'Eventos como este acontecem uma vez por século', diz ex-conselheiro de Putin sobre fim do mundo unipolar
Sergey Glazyev, da Academia Russa de Ciências e do Banco da Rússia, comenta sobre o colapso das épocas, o fim do monopólio do dólar e as mudanças nos modos de vida
Publicado por Vanessa Beeley, em 31 de março de 2022
*Tradução para o português de João Carlos Pimentel
Sergey Glazyev fala sobre o colapso das épocas e as mudanças nos modos de vida. É possível estabilizar o rublo em três dias? E por que os "zumbis" ucranianos não desistem?
“Depois de não conseguir enfraquecer a China por meio de uma guerra comercial frontal, os americanos desviaram seu golpe principal em direção à Rússia, vista por eles como um elo fraco na geopolítica e na economia global. Os anglo-saxões estão tentando implementar suas eternas ideias russofóbicas com o objetivo de destruir a Rússia e, ao mesmo tempo, de enfraquecer a China, pois a aliança estratégica da Federação Russa e da República Populista da China é muito problemática para os Estados Unidos. Os EUA não têm poder econômico ou militar para destruir a Rússia e a China ao mesmo tempo, caso elas permaneçam aliadas, não se separem”, diz Sergey Glazyev, acadêmico da Academia Russa de Ciências e ex-assessor do presidente russo.
Glazyev falou em entrevista ao Business Online sobre as oportunidades que estão se abrindo para a economia russa, se o Banco Central russo está favorecendo o inimigo e se uma nova moeda mundial substituirá o dólar.
— Sergey Yuryevich. Ao comentar os trágicos acontecimentos de hoje, você escreveu em seu canal do Telegram que era necessário ler o livro que publicou há cerca de 6 anos, sobre a “última guerra mundial”. Como você conseguiu prever tudo com tanta precisão?
— De fato, existem padrões de desenvolvimento econômico de longo prazo cuja análise e compreensão nos permite prever eventos como os que estão ocorrendo atualmente. Vivemos no momento uma mudança simultânea das estruturas tecnológicas e econômicas mundiais; enquanto a base tecnológica da economia está mudando, a transição para tecnologias fundamentalmente novas está ocorrendo e o sistema de gestão da sociedade [O “aparato governamental” / Nota do Tradutor - NT] também está se transformando. Esse tipo de evento ocorre cerca de uma vez por século. No entanto, embora os padrões tecnológicos mudem cerca de uma vez a cada 50 anos, e sua mudança geralmente é acompanhada por uma revolução tecnológica, uma depressão econômica e uma corrida armamentista, os padrões econômicos mundiais mudam uma vez a cada 100 anos e sua mudança é acompanhada por guerras mundiais e revoluções sociais. Isso se deve ao fato de que a elite dominante dos países que possuem centralidade na estrutura econômica mundial que está desaparecendo irá procurar impedir as mudanças. Essa elite também não leva em conta o surgimento de sistemas de gestão da sociedade mais eficazes e tenta bloquear o desenvolvimento dos novos líderes mundiais buscando manter sua hegemonia e sua posição de monopólio por qualquer meio, inclusive o militar e o revolucionário.
Os padrões econômicos mundiais mudam uma vez a cada 100 anos e sua mudança é acompanhada por guerras mundiais e revoluções sociais
Por exemplo, há cem anos o Império Britânico estava tentando manter sua hegemonia no mundo. Quando já estava perdendo economicamente para os recursos combinados do Império Russo e da Alemanha, desencadeou-se a Primeira Guerra Mundial, provocada pela inteligência britânica, durante a qual todos os três impérios europeus se autodestruíram. Estou falando do colapso da Rússia czarista, dos impérios alemão e austro-húngaro, mas também incluo o quarto império otomano. A Grã-Bretanha manteve o domínio global por um tempo e até se tornou o maior império do planeta. Mas devido às leis inexoráveis do desenvolvimento socioeconômico, o sistema econômico mundial colonial, baseado no trabalho escravo, não podia mais proporcionar crescimento econômico.
Dois modelos políticos totalmente novos - o soviético e o americano - mostraram uma eficiência produtiva muito maior, pois estavam organizados em princípios diferentes: não eram direcionados para o capitalismo privado familiar, mas para o poder das grandes corporações transnacionais com estruturas centralizadas de regulação econômica e emissão ilimitada de moeda fiat (em papel e, agora, em meio eletrônico) [Moeda fiduciária, baseada apenas na crença das pessoas que ela tem valor por ter sido emitida por um governo. Não é baseada em outros valores como ouro, prata ou commodities / NT]. Essas inovações permitiram uma produção em massa de produtos muito mais eficiente que a forma proporcionada pelos sistemas de controle dos impérios coloniais do século XIX.
O surgimento de estados sociais na URSS e nos Estados Unidos com sistemas de gerenciamento centralizado permitiu que estes países dessem um salto acentuado em seu desenvolvimento econômico. Na Europa, um sistema de governança corporativa também foi formado, mas infelizmente resultou na Alemanha no modelo nazista (também não sem a ajuda da inteligência britânica). Hitler, apoiado por agências de inteligência britânicas e por capital americano, rapidamente implantou um sistema centralizado de governança corporativa na Alemanha que permitiu que o Terceiro Reich dominasse rapidamente toda a Europa. Com a ajuda de Deus, derrotamos este fascismo alemão (ou melhor, europeu, levando em conta a realidade de hoje). Depois disso, dois modelos permaneceram no mundo, aos quais me refiro como “ordem econômica mundial imperial”: o modelo soviético e o modelo ocidental (centrado nos Estados Unidos). Após o colapso da União Soviética, que não conseguiu resistir à competição global devido ao fato de o sistema de gestão não ter sido suficientemente flexível para atender às necessidades do progresso tecnológico, os Estados Unidos conquistaram por algum tempo o domínio global
— Mas agora esse período de “solidão unipolar americana” já está passando, e provavelmente não apenas graças à Rússia, mas principalmente graças à China e às regiões asiáticas. Isto é correto?
— Com efeito, as estruturas verticais hierárquicas características do sistema econômico mundial imperial revelaram-se demasiado rígidas para assegurar processos de inovação contínuos e perderam sua eficácia comparativa em garantir o crescimento da economia mundial. Em sua periferia, formou-se uma nova ordem econômica mundial, baseada em modelos de gestão flexíveis, como a organização da produção em rede, na qual o Estado atua como integrador, combinando os interesses dos diversos grupos sociais em torno de um objetivo – a elevação do bem-estar público. O exemplo atual mais impressionante de uma economia mundial integrada desta maneira é a China, cuja economia tem crescido três vezes mais rapidamente que a economia americana há mais de 30 anos. No momento, a China já supera os Estados Unidos em termos de produção, exportações de bens de alta tecnologia e em taxas de crescimento.
