Brasil não ganha nada com voto contra Rússia na ONU, diz Elias Jabbour
"Se não estava em jogo nenhum interesse estratégico de nosso país, esse voto pode ser paradigmático sobre o futuro das nossas relações exteriores", diz o professor
247 - Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Elias Jabbour criticou o voto do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) a favor da resolução contra a Rússia pela guerra na Ucrânia.
"A Federação Russa foi amplamente derrotada em votação ocorrida no âmbito da ONU. O Brasil, ao contrário dos outros membros dos BRICS, 'saiu do muro' e compôs essa maioria. Os problemas são múltiplos deste tipo de voto", apontou Jabbour.
Para o especialista, o Brasil se alinhou ao Ocidente e não ganhará nada por isso. "O problema é que o Brasil só interessa ao "Ocidente" para este tipo de serviço. Do ponto de vista nacional/pragmático o que este voto agrega? Qual o preço deste voto? O Brasil terá alguma fatia do bolo que Biden está preparando em matéria de política industrial? Não. A Alemanha vai instalar indústrias de ponta no Brasil para fugir dos seus próprios custos de produção? Não. Logo, se não estava em jogo nenhum grande interesse estratégico de nosso país esse voto pode ser paradigmático sobre o futuro das nossas relações exteriores".
"Sinto falta de nossa gramática original em nossas interações com o exterior. Por exemplo, a visita de Lula aos EUA poderia ter sido mais proveitosa se fosse pautada nossa participação no Inflation Reduction Act e não a Amazônia, a democracia e os direitos humanos. Parece que estamos adotando a gramática das ONGs inclusive nesta agenda. Temos um grande problema democrático e ambiental, sem dúvidas. Mas ambas não podem ser a ponta de nossa ação externa. Existe um problema de conceito nessa história de 'volta do Brasil ao mundo' que está sendo pela chamada 'esquerda compatível'. O interesse nacional e o conceito a se realizar é nossa reindustrialização. Espero algo maior durante a visita de Lula à China. Por falar nisso, qual a nossa agenda nacional em relação à China. A Open Society não pode nos entregar esta resposta", completou o professor.
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