Ombudsman da Folha pula fora da discussão sobre o jornalismo no caso Cachoeira
Uma semana depois de criticar os meios de comunicação pelo “silêncio reverente no que tange à própria mídia”, Suzana Singer desembarca do assunto e vira a página
247 – Quem esperava que Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo, prosseguisse na discussão sobre os limites éticos do jornalismo, aberta por ela própria no domingo passado, saiu – ou sairá – frustrado ao ler sua coluna deste fim de semana. Sem motivo aparente, Suzana Singer decidiu virar a página. Ela, que na semana passada, criticava o “silêncio reverente” da mídia no caso, agora fala sobre o “pobre leitor que não desistiu desse noticiário”.
Neste domingo, Suzana Singer dedicou sua coluna “O diabo mora nos detalhes” a pequenos erros de apuração e escreveu uma nota discreta sobre o caso Cachoeira. Diz ela o seguinte:
“Muita opinião – e pouca informação – atrapalham a discussão sobre a mídia no caso Cachoeira. Os depoimentos fechados à CPI só pioram a guerra de versões. Quem acha que a imprensa deve ser questionada é “petista querendo cercear o jornalismo”. Quem não vê “conluio entre o bicheiro e a maior revista do País” está vendido para os “barões da mídia”. Pobre leitor que não desistiu desse noticiário”.
Permita-nos discordar, Suzana. Muitas informações já estão colocadas. A partir delas, os leitores tentam formar suas opiniões. Jornalismo é algo que envolve informação e opinião. E nós concordamos com a sua da semana passada que diz que não deve haver “temas proibidos” na cobertura da mídia. Nem mesmo o jornalismo ou seus limites éticos. E isso, obviamente, não significa nenhuma filiação partidária ou tentativa de cerceamento da liberdade de expressão. O que limita a liberdade é justamente o silêncio sobre tabus e temas proibidos.
Leia, abaixo, reportagem publicada na semana passada pelo 247 sobre a coluna anterior de Suzana Singer:
247 – O bloqueio dos grandes veículos de comunicação à discussão das relações entre a quadrilha de Carlos Cachoeira e a mídia foi quebrado pela Folha de S. Paulo, na edição que circula neste domingo (em São Paulo, o jornal é distribuído a partir do fim da tarde dos sábados). A responsável por isso foi a jornalista Suzana Singer, ombudsman do jornal, que acaba de ter renovado o seu mandato para criticar livremente a Folha e demais meios de comunicação nas páginas do jornal de maior circulação do País.
Em seu texto, chamado “Tema proibido”, Suzana fala da rapidez dos jornais, portais e televisões em levantar qualquer fato concernente a governadores, senadores, deputados policiais e empresários, mas critica o “silêncio reverente no que tange à própria mídia”.
Para exemplificar, Suzana publicou um diálogo entre Carlos Cachoeira e um diretor da Delta, Cláudio Abreu, que consta do inquérito e fala sobre uma reportagem na Folha de S. Paulo, mas que vinha sendo ignorado pela própria Folha. Na conversa, Abreu fala sobre uma possível influência no jornal. “Quem é o cara da Folha que manteve contato? Porque nós ´tamo´ bem com a Folha. ´Tamo´trabalhando lá...”. Em sua defesa, o jornal afirmou que, depois desse diálogo, o jornal publicou duas reportagens criticas à Delta, indicando que a influência, se existia, não foi exercida.
O caso Veja
No tocante à revista Veja, Suzana Singer faz uma crítica sutil, mas contundente. E diz o óbvio: discutir o tema não significa censurar ou coibir a liberdade de expressão. “Permitir-se ser questionado, jogar luz sobre a delicada relação fonte-jornalista, faz parte do jogo democrático”.
Suzana afirma que, até agora, não foram comprovadas ilegalidades no comportamento da revista. No entanto, diz ela, isso não significa que a conduta da maior revista semanal do País seja “eticamente aceitável”.
Leia um trecho do seu artigo deste domingo:
“Do que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no relacionamento Veja-Cachoeira. O paralelo com o caso Murdoch, que a blogosfera de esquerda tenta emplacar, soa forçado, porque, no caso inglês, há provas de crimes, como escutas ilegais e a corrupção de policiais e autoridades.
Não ser ilegal é diferente, porém, de ser eticamente aceitável. Foram oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? Há muitas perguntas que só podem ser respondidas se todas as cartas estiverem na mesa.
É preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa (...). Grampos mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que essa parte do escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza com que os políticos têm sido cobrados.”
Em países livres, democráticos e de imprensa livre, não devem existir tabus ou temas proibidos. Suzana Singer está de parabéns.
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