Outro exemplo do modelo da nova ordem econômica mundial, que chamamos de integral - pelo fato de que nela o Estado reúne todos os grupos da sociedade, com seus interesses diversos - é a Índia. Este país tem um sistema político diferente, mas que também coloca a primazia dos interesses públicos sobre os interesses privados, com o Estado buscando maximizar as taxas de crescimento para combater a pobreza.
Nesse sentido, a nova ordem econômica mundial é ideologicamente socialista. Ao mesmo tempo, utiliza mecanismos de concorrência de mercado, o que permite assegurar a maior concentração de recursos para a revolução tecnológica, a fim de garantir saltos econômicos a partir de uma nova ordem tecnológica avançada. Se olharmos para a taxa de crescimento desde 1995, a economia chinesa cresceu 10 vezes, enquanto a economia americana cresceu apenas 15%. Assim, já está óbvio para todos que o ritmo do desenvolvimento econômico global está mudando para a Ásia: a China, a Índia e os países da Indochina juntos já produzem mais produtos que os Estados Unidos e a União Europeia. Se adicionarmos o Japão ou a Coréia, onde o sistema de gestão é semelhante em relação aos princípios de integração da sociedade em torno do objetivo de melhorar o bem-estar público, podemos dizer que hoje uma nova ordem econômica mundial já domina o mundo, e o centro de reprodução da economia mundial mudou-se para o Sudeste Asiático. Mas, é claro, a elite dominante americana não pode concordar com este processo.
— Mal estão conseguindo tolerar essa mudança, eu diria…
— Sim. A elite americana, como o Império Britânico já fizera antes, está buscando manter sua hegemonia no mundo. Os eventos que ocorrem hoje são uma manifestação de como a elite oligárquica financeira e de poder dos Estados Unidos está tentando manter a dominação mundial. Pode-se dizer que, nos últimos 15 anos, a elite americana vem travando uma guerra híbrida global que busca provocar o caos em países que estão saindo fora de seu controle e também restringir o desenvolvimento da China. Mas devido ao seu sistema de gerenciamento já arcaico, eles não estão conseguindo fazer isso. A crise financeira de 2008 foi um momento de transição no qual realmente terminou o ciclo de vida da ordem tecnológica que está acabando. Nesse momento, começou o processo de redistribuição em massa de capital para uma nova ordem tecnológica. O núcleo desta nova ordem é um complexo de nanobioengenharia e de tecnologias de comunicação e da informação. Todos os países começaram a injetar dinheiro em suas economias. A coisa mais simples que um estado moderno pode fazer é dar a todas as empresas acesso a dinheiro barato de longo prazo para que possam adotar novas tecnologias. Mas, enquanto nos EUA e na Europa esses fundos foram gastos principalmente em bolhas financeiras e criaram déficits orçamentários, a enorme emissão monetária na China foi totalmente direcionada ao crescimento da produção e ao desenvolvimento de novas tecnologias. Não houve bolhas financeiras. Embora tenha havido uma monetização extremamente alta da economia chinesa, ela não levou à inflação, pois o crescimento da oferta de moeda foi acompanhado por um aumento na produção de bens, pela introdução de novas tecnologias avançadas e pelo aumento do bem-estar público.
A elite americana, como o Império Britânico já fizera antes, está buscando manter sua hegemonia no mundo.
Hoje, a competição econômica já levou os Estados Unidos a perder sua liderança. Se você rememorar, Donald Trump tentou conter o desenvolvimento da China por meio de uma guerra comercial, mas que não resultou em nada.
— Por que não conseguiu? Trump, que era acostumado a correr riscos e a apostar tudo, não teve determinação suficiente?
— Até mesmo Trump não conseguiu, pois a China tem um sistema de gestão governamental mais eficiente, que nos permite concentrar ao máximo os recursos de produção disponíveis. Ao mesmo tempo, a gestão efetiva do dinheiro mantém a questão monetária na estrutura da reprodução ampliada do setor real da economia, com foco no financiamento dos investimentos que resultem em desenvolvimento. A China atingiu a maior taxa de poupança de qualquer país: cerca de 45% do PIB é reinvestido, em comparação com 20% do PIB, seja nos Estados Unidos seja na Rússia. Isso é, de fato, o que garante a altíssima taxa de crescimento da economia chinesa.
De forma geral, os Estados Unidos estavam fadados à derrota nessa guerra comercial, porque o Império do Meio pode produzir produtos com mais eficiência e financiar o desenvolvimento de forma mais barata.
Todo o sistema bancário na China é estatal e opera como uma única instituição de desenvolvimento, direcionando os fluxos de caixa para expandir a produção e desenvolver novas tecnologias. Nos Estados Unidos, a oferta monetária é usada para financiar o déficit orçamentário e é redirecionada para criar bolhas financeiras. Como resultado, a eficiência do sistema financeiro e econômico dos EUA é de 20%: isto é, apenas um em cada cinco dólares chega ao setor real. Enquanto isso, na China quase 90% (ou seja, quase todo o yuan emitido pelo Banco Central da China) alimenta a estrutura da produção em expansão e garante um crescimento econômico extremamente elevado.
As tentativas de Trump de limitar o desenvolvimento da China por meio de métodos de guerra comercial fracassaram. Ao mesmo tempo, este ataque ricocheteou, prejudicando os próprios Estados Unidos da América. Em seguida, os americanos abriram uma frente de guerra biológica, lançando o coronavírus na China, na esperança de que a liderança chinesa não lidasse com a epidemia e o caos surgisse na China. No entanto, a epidemia mostrou pouca eficácia dos setores de saúde e criou o caos nos próprios EUA. O sistema de gerenciamento chinês também mostrou eficiência muito maior que a dos EUA. Na China, a taxa de mortalidade é significativamente menor pois lidaram com a pandemia muito mais rapidamente. Já em 2020, chegaram a atingir um crescimento econômico de 2%, enquanto nos EUA houve uma queda de 10% do PIB (analistas notaram que esta foi a maior queda desde a Segunda Guerra Mundial). Agora os chineses recuperaram as taxas de crescimento de cerca de 7% ao ano e não há dúvida de que a China continuará se desenvolvendo com confiança, ampliando a produção de um novo modo tecnológico.
A epidemia mostrou pouca eficácia dos setores de saúde e criou o caos nos próprios EUA. O sistema de gerenciamento chinês também mostrou eficiência muito maior que a dos EUA.
Paralelamente à guerra comercial contra a China, os serviços especiais norte-americanos estavam preparando uma guerra contra a Rússia, pois a tradição geopolítica anglo-saxônica considera nosso país o principal obstáculo ao estabelecimento da dominação mundial pela elite financeira dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
Devo dizer que a guerra contra a Federação Russa se desenrolou imediatamente após a anexação da Crimeia, fato que ocorreu após os serviços especiais americanos terem organizado um golpe na Ucrânia. Pode-se dizer que os EUA enganaram a Rússia para que esta concordasse com a ocupação americana da Ucrânia, considerando-a um fenômeno temporário. No entanto, os americanos se enraizaram na Praça Maidan, criando não apenas pontos fortes, mas abrigando nazistas sob sua asa. Também treinaram forças armadas nazistas e deram a esses nazistas a oportunidade de obter uma educação militar em suas academias além de "ofuscar” todas as Forças Armadas da Ucrânia para obter seu apoio. Durante oito anos prepararam as Forças Armadas da Ucrânia para combater um único inimigo, a Rússia. E ao mesmo tempo, a mídia de massa, que também é completamente controlada pelos americanos na Ucrânia, forjou uma imagem da Rússia como inimigo, na consciência pública.
