Crianças do Donbas são homenageadas em exposição no Museu da Vitória de Moscou
Exposição 'Nazismo Ordinário' traça a história da ideologia na Ucrânia, onde a Rússia conduz o que chama de operação militar especial para desnazificar o país
Leonardo Sobreira*, de Moscou (247) - Uma visita ao Museu da Vitória, em Moscou, já é impactante em si. Erguendo-se sobre a Colina Poklonnaya e detrás do Monumento da Vitória, o espaço preserva a memória dos sacrifícios colossais do povo russo no combate às forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial --chamada aqui de Grande Guerra Patriótica.
Completando o tour interativo, que conta com dioramas de seis das principais batalhas do conflito, o caminho é aberto ao Salão dos Generais. Em seu centro, neste fim de semana, crianças cantavam em grupo diante de seus pais e familiares, em uma espécie de show de talentos.
À esquerda do palco, em uma pequena sala adjacente ao Salão, uma forte luz brilhava, fazendo reluzir um balanço de playground. Bichinhos de pelúcia estavam dispersos pelo chão.
Trata-se da exposição ‘Nazismo Ordinário’, que conta a história do nazismo na Ucrânia e resguarda a memória de suas vítimas. Direcionando-se ao balanço, centralizado na sala, percebe-se que abaixo do brinquedo está adesivada ao piso a insígnia da 2.ª Divisão SS Das Reich, exibida pelo Batalhão Azov e seus simpatizantes ao redor do país do Leste Europeu.
A estrutura brilha graças às figuras de anjos penduradas logo acima. Em cada uma delas, está o nome de crianças mortas durante a campanha militar de Kiev contra o Donbas, uma região de maioria de falantes do idioma russo: ‘Valentina Litovchenko, 2 anos’, ‘Ária Azemirov, 5 anos’, ‘Daniil Belykh, 14 anos’...
Em Donetsk, elas estão eternizadas no memorial Alameda dos Anjos, inaugurado em maio de 2015. Nos últimos oito anos, ao menos 130 crianças foram mortas no Donbas --vítimas da sangrenta guerra civil desencadeada pelo Euromaidan.
Diante do descumprimento dos acordos de Minsk, que previam certa autonomia às regiões de Donetsk e Lugansk, a Rússia reconheceu, em 21 de fevereiro de 2022, a independência das repúblicas do Donbas e lançou uma operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia. Em outubro, Donetsk e Lugansk, junto com Zaporíjia e Kherson, aderiram à Rússia após referendos populares.
O giro pela sala começa pelo lado direito. Na entrada, particularmente chocante é a foto de assistentes mulheres do Exército Ucraniano Insurgente, a ala militar da Organização dos Nacionalistas Ucranianos-B (OUN-B, na sigla em inglês). A imagem mostra as mulheres em vestidos tradicionais marchando com a líder do grupo fazendo uma saudação nazista.
“Bandera e a OUN planejaram uma limpeza étnica e pró-ucraniana”, diz a descrição da peça, que remete a 1941.
Logo ao lado, estão expostos uma série de artefatos do século passado: braçadeiras, bandeiras e parafernália adornadas com a suástica nazista e livros sobre Stepan Bandera, o cultuado líder ucraniano que colaborou com a Alemanha nazista e liderou a OUN-B.
O canto das crianças do lado de fora encobria o batimento de um retumbante metrônomo que soava na pequena sala dedicada à exposição…
Presumivelmente de forma intencional, fotos mais recentes foram postas logo acima das imagens do século 20. Como se vigiando a instalação, um combatente ucraniano é exibido fazendo uma saudação nazista.
Continuando a caminhada, uma mesa repleta de distintivos e manuais do Batalhão Azov, bem como um jornal do grupo ‘Setor Direito’... Em uma câmara de vidro, uma bandeira do Batalhão Azov e um colete militar ensaguentado, obtidos em Mariupol...
Ao lado, um texto na parede vermelha diz: “Após o golpe de Estado de 2014, as autoridades ucranianas começaram a glorificar as ideias dos líderes nacionalistas”.
O canto das crianças finalmente cessou. Na sala retumbava o metrônomo.
A seção da Ucrânia contemporânea, intitulada ‘Nazismo Hoje’, começa mostrando uma frase do apresentador do canal de TV ucraniano '24' Fakhrudin Sharafmal. Em março deste ano, o jornalista revelou-se: “Se você nos chama de nazistas, eu vou seguir a doutrina de Adolf Eichmann. Vamos torcer para que a nação russa e o povo russo pereçam para nunca mais se levantarem”.
Em seguida, a seção ‘Perda de Memória’ propõe uma reflexão sobre o culto a Bandera: uma foto de um protesto de 2021 com ucranianos carregando faixas com a cara do líder e o Wolfsangel. Outra de encapuzados derrubando monumentos históricos…
Fora da sala, as crianças cantantes e suas famílias se recolhiam para um show de luzes no Salão da Glória, no terceiro andar do museu. Sob o domo adornado com uma estrela vermelha e diante da estátua do soldado vitorioso, todos assistiram ao espetáculo sobre os feitos russos na Segunda Guerra, como se protegidos pelas inscrições nas paredes de mármore: os nomes dos Heróis da União Soviética e Heróis da Federação Russa.
*Leonardo Sobreira participa do programa jornalístico InteRussia em conjunto com a SputnikPro, a convite do Fundo Alexander Gorchakov de Diplomacia Pública
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