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    As últimas horas de Assad na Síria: traição, desespero e fuga

    Líder sírio enganou aliados, deixou familiares para trás e fugiu com auxílio da Rússia, encerrando 50 anos de poder dinástico

    Banca de jornal em Teerã, Irã (Foto: Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via Reuters)
    Redação Brasil 247 avatar
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    Reuters – Bashar al-Assad, presidente da Síria por 24 anos, abandonou seu país em meio ao colapso de seu regime sem informar sequer seus aliados mais próximos ou membros de sua família. Horas antes de escapar, Assad reuniu cerca de 30 chefes militares e de segurança no Ministério da Defesa e os assegurou de que o apoio militar russo estava a caminho, segundo um comandante presente no encontro, que falou sob anonimato. "Ele pediu às forças terrestres que resistissem", relatou o comandante. No entanto, enquanto suas palavras motivavam resistência, Assad já havia organizado sua partida.

    Nem mesmo Maher al-Assad, irmão mais novo do presidente e comandante da elite da 4ª Divisão Blindada, foi informado. Fontes próximas ao regime revelaram que Maher conseguiu escapar para a Rússia por via aérea, enquanto outros membros da família enfrentaram destinos mais trágicos. Dois primos de Assad, Ehab e Eyad Makhlouf, tentaram fugir de carro para o Líbano, mas foram emboscados por rebeldes; Ehab foi morto, e Eyad, ferido.

    Assad partiu no dia 8 de dezembro, em um avião com transponder desligado, escapando dos rebeldes que cercavam Damasco. Ele voou para a base russa de Hmeimim, na cidade costeira de Latakia, e de lá seguiu para Moscou. Sua família imediata – a esposa Asma e os três filhos – já o aguardava na capital russa, de acordo com ex-assessores e um oficial regional.

    Imagens capturadas por rebeldes no palácio presidencial após a fuga de Assad mostram indícios de uma partida apressada: comida ainda no fogão e álbuns de fotografias pessoais abandonados.

    Sem apoio militar de Rússia ou Irã

    A reportagem da Reuters detalha que tanto a Rússia quanto o Irã, aliados históricos do regime sírio, recusaram-se a intervir militarmente nos dias que antecederam a queda de Assad. Em novembro, Assad visitou Moscou para apelar por apoio militar, mas seus pedidos foram rejeitados. A Rússia estava focada na guerra na Ucrânia e não disposta a investir mais recursos na Síria.

    O Irã, por sua vez, também se recusou a enviar tropas, temendo que uma intervenção direta pudesse desencadear represálias de Israel. Durante uma reunião em 2 de dezembro, o então chanceler iraniano Abbas Araqchi relatou a fragilidade do exército sírio, enquanto Assad aparentava visível desgaste emocional.

    Apesar de não oferecer ajuda militar, a Rússia desempenhou um papel central na segurança da fuga de Assad. O chanceler russo Sergei Lavrov mediou negociações com Turquia, Catar e o grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS) para assegurar uma saída segura para Assad. Fontes indicam que Moscou coordenou também com Estados vizinhos para evitar qualquer interceptação do avião presidencial.

    A queda de uma dinastia

    A rejeição do pedido de asilo feito aos Emirados Árabes Unidos foi outro golpe para Assad, que buscava refúgio em um local mais próximo do Oriente Médio. No entanto, a pressão internacional devido às acusações de crimes de guerra, como o uso de armas químicas, tornou sua recepção inviável.

    O fim do regime de Assad encerra um capítulo de 13 anos de guerra civil que devastou a Síria, deixando centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados. De acordo com Hadi al-Bahra, líder da principal coalizão opositora síria, Assad manipulou informações para manter seus aliados próximos leais até o último momento. "Ele disse a seus comandantes que o apoio militar estava a caminho. Era mentira", afirmou.

    As revelações destacam a dramaticidade e o isolamento dos últimos momentos de Assad como líder da Síria. "Ele não fez um último esforço, não mobilizou suas tropas", declarou Nadim Houri, diretor da Arab Reform Initiative. "Ele deixou seus apoiadores enfrentarem o destino sozinhos."

    O colapso da dinastia Assad marca um ponto de inflexão para a Síria e para a política do Oriente Médio, mas deixa também um legado de destruição e incertezas sobre o futuro do país.

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