A guerra contra a Federação Russa se desenrolou imediatamente após a anexação da Crimeia, fato que ocorreu após os serviços especiais americanos terem organizado um golpe na Ucrânia.
Além disso, os EUA têm usado a moeda e o front financeiro em uma guerra híbrida contra a Federação Russa. Já em 2014, eles impuseram as primeiras sanções financeiras e eliminaram uma parte significativa dos empréstimos ocidentais para a economia russa. Agora estamos vendo ocorrer a fase seguinte, na qual efetivamente eles desconectaram a Rússia do sistema monetário e financeiro global, que eles dominam. No entanto, tudo isso foi previsto por mim há 10 anos, com base na teoria da mudança dos padrões econômicos mundiais e na lógica específica da elite dominante dos EUA, focada na dominação mundial. A geopolítica anglo-saxônica é tradicionalmente orientada contra o Império Russo e seus sucessores, a URSS e a Federação Russa, porque, desde a época do Império Britânico, a Rússia é vista como o principal oponente dos anglo-saxões. Toda a chamada ciência geopolítica escrita em Londres se reduz, de fato, a um conjunto de recomendações sobre como destruir a Rússia como força dominante na Eurásia. Refiro-me a todo esse tipo de construções especulativas do tipo “países do mar contra países da terra” e outros conceitos semelhantes.
— Por que a Rússia interferiu tanto nos “países do mar”? Afinal, geograficamente nunca fizemos fronteira com o Reino Unido.
— A este respeito, foi inventada uma fórmula: “Quem controla a Eurásia controla o mundo inteiro”. Na verdade, a aplicação desse desenvolvimento já foi bem longe. O famoso teorema de Zbigniew Brzezinski diz que para derrotar a Rússia como superpotência é necessário a arrancar a Ucrânia dela. Todo esse dogma político, que ao que parece já entrou para a história há muito tempo, no entanto ainda é reproduzido hoje no pensamento da elite política americana. Devo dizer que ainda existem cursos de geopolítica do século 19 acontecendo em Harvard e na Universidade de Yale, afiando os cérebros dos futuros políticos americanos contra a Rússia. Então eles, de fato, mergulharam nessa velha e testada corrente russofóbica, uma característica antiga da geopolítica anglo-saxônica. E, considerando a Rússia como o principal oponente à sua dominação no mundo, eles usaram a Ucrânia como um posto avançado, ou melhor, como uma ferramenta para minar a Rússia, buscando enfraquecê-la e, no futuro, destruí-la como Estado soberano, de acordo com a proposta de Brzezinski.
Então, o que está acontecendo hoje era bem previsível, com base em uma combinação de padrões de desenvolvimento econômico de longo prazo os quais, na verdade, condenaram o mundo a uma guerra híbrida e à tradicional russofobia da elite política anglo-saxônica.
Durante oito anos, os EUA prepararam as Forças Armadas da Ucrânia para combater um único inimigo, a Rússia.
Depois que o enfraquecimento da China não se concretizou na confrontação representada pela guerra comercial, os americanos desviaram o golpe principal de seu poder militar e político contra a Rússia, que eles consideram um elo fraco na geopolítica e na economia global. Além disso, os anglo-saxões procuram estabelecer o domínio sobre a Rússia para implementar suas eternas ideias russofóbicas para destruir nosso país e, ao mesmo tempo, enfraquecer a China, pois a aliança estratégica entre a Federação Russa e a China é muito dura para os EUA. Eles não têm poder econômico nem militar para nos destruir juntos, se não estivermos separados. Então, os EUA inicialmente tentaram nos colocar em desacordo com a China. Eles não conseguiram. Mas, aproveitando-se de nossa, eu diria, complacência, tomaram o controle da Ucrânia, e hoje estão usando a nossa república fraterna como arma de guerra para destruir a Rússia e depois para tomar nossos recursos de modo a, repito, fortalecer sua posição e enfraquecer a posição da China. Em geral, tudo isso é óbvio, como duas vezes dois são quatro.
Considerando a Rússia como o principal oponente à sua dominação no mundo, eles usaram a Ucrânia como um posto avançado, ou melhor, como uma ferramenta para minar a Rússia.
— Provavelmente é óbvio, mas não para todos. Existem muitos oponentes de uma aliança com a China dentro da elite russa. Pelo menos antes da operação especial na Ucrânia, a essas pessoas parecia que a cultura americana e ocidental era mais clara e mais próxima de nós que a sabedoria hieroglífica chinesa e que sempre encontraríamos uma linguagem comum com nossos “parceiros ocidentais”.
—Você sabe, em 2015 eu escrevi o livro “A Última Guerra Mundial. Os Estados Unidos a iniciam e a perdem”, que você mencionou no início da conversa — tudo foi pensado e justificado ali. Os Estados Unidos lançaram uma guerra híbrida global começando com as *Revoluções Laranja* – para perturbar as regiões do mundo que não controlavam – a fim de fortalecer sua posição e enfraquecer a posição de seus concorrentes geopolíticos. Após o famoso discurso do presidente Putin em Munique (fevereiro de 2007), os americanos perceberam que haviam perdido o controle da Rússia de Yeltsin e ficaram seriamente preocupados.
Os anglo-saxões procuram estabelecer o domínio sobre a Rússia para implementar suas eternas ideias russofóbicas para destruir nosso país e, ao mesmo tempo, enfraquecer a China, pois a aliança estratégica entre a Federação Russa e a China é muito dura para os EUA.
Em 2008, a crise financeira eclodiu e ficou claro que a transição para uma nova ordem tecnológica estava começando, e a velha ordem econômica mundial e o antigo sistema de gestão não produziam mais um progressivo desenvolvimento econômico. A China assume a liderança. Bem, então a lógica da guerra mundial se desenrola, só que não nas formas que existiam há 100 anos, mas em três frentes condicionais: monetária e financeira (onde os Estados Unidos ainda dominam o mundo), comercial e econômica (onde já perderam a primazia para a China) e informacional e cognitiva (onde os americanos também possuem tecnologias superiores). Os EUA estão usando as três frentes para tentar manter a iniciativa e manter a hegemonia de suas grandes empresas.
E, finalmente, a quarta frente – a biológica, que se abriu com o aparecimento do coronavírus no laboratório EUA-China em Wuhan. Hoje vemos que toda uma rede de laboratórios biológicos existia na Ucrânia. Assim, os Estados Unidos há muito se preparam para abrir uma frente biológica para a Terceira Guerra Mundial.
