Em Cannes, cacique Raoni reclama do acesso ao Fundo Amazônia: “ainda não recebi nenhum centavo”
'Não está sendo fácil para o governo Lula.Temos que incentivar o governo. Pedir esse apoio para que a gente realmente proteja o nosso território e os nossos direitos', disse Raoni
Adriana Brandão, RFI - O cacique Raoni está no Festival de Cinema de Cannes para o lançamento do filme “Raoni: uma amizade improvável”, do cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux. Em entrevista à RFI, o líder indígena falou sobre a proteção das florestas, do engajamento ambiental do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e reclamou da falta de acesso ao Fundo Amazônia.
Um dia após ter subido o tapete vermelho do Festival de Cannes, convidado para assistir a estreia mundial do filme “Indiana Jones e a relíquia do destino”, Raoni se mostrou, aos 93 anos, mais determinado do que nunca em sua luta pelo meio ambiente. “Quando eu era novo, defendia a florestas, a mata e os rios. E continuo defendendo a floresta”, declarou o cacique ao ser questionado sobre a importância de suas aparições internacionais. “Minha idade já avançou, mas eu estou firme”, disse.
Além do lançamento do filme, Raoni está na França para a nova campanha internacional organizada pela associação ambiental franco-brasileira Floresta Virgem. Acompanhado dos líderes indígenas Watatakalu, Tapi e Bomoro, ele faz um giro por sete países, de 11 de maio a 14 de junho.
“Nossa presença aqui na Europa é super importante”, disse o chefe Tapi. “A gente vem trazer a informação das nossas terras e também colaborar com o governo brasileiro. Muitos parlamentares não indígenas são contra o governo brasileiro, então não está sendo fácil para o governo Lula. Nós temos que incentivar o governo. Pedir esse apoio político, apoio financeiro para que a gente realmente proteja o nosso território e os nossos direitos”, ressaltou.
“A gente sabe que trazer esse assunto da luta indígena, da proteção dos nossos territórios, da proteção da floresta, é importante para o mundo de fora, principalmente aqui na Europa, porque a gente sabe que é daqui que precisamos dos apoios”, completou a chefe Watatakalu. “São os nossos parceiros que abrem esses caminhos para que a gente possa ser ouvido fora do nosso país”, detalhou.
“Eu e Lula vamos demarcar”
Raoni, que participou da posse do presidente Lula em Brasília, em janeiro, também falou dessa fase política do Brasil, que tem, desde a chegada do novo chefe de Estado ao poder, o seu primeiro Ministério dos Povos Indígenas. “Eu já tinha conversado com o presidente Lula. Nós vamos demarcar algumas terras dos parentes que não foram demarcadas. Eu e o presidente Lula vamos demarcar. Eu já tinha conversado com ele antes dele assumir o posto”, disse.
Mas ao ser questionado sobre o Fundo Amazônia, dispositivo criado em 2008 com contribuições de vários países e gerenciado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), Raoni não poupou críticas. “Eu não sei para onde esse dinheiro foi. Eu já fiz campanha e nunca recebi nenhum centavo lá no Brasil”, esbravejou.
A crítica foi reforçada pelo chefe Tapi. “Muitas terras indígenas não recebem esses recursos, não chega nas associações. Somos muitos indígenas e esses recursos não são suficientes para atender a demanda do contexto real dos povos indígenas”, disse ele. “Precisamos de muito recurso para fiscalizar a nossa terra. É uma obrigação do governo federal, mas não está acontecendo na prática”, avalia.
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