lei. Dallagnol (Deltan) não está acima da lei.”
Coragem
Além dos ataques e tentativas de intimidação de Moro, Glenn e outros jornalistas sofrem ataques baixos da base bolsonarista. À eles, Glenn os desafiou para o enfrentamento de frente. “O partido do Bolsonaro quer intimidar, quer passar medo. É interessante, fui há duas semanas para a Câmara com membros deste partido, me acusando. Fui lá enfrentar as pessoas que estavam me acusando, mas eles não estavam lá. Talvez 2 ou 3 membros deste partido que gosta de intimidar pessoas atrás dos computadores”, disparou.
Glenn lembrou que estava, minutos antes, no Senado, aonde trabalha um filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PSL-SP), que não se intimida ao atacar o jornalista pelas redes sociais. “Eles são covardes. Não são pessoas que precisamos ter medo. No Senado tem Flávio Bolsonaro, que me acusou de muitas coisas falsas. Você acha que ele teria coragem para falar isso na minha cara? Claro que não. Ele não estava lá”, disse.
Covardia
Além dos ataques sobre o trabalho da Vaza Jato, o jornalista relatou ofensas pessoais a ele e seu marido, o deputado federal David Miranda (Psol-RJ). São ataques xenofóbicos e LGBTfóbicos. “Sobre os ataques homofóbicos, sobre as ameaças com fotos dos nossos filhos, isso não é divertido. Chamam de viado todo dia, ameaçam de morte. Mas quero falar que meu marido cresceu como órfão em Jacarezinho. Um garoto negro, pobre e LGBT. Ele não tem medo de nada, nem de ninguém.”
Além de não se intimidar, Glenn vê essa situação como “uma oportunidade”. “Eu cresci na década de 80 e 90 quando quase não tinham figuras públicas LGBT. As únicas conversas eram sobre doença. Então, estamos felizes e olhamos esses ataques homofóbicos como oportunidade. Diante de muitas câmeras, um membro do Congresso e eu nos beijamos em frente das câmeras. Aquela foto rodou o mundo e estamos muito felizes.”
Por fim, deixou o recado aos estudantes: “Neste país, que tem muitos jovens LGBTs sofrendo, temos a obrigação de usar esse momento para ensinar que não precisam ter medo nem vergonha. Podem ter uma família completa como nós, podem ter uma vida cheia de felicidade, amor e orgulho como nós. Podem nos atacar com homofobia e vamos usar isso para o bem.”
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