A quinta e mais óbvia frente é, de fato, a frente das operações militares - como a última ferramenta para forçar os Estados que eles controlam a obedecê-los, implicitamente. Hoje, a situação nesta frente também está piorando.
Os Estados Unidos há muito se preparam para abrir uma frente biológica para a Terceira Guerra Mundial.
Em outras palavras, operações ativas estão em andamento nas cinco frentes da guerra híbrida global e é possível prever o resultado. Os americanos não conseguirão vencer, assim como os britânicos não conseguiram em seu tempo. Embora a Grã-Bretanha tenha vencido formalmente a Segunda Guerra Mundial, eles perderam política e economicamente. Os britânicos perderam todo o seu império, mais de 90% de seu território e 95% de sua população. Dois anos depois da Segunda Guerra Mundial, onde foram vencedores, seu império desmoronou como um castelo de cartas, porque os outros dois vencedores – a URSS e os Estados Unidos – não precisavam desse império e o consideravam um anacronismo. Da mesma forma, o mundo não precisará das corporações multinacionais americanas, do dólar americano, da moeda americana, das tecnologias financeiras e das pirâmides financeiras americanas. Tudo isso em breve será coisa do passado. O Sudeste Asiático se tornará líder óbvio no desenvolvimento econômico global, e uma nova ordem econômica mundial se formará diante de nossos olhos.
'O velho sistema monetário financeiro vive seus últimos dias'
—Parafraseando Remarque, podemos dizer que as mudanças finalmente chegaram ao front ocidental. Mas que sinais você vê da morte iminente desse poderoso sistema global?
— Depois que os americanos apreenderam as reservas cambiais venezuelanas e as entregaram à oposição, em seguida fizeram o mesmo com as reservas afegãs, e antes disso haviam apreendido as reservas iranianas, e agora as russas, ficou absolutamente claro que o dólar deixou de ser a moeda mundial. Acompanhando os americanos, a mesma estupidez também acometeu os europeus – o euro e a libra também deixaram de ser moedas mundiais. Portanto, o velho sistema monetário financeiro está vivendo seus últimos dias. Depois dos dólares americanos, dos quais ninguém precisa, estarem sendo retornados para os EUA pelos países asiáticos, o colapso do sistema monetário e financeiro global baseado em dólares e euros é inevitável. Países líderes estão mudando para moedas nacionais, e o euro e o dólar não são mais moedas de troca e reservas cambiais internacionais.
— Como você vê o mundo após o desaparecimento do monopólio do dólar?
— Estamos atualmente trabalhando em um projeto de acordo internacional que irá introduzir uma nova moeda de liquidação mundial que será atrelada às moedas nacionais dos países participantes e aos bens negociados em bolsa que determinam seus valores reais. Não precisaremos dos bancos americanos e europeus. Um novo sistema de pagamento baseado em modernas tecnologias digitais com blockchain está se desenvolvendo no mundo, onde os bancos estão perdendo sua importância. O capitalismo clássico baseado em bancos privados é coisa do passado. O direito internacional está sendo restaurado. Todas as principais relações internacionais, incluindo o problema da circulação de uma moeda mundial, estão começando a ser formadas com base em contratos. Ao mesmo tempo, a importância da soberania nacional está sendo restaurada, porque os países soberanos estão chegando a um acordo. A cooperação econômica global baseia-se em investimentos conjuntos destinados a melhorar o bem-estar dos povos. A liberalização do comércio deixa de ser prioridade, as prioridades nacionais são respeitadas e cada Estado constrói um sistema de proteção do mercado interno e seu espaço econômico que cada Estado considera necessário. Em outras palavras, a era da globalização liberal acabou. Diante de nossos olhos, uma nova ordem econômica mundial está se formando – uma ordem integral, na qual alguns estados e bancos privados perdem seu monopólio privado de emissão de dinheiro, de uso de força militar e assim por diante.
O capitalismo clássico baseado em bancos privados é coisa do passado. O direito internacional está sendo restaurado.
— E por que você chamou seu livro de “A Última Guerra Mundial?” O que faz você esperar que esta guerra global seja realmente a última?
— Chamei essa guerra mundial de última, porque hoje vemos que existem vários cenários de saída desta crise atual. O primeiro cenário, que já descrevi, é calmo e próspero. Consiste em superar o monopólio dos EUA. Para fazer isso no setor financeiro, é necessário abandonar o dólar. Para superar o monopólio na esfera informacional e cognitiva, precisamos isolar nosso espaço informacional do espaço informacional americano e fazer uma mudança para nossas próprias tecnologias de informação. Criando sua própria estrutura de reprodução econômica, mas sem o dólar e o euro, e contando com suas próprias tecnologias de informação para administrar seu dinheiro, os países da nova ordem econômica mundial garantem altas taxas de desenvolvimento econômico, enquanto o mundo ocidental entra em colapso. Existe uma situação de colapso das pirâmides financeiras, de desorganização e uma cada vez maior crise econômica, agravada pelo aumento da inflação devido à emissão descontrolada de dinheiro nos últimos 12 anos.
O segundo cenário possível para o desenvolvimento dos eventos é semelhante ao que Hitler queria implementar durante a mudança anterior das estruturas econômicas mundiais. Esta é uma tentativa de criar um governo mundial com uma ideologia sobre-humana. Se Hitler pensava em uma nação alemã de super-humanos, então os atuais ideólogos da dominação mundial impõem à humanidade uma transição para um estado pós-humanoide.
Em contraste com o pós-humanismo do Ocidente, os países centrais da nova ordem econômica mundial são caracterizados por uma ideologia socialista, ainda que com respeito aos interesses privados, proteção da propriedade privada e uso de mecanismos de mercado. Na China, Índia, Japão e Coréia, a ideologia socialista – ou melhor, uma mistura de ideologia socialista, interesses nacionais e competição de mercado – domina. É essa mistura que forma um poder e uma elite política fundamentalmente novos, focados no desenvolvimento econômico e no crescimento do bem-estar das nações.
Políticos, intelectuais e empresários ocidentais possuem diferentes abordagens. O que estamos vendo hoje é uma tentativa de criar uma certa imagem de uma nova ordem mundial com um governo mundial à frente, onde as pessoas são levadas para um campo de concentração eletrônico. Você pode ver pelo exemplo das restrições durante a pandemia, como aconteceu: todas as pessoas recebem etiquetas, o acesso aos bens públicos é regulado por códigos QR e todos são obrigados a andar em formação. A propósito, no cenário produzido pela Fundação Rockefeller em 2009, sobre o controle de uma pandemia, de fato, tudo o que aconteceu foi apresentado de uma maneira impressionante – eles realmente predisseram o futuro. Esse cenário foi chamado de Lock Step , ou seja, “Andar em formação”, e o mundo ocidental o escolheu. Ao sacrificar seus próprios valores democráticos, as pessoas estão sendo forçadas a obedecer a comandos. Organizações internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde, são utilizadas como uma espécie de base para a montagem de um governo mundial subordinado ao capital privado.
