Cinco anos após discurso histórico, Obama é hostilizado em Berlim
A dois dias da visita do presidente dos EUA, marcha que passou pelo Parlamento alemão e pela embaixada americana, protestou contra o uso de drones, a prisão de Guantánamo, a guerra no Iraque, o bloqueio econômico a Cuba, a prisão de Bradley Manning e a espionagem online
Opera Mundi - Enquanto Berlim se prepara para a visita marcada do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que será realizada nesta para terça e quarta-feira (18 e 19/06), cerca de 400 manifestantes alemães foram às ruas na tarde desta segunda (17/06) para mostrar “cartão vermelho” ao democrata.
Em marcha que passou pelo Reichstag, o Parlamento alemão, pelo Portão de Brandemburgo, onde Obama discursará para uma plateia de convidados, e pela embaixada dos EUA em Berlim, os manifestantes criticaram o uso de drones, a prisão de Guantánamo, a guerra no Iraque, o bloqueio econômico a Cuba, a prisão de Bradley Manning, a espionagem online, além de outros temas relacionados à política externa do país norte-americano.
“Presidente Obama, você não é bem vindo”, bradaram os manifestantes. “Senhor presidente, yes, we can [sim, nós podemos] mostrar o cartão vermelho para você.” Em seguida, o grupo leu uma carta escrita pelo intelectual anarquista Noam Chomsky, redigida para a ocasião, pedindo ao presidente dos EUA mais respeito aos direitos civis.
O protesto é uma amostra que, desde sua última visita a Berlim, em 2008, quando concorria à presidência, Obama perdeu popularidade na Alemanha. Na ocasião, ele fez um discurso considerado crucial durante sua campanha, embaixo da Coluna da Vitória, e saiu aplaudido como catalisador de mudanças necessárias à política de seu antecessor, o republicano George W. Bush.
Em pesquisa realizada à época, 87% dos alemães disseram que, se pudessem, votariam em Obama. Os ventos, porém, mudaram de direção. Antes sucesso de público e figura adorada pela mídia local, desta vez ele foi recebido por editoriais negativos.
A revista semanal Der Spiegel, a mais influente do país, tratou-o em matéria de capa como “um ex-amigo” e sombra de John Fitzgerald Kennedy, figura venerada entre os alemães por ter declarado há quase 50 anos, em discurso histórico do dia 26 de junho de 1963, na Rathaus Schöneberg, então Berlim Ocidental, a célebre frase “Ich bin ein Berliner [Eu sou um berlinense]”.
Com o discurso, Kennedy marcou posição na escalada de agressões entre Berlim Ocidental e Oriental, que acabara de construir o muro e instituíra regras mais rígidas de controle de tráfego entre os dois lados da cidade. Obama, segundo a Der Spiegel, está longe de ter um mandato com final feliz e “desapontou” ao ser ainda mais “linha dura” em questões de segurança nacional.
A edição de hoje do jornal Berliner Zeitung conta com um caderno especial sobre a visita de Obama a Berlim, comparando-a à visita de Kennedy em 1963. Entre detalhes do roteiro do democrata - com reuniões com o presidente Joachim Gauck e a chanceler Angela Merkel, jantar no Palácio de Charlottenburg e estadia no Hotel Ritz Carlton - o diário também ressalta que a “Obamania” já não é mais a mesma entre os alemães.
Preparação e bloqueio
Os arredores do Portão de Brandemburgo tornaram-se um canteiro de obras para construção do palco para o discurso de Obama, que ocorre na quarta. As estruturas já estão montadas - arquibancadas, sistema de som e barreiras de segurança foram levantadas em menos de uma semana.
No entanto, a expectativa é que alemães e turistas não tenham acesso ao local durante o evento. Ao mesmo tempo, os manifestantes prometem mais protestos para os dois dias de visita de Obama a Berlim. Eles devem empunhar, novamente, o cartão vermelho para o democrata.
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