Mas, devo dizer, Donald Trump atrapalhou muito esses planos, pois impediu a assinatura dos acordos das parcerias Transatlântica e Transpacífica, onde todos os países participantes dos tratados sacrificariam sua soberania nacional em todas as disputas com o grande capital. E é necessário entender que hoje qualquer multinacional pode atuar como investidor estrangeiro, inclusive nos Estados Unidos. Segundo esses acordos, caso o capital estrangeiro estivesse presente em um negócio, em uma disputa com o governo nacional, um tribunal de arbitragem internacional seria formado, mas sem ficar claro como e por quem ele seria preparado. E esses juízes não eleitos, nomeados, de fato, por grandes empresas internacionais, resolveriam essas disputas. Na verdade, a questão era que o Estado estava perdendo toda a soberania na regulação das relações com o grande capital. No entanto, Trump interrompeu o acordo e os Estados Unidos não o assinaram. Assim, o processo de formação de um governo mundial foi interrompido. Esta é a segunda alternativa, e atualmente ela está experimentando uma crise devido ao colapso da ideia de globalização e ao abandono gradual das restrições “pandêmicas”.
Organizações internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde, são utilizadas como uma espécie de base para a montagem de um governo mundial subordinado ao capital privado.
Devemos entender que a opção do governo mundial é incompatível com uma Rússia soberana, com nossa independência e nosso papel no mundo. No cenário globalista, a Federação Russa é considerada como um território destinado a ser explorado pelas corporações multinacionais ocidentais. Ao mesmo tempo, a “população indígena” deve servir a seus interesses. Nesse cenário, a Rússia desaparece como entidade independente, assim como a China. O governo do mundo ocidental pode incorporar alguns de nossos oligarcas em sua própria versão do futuro, mas apenas em papéis de segunda e terceira importância.
O terceiro cenário é catastrófico. A destruição da humanidade…
Agonia da elite dominante dos EUA
— O apocalipse de que todos estão falando?
— Bem, nem todos. Mas com certeza todos estão com medo. Aliás, sobre os laboratórios biológicos americanos que sintetizam vírus perigosos, eu disse em meu outro livro, publicado um pouco mais tarde: “A peste do século XXI: como evitar o desastre e superar a crise?” Me lembro que em 1996, quando tive que trabalhar no Conselho de Segurança da ONU, propus desenvolver um conceito nacional de biossegurança. Porque mesmo naquela época, há quase 30 anos, a genética era uma ciência suficientemente avançada para sintetizar vírus dirigidos contra pessoas de uma determinada raça ou de um determinado sexo, ou de uma determinada idade. Isso é possível há muito tempo. Você pode criar um vírus que funcionaria apenas contra brancos ou, inversamente, apenas contra negros, apenas contra homens ou apenas contra mulheres. Agora os americanos estão indo mais longe - você pode ver que, de acordo com os dados do nosso Ministério da Defesa, anunciados no dia anterior, os laboratórios biológicos americanos estavam desenvolvendo vírus contra os eslavos. Aparentemente, agora é possível fazer um vírus que funciona contra algum grupo étnico que tenha seu próprio código genético.
O que está acontecendo na Ucrânia hoje é um eco da agonia da elite dominante dos EUA, que não consegue aceitar que não será mais líder mundial. Isso está ficando claro para todos – pelo menos para aqueles que não estão ligados aos americanos por seus interesses e não estão sujeitos à sua influência cognitiva.
O que está acontecendo na Ucrânia hoje é um eco da agonia da elite dominante dos EUA.
Eis um exemplo. Quando os Estados Unidos impuseram sanções contra a Rússia em 2014, eu perguntei a meus colegas chineses: “Vocês acham que os americanos podem impor sanções à China?” Eles disseram ter certeza que não. Disseram que era impossível porque os Estados Unidos dependeriam tanto da China quanto a China dependeria dos Estados Unidos. Ou seja, sairia mais caro para os EUA. Dois anos depois, Trump lançou uma guerra comercial contra a China. E Pequim agora entende que os Estados Unidos são um inimigo que tentará afundar o milagre econômico chinês de todas as maneiras possíveis. Antes disso, meus colegas chineses não estavam muito convencidos de meus argumentos, assim como meu livro mencionado por você no início não influenciou muito nossa elite política e econômica. Meus argumentos foram rejeitados. Embora tivéssemos dito por muitos e muitos anos que o dólar deveria ser abandonado. As reservas cambiais deveriam ter sido retiradas de instrumentos denominados em dólares e de instrumentos denominados em euros e convertidas para ouro. Eles deveriam ter mudado suas reservas para sua própria moeda e para seu sistema financeiro. Deveriam ter desenvolvido seus próprios sistemas de liquidação em moedas nacionais com seus parceiros. Propomos tudo isso desde os anos noventa, quando já estava claro para onde o desenvolvimento econômico global estava levando. E só agora, finalmente, todos viram a luz.
— A julgar pelo uivo de cortar o coração que vem do campo dos liberais, bem como pelos eventos na Ucrânia, nem todos viram a luz ainda.
— Sim, estamos diante do fato de que os americanos conseguiram enganar durante oito anos tanto o povo ucraniano que as pessoas que resistem ao exército russo, as chamadas Forças Armadas da Ucrânia, parecem simplesmente zumbificadas. Elas estão sendo controladas como marionetes. Não é Zelensky quem comanda o exército ucraniano, nem mesmo o Ministério da Defesa da Ucrânia e o Estado-Maior, mas o Pentágono. E ele comanda de forma muito eficaz do ponto de vista da luta “até o último soldado ucraniano”, porque esses caras zumbis não desistem. Mas eles estão em uma situação absolutamente desesperadora. Todos os especialistas já reconheceram que a Rússia ganhou a operação especial militar, que a Ucrânia não tem chance de resistência, que toda a infraestrutura militar foi destruída… as Forças Armadas da Ucrânia só podem se render para minimizar as perdas humanas. No entanto, oficiais ucranianos (e especialmente, é claro, os nacionalistas) agem como zumbis controlados externamente - eles seguem instruções do Pentágono, que são recebidas em seus computadores pessoais e tablets especiais.
Além disso, os americanos comandam seus fantoches das Forças Armadas da Ucrânia, dividindo-os em unidades apropriadas. Cada unidade recebe um número e cada número recebe tarefas por inteligência militar artificial todos os dias. Eles realmente transformaram de 150 a 200 mil pessoas em uma máquina de luta que funciona sem pensar, apenas segue estupidamente todas as suas ordens. Por 8 anos, eles conseguiram forçar uma parte significativa da juventude da Ucrânia não apenas a cerrar fileiras contra a Rússia, mas fazendo uma lavagem cerebral, os transformaram propriamente em suas ferramentas de vontade fraca. Não apenas bucha de canhão, mas bucha de canhão controlada.
Estando em uma situação absolutamente desesperadora, cercados, privados de quaisquer suprimentos, eles mesmo assim continuam lutando uma guerra sem sentido, condenando-se à morte e arrastando os civis ao seu redor para o túmulo. Este é um bom exemplo de como as tecnologias modernas americanas funcionam. Devemos entender que estamos diante de uma força muito poderosa. Você sabe, já ouvimos de especialistas e políticos russos que os próprios ucranianos irão sufocar economicamente e depois rastejarão em nossa direção e, em geral, imaginam para onde a Ucrânia poderá ir sem nós. Afinal, a Ucrânia não poderá garantir a reprodução da economia sem nossos recursos e cooperação conosco. De fato, a Ucrânia entrou em um estado de catástrofe econômica, como esperávamos, como explicamos aos nossos colegas ucranianos. A República da Ucrânia tornou-se o estado mais pobre da Europa, juntamente com a Moldávia. Devido ao fato da Ucrânia ter cortado os laços com a Rússia, suas perdas somam mais de US$ 100 bilhões. No entanto, isso não impediu que estrategistas e instrutores políticos americanos e britânicos formassem um exército de 200 mil bandidos e assassinos que representam de forma completamente inadequada a realidade e são uma ferramenta obediente aos interesses americanos.
— Não existem fantoches americanos igualmente obedientes na Rússia? Foram apenas os ucranianos que foram zumbificados?
— Sim, e aqui deve-se notar que quase a mesma coisa está acontecendo com o Banco Central, mas apenas em outras questões.
— Antes de passarmos ao Banco Central, deixe-me esclarecer. Você disse que está trabalhando na introdução de uma nova moeda. E em que formato e com que equipe?
— Estamos fazendo isso há muito tempo, com um grupo de pesquisadores. Há 10 anos, no Fórum Econômico de Astana, apresentamos o relatório “Towards Sustainable Growth through a Fair World Economic Order” com um projeto de transição para um novo sistema financeiro e monetário global, no qual propusemos reformar o sistema do FMI com base nos chamados direitos especiais de saque, com o objetivo de criar uma moeda de liquidação mundial. Essa ideia, aliás, despertou grande interesse na época: nosso projeto foi reconhecido como o melhor projeto econômico internacional. Mas, em um sentido prático, nenhum dos estados representados pelas autoridades monetárias oficiais se interessou por esse projeto, embora as publicações de Nursultan Nazarbayev, que propôs uma nova moeda, tenham ocorrido. Acho que ele ofereceu a Altyn.
— Altyn? É interessante.
— Sim, seu artigo sobre esse assunto foi publicado até no Izvestia. Mas negociações e decisões políticas não foram alcançadas, e até hoje é apenas uma proposta de especialistas. Mas estou certo de que a situação atual nos obriga a criar novos instrumentos de pagamento e de liquidação muito rapidamente, porque o dólar será praticamente impossível de usar, e o rublo não pode encontrar estabilidade devido à política incompetente do Banco Central que, de fato, atua no interesse de especuladores internacionais.
Objetivamente, o rublo poderia se tornar uma moeda de reserva junto com o yuan e a rupia. Seria possível mudar para um sistema multi-moedas baseado em moedas nacionais. Mas você ainda precisa de algum equivalente para precificação…Atualmente estamos trabalhando no conceito do espaço de troca da União Econômica da Eurásia, onde uma das tarefas é formar novos critérios de precificação. Ou seja, se queremos que os preços dos metais sejam formados não em Londres, mas na Rússia, assim como os preços do petróleo, isso implica o surgimento de alguma outra moeda, especialmente se quisermos atuar não apenas dentro da União Econômica da Eurásia, mas na Eurásia em um sentido lato, no centro de uma nova ordem económica mundial, como a China, a Índia, a Indochina, o Japão, a Coreia e o Irã. Estes são grandes países que têm seus próprios interesses nacionais fortes. Após o histórico atual de confisco de reservas em dólar, não acho que nenhum país queira usar a moeda de outro país como moeda de reserva. Então, precisamos de uma nova ferramenta. E tal ferramenta, do meu ponto de vista, pode primeiro se tornar uma certa moeda sintética de liquidação, que seria construída como um índice agregado.
O rublo poderia se tornar uma moeda de reserva junto com o yuan e a rupia. Seria possível mudar para um sistema multi-moedas baseado em moedas nacionais
— Pode me dar alguns exemplos? O que é isso?
— Bem, digamos que já ocorreu essa experiência na União Europeia. O Ecu (European currency unit) foi construído como uma cesta de moedas. Todos os países que participam da criação de uma nova moeda de liquidação devem ter o direito de ter sua moeda nacional nessa cesta. E a moeda comum é formada como um índice, como um componente médio ponderado dessas moedas nacionais. Bem, a isso devemos acrescentar, do meu ponto de vista, commodities negociadas em bolsa de valores: não apenas ouro, mas também petróleo, metal, grãos e água. Uma espécie de pacote de commodities, que, segundo nossas estimativas, deve incluir cerca de 20 produtos. Eles, de fato, formam proporções globais de preços e, portanto, devem participar da cesta para formar uma nova moeda de liquidação. E precisamos de um tratado internacional que defina as regras para a circulação dessa moeda e crie uma organização como o Fundo Monetário Internacional. Aliás, propusemos reformar o FMI há 15 anos, mas agora já é óbvio que o novo sistema financeiro monetário terá que ser construído sem o Ocidente. Talvez um dia a Europa se junte a ela e os Estados Unidos também sejam forçados a reconhecê-la. Mas ainda está claro que teremos que construir sem eles, por exemplo, com base na Organização de Cooperação de Xangai. No entanto, estes são apenas ideias desenvolvidas por especialistas que iremos submeter aos órgãos oficiais para consideração no próximo mês.
— Vão submeter ao nível do governo ou ao nível do presidente?
— Vamos enviá-lo primeiro aos departamentos responsáveis por essas questões. Faremos discussões, desenvolveremos algum entendimento comum e, então, chegaremos ao nível político.
Banco Central da Rússia e FMI
— Em seu canal do Telegram, você escreve que só falta nacionalizar o Banco da Rússia. Por que ainda não foi concluído? Aqui, por exemplo, há um ponto de vista de que Elvira Nabiullina permanece em seu posto, mas não conseguirá fazer mais nada sério. Você pode refutar ou confirmar isso?
— Sabe, não quero fazer teoria da conspiração.
— Isso é uma teoria da conspiração?
— Sim, podemos falar sobre o Deep State americano em termos de conspiração. Nesse caso, a teoria da conspiração é uma linha de pensamento muito apropriada, porque nos Estados Unidos, por trás da tela de presidentes e congressistas, existem algumas forças profundas – os serviços especiais. Mas no nosso País, tudo é simples. Temos um presidente, um chefe de Estado, que construiu uma vertical de poder. Compreendemos absolutamente como o parlamento e o sistema judicial são formados. Aqui, em geral, nenhuma teoria da conspiração pode ser aplicada. O mesmo vale para o Banco Central. Deixe-me lembrá-lo que, de acordo com a lei do Banco Central, todos os seus bens são propriedade federal. Portanto, o Banco Central é uma estrutura de Estado, disso não há dúvidas.
— E sempre diziam que ele estava separado, como se estivesse à margem.
— O Conselho de Administração do Banco Central é nomeado pela Duma do Estado, por recomendação do Presidente. Trabalhei por muitos anos como seu representante no Conselho Nacional de Bancos, que supervisiona as atividades do Banco Central. Posso dizer que não há dúvidas de que o Banco Central é o órgão estatal que regula a circulação monetária, sendo também o principal regulador financeiro do país.
Mas há nuances. A Constituição estipula que o Banco Central deve conduzir sua política de forma independente, ou seja, ele é independente do governo. Mas isso não significa que seja independente do Estado. O Banco Central é uma agência governamental. Nosso sistema judicial também é oficialmente independente do governo. Portanto, sendo um órgão independente, o Banco Central é, no entanto, constituído como um órgão regulador estadual e deve cumprir as tarefas que são necessárias para o desenvolvimento de nossa economia. Para isso, é necessário envolver o Banco Central em um planejamento estratégico. A teoria clássica da circulação monetária estipula que o principal objetivo das autoridades monetárias, ou seja, do Banco Central, deve ser o de criar condições para maximizar o investimento. Isso é exatamente o que o sistema bancário deve fazer – maximizar o investimento. Porque quanto mais investimento, maior a produção, quanto maior o nível técnico, menores os custos e menor a inflação e mais estável a economia. A estabilização macroeconômica na economia moderna só pode ser alcançada com base em progresso científico e tecnológico acelerado. As tentativas de colocar uma meta de inflação a ser atingida (uma palavra da moda) que o Banco Central vem praticamente imitando nos últimos 10 anos, manipulando a essencial taxa de juros, em um contexto da taxa de câmbio do rublo livre flutuante, são míopes, primitivas e contraproducentes. Essas medidas costumam ser recomendadas pelo FMI para países subdesenvolvidos que não sabem pensar por si mesmos.
O que é a meta de inflação, na prática? Trata-se de um conjunto de medidas extremamente primitivo e internamente contraditório, cuja aplicação leva a economia a uma armadilha estagflacionária. O Banco Central jogou o rublo em flutuação livre, o que é um absurdo do ponto de vista de metas de inflação em uma economia aberta, onde o câmbio afeta diretamente os preços. E vemos como a desvalorização do rublo acelera periodicamente os preços. Além disso, eles reduziram a política monetária a apenas uma ferramenta absolutamente primitiva – a manipulação da taxa de juros básica. Mas a taxa básica é a taxa com a qual o Banco Central emite dinheiro para a economia e retira dinheiro da economia. Suas tentativas de suprimir a inflação elevando a taxa de juros não podem ter sucesso na economia moderna, porque quanto mais alta a taxa de juros, menos crédito, menos investimento, menor o nível técnico e menor a competitividade. Um declínio desta última levou a uma desvalorização do rublo nos últimos 3 a 4 anos, depois de aumentar a taxa de juros ostensivamente para combater a inflação. Ao deixar a taxa de câmbio do rublo flutuar livremente, eles essencialmente a deixaram à mercê dos especuladores de moeda.
Os americanos gostam muito dessa política, por isso elogiam fortemente a liderança do nosso Banco Central e do Ministério da Fazenda. Afinal, o que é importante para eles? Que tudo fique atrelado ao dólar, que o rublo seja uma moeda “lixo” instável. E isso é um paradoxo, porque o número de reservas cambiais da Federação Russa foi recentemente 3 vezes maior que a oferta de dinheiro em rublos! Isso significa que o Banco Central poderia estabilizar a taxa de câmbio em qualquer nível. Mas ele não o fez.
E quem são os especuladores a quem o Banco Central realmente jogou o rublo à mercê? Os principais especuladores são os fundos de hedge americanos, que na verdade formam a taxa de câmbio do rublo manipulando o mercado. E o Banco Central não percebe isso, ou melhor, parece não perceber. Para mantê-los no mercado de câmbio elevando a taxa de juros, o Banco Central mata o crédito e torna nossa economia dependente de fontes externas de crédito, e o sistema financeiro cambial dependente dos interesses dos especuladores. É no interesse dos especuladores que o Banco Central está trabalhando, escondendo-se atrás de chavões como “metas de inflação”, uma política que falhou vergonhosamente nos últimos anos em termos de dinâmica real de preços. Portanto, temos que o ponto mais fraco de todo o sistema de segurança nacional em geral é o Banco Central. Sua liderança é dominada pelas armas cognitivas do inimigo, ou seja, está zumbificada por elas. De fato, nossas autoridades monetárias estão fazendo o que o inimigo precisa.
A propósito, provei matematicamente e cronologicamente que a primeira onda de sanções foi imposta contra a Rússia somente depois que o Banco Central preparou o terreno para isso, ou seja, deixou a taxa de câmbio do rublo flutuar livremente e anunciou que aumentaria a taxa de juros se a inflação começasse [a representar um problema para] o país. Assim que o Banco Central adotou essa estranha política, os americanos imediatamente impuseram sanções. Seus especuladores garantiram o colapso da taxa de câmbio do rublo, o que causou uma onda inflacionária, e o Banco Central, por ordem do FMI, elevou a taxa de juros, o que paralisou completamente nossa economia. O dano total causado por essa política já atingiu 50 trilhões de rublos de produtos não produzidos e aproximadamente 20 trilhões de rublos de investimentos não realizados. Agora precisamos adicionar a isso US$ 300 bilhões investidos em ativos estrangeiros que estão atualmente congelados – esse é o prejuízo.
Portanto, quando falamos em nacionalizar o Banco Central, não estamos falando em nacionalizá-lo formalmente (pois já está nacionalizado), mas em trazê-lo para uma política condizente com os interesses nacionais. Agora sua política é contrária aos interesses nacionais. E não há nenhuma teoria da conspiração aqui. Podemos ver no interesse de quem tal política está sendo implementada. O Banco Central elevou a taxa de juros para 20%, dando aos banqueiros uma posição dominante na economia. Tendo o recurso mais caro e escasso, o dinheiro, eles determinam qual empresa sobreviverá e qual empresa morrerá, falirá e assim por diante. O aumento das taxas de juros torna toda a economia russa refém de um punhado de banqueiros. Este é o primeiro ponto. Em segundo lugar, a gestão do Banco Central permitiu outro colapso da taxa de câmbio do rublo e fechou o câmbio. Como resultado, hoje os bancos se tornaram os principais especuladores de moeda: eles compram moeda estrangeira por cerca de 90 rublos por dólar e a vendem por 125 rublos. A diferença se estabelece para eles como um superlucro.
— Mas por que, na sua opinião, o Banco Central da Federação Russa faz essa política se ela atende o interesse do inimigo?
— Como eu disse, o Banco Central faz isso por recomendação do Fundo Monetário Internacional. Mas seus interesses também são compartilhados por nossos grandes bancos, que objetivamente gostam dessa política e da nossa moeda, assim como pelas estruturas financeiras, que também estão envolvidas na manipulação da taxa de câmbio do rublo. Assim, forma-se um lobby influente em torno dessa política que a apóia atendendo seus interesses privados. Esses interesses vão contra os interesses do país, são diretamente opostos a eles. E se você olhar para o que o Banco Central está fazendo hoje, não tenho dúvidas de que continua a fazer sua política de ceder ao inimigo. Isso prejudica a estabilidade macroeconômica porque permite que especuladores internacionais manipulem a taxa de câmbio do rublo e não controla a posição cambial dos bancos que se tornaram especuladores cambiais, embora o Banco Central pudesse facilmente retirar os bancos do mercado de câmbio fixando sua posição cambial, proibindo-os de comprar moeda. E em segundo lugar, ao aumentar a taxa de juros, o Banco Central acabou com os investimentos no desenvolvimento da economia russa, que são muito necessários agora, principalmente para realizar a substituição de importações e para restaurar a soberania econômica, enquanto nossa liderança diz que não devemos ter medo das sanções, pois elas criam condições para o crescimento econômico, para a substituição de importações.
Veja, cerca de um terço das importações do que importamos da União Europeia deixaram de chegar ao nosso mercado. Estas são grandes oportunidades para promover a substituição de importações. Se presumirmos que nossas empresas começarão a desenvolver esses mercados, poderemos nos desenvolver a uma taxa de 15% ao ano. Mas isso requer financiamento. A substituição de importações não pode ocorrer sem créditos. Precisamos de empréstimos para montar instalações de produção, desenvolver novas tecnologias e carregar instalações de produção ociosas. Há muito tempo desenvolvemos essa estratégia de desenvolvimento avançado na Academia de Ciências e a estamos promovendo. Mas, infelizmente, do nosso ponto de vista, essa política maluca do Banco Central possui estruturas influentes bastante específicas que gostam dela e a apoiam. É por isso que esta política é tão estável.
— Sergey Yuryevich. Se isso não é uma teoria da conspiração, então por que o Banco Central continua a perseguir essa política? Apenas com base nos interesses dos lobistas?
— "À quem é a guerra, à quem é a mãe" [Provérbio russo cujo significado é aproximadamente "Enquanto alguns morrem, outros constroem planos sob o princípio do máximo ganho possível" / NT] Os bancos comerciais obtêm um lucro de 40% na especulação cambial. Comprando a 90 rublos por dólar e vendendo por 125 rublos - não é fácil! Como resultado, estamos enfrentando inflação, as importações estão ficando mais caras e todo mundo vê esse câmbio maluco. Os preços de todos os bens estão subindo, mas os bancos estão obtendo superlucros.
De novo, um lobby muito influente se formou em torno dessa política e, para muitas pessoas, a admissão do fracasso de tal estratégia significa, de fato, admitir sua incompetência e até mesmo sabotagem.
E especuladores com grandes bancos são estruturas bastante influentes em nosso país a influenciar a tomada de decisões.
— Bem, e se a primeira pessoa não obtiver essa informação, ela é bloqueada?
— Quando eu era conselheiro, eu trouxe essa informação para você.
— Eles te ouviram?
— Sim, houve discussões, realizadas no Conselho Econômico, depois a discussão foi encerrada para não incomodar os funcionários. Não quero comentar agora. Vemos hoje que, se não mudarmos a política monetária, será impossível sobrevivermos a essa guerra híbrida.
Precisamos combater as sanções econômicas agora com um forte aumento na produção doméstica. Existem instalações de produção para isso, pessoas, matérias-primas, cérebros – também, mas não há dinheiro. Neste momento, a coisa mais simples que o Estado pode dar às pessoas é dinheiro.
— Qual é o seu sentimento? Existe algum entendimento no topo do governo?
— Acho que você precisa dirigir essa pergunta diretamente a eles.
— Mas muitas pessoas dizem que você é quase a pessoa número 1 na situação atual — uma figura pública que pode salvar a Rússia.
— Obrigado por sua avaliação. Tento o melhor que posso.
— Só quero entender: se não havia profeta em nossa Pátria antes, há agora? Esta é uma situação com o Banco Central é temporária?
— É muito antiga, eu diria que tem uns 30 anos. Se realizássemos uma política monetária competente de acordo com as exigências da nova ordem econômica mundial, o sistema integrado, nos desenvolveríamos como a China — 10% ao ano. Havia essas oportunidades. E estivemos praticamente marcando passo o tempo todo, durante esses 30 anos. Portanto, não é nem uma questão de saber se eles estão ouvindo ou não. É só olhar objetivamente e ver como a China e a Índia estão se desenvolvendo e como nós estamos nos desenvolvendo. O que nos impediu de desenvolver da mesma forma?
Além disso, o sistema de gestão da nova ordem econômica mundial, que descrevo em meus livros, é universal. Funcionou com sucesso no Japão até que os americanos interromperam o crescimento econômico japonês. E até na Etiópia, onde também começaram a formar esse modelo de gestão (e cresceram várias vezes). Em outras palavras, esse modelo de gestão universal da economia moderna, focado no crescimento do bem-estar público por meio do investimento em uma nova ordem tecnológica, precisa ser implementado. Ao mesmo tempo, é claro, o uso direcionado do dinheiro implica alta responsabilidade. Jogar dinheiro de um helicóptero não é uma boa coisa a ser feita.
— “Não é o nosso jeito de fazer as coisas."
— Estamos falando de uma emissão de crédito direcionada baseada em modernas ferramentas digitais com um rígido sistema de controle focado no investimento em novas tecnologias. Sabemos como fazer isso, como minimizar o fator humano introduzindo tecnologias digitais, incluindo o rublo digital. Mas isso não é lucrativo para quem ainda adere às estratégias anteriores. Eles fizeram da Rússia uma vaca leiteira e sugaram US$ 100 bilhões para empresas offshore. Mas agora os americanos fecharam essa offshorização para nós. Existe uma chance real, então devemos usá-la.
— O que você aconselharia as pessoas a fazerem? Agora, a principal consulta nos motores de busca da Internet é onde investir dinheiro na era da turbulência. O que as pessoas devem fazer?
— Em primeiro lugar, não faça movimentos bruscos, eu diria. Em qualquer caso, o que exatamente não é necessário é correr atrás de dólares ou euros. Porque não sabemos o que acontecerá com essas moedas no momento seguinte. Se nosso sistema estiver desconectado do sistema ocidental, nossos bancos não poderão efetivamente investir dólares e euros em nenhum lugar, exceto em especulação cambial. Mas espero que nossas autoridades irão restringir o mercado de câmbio.
Nesse contexto, o que os bancos fizeram, elevando acentuadamente a taxa de juros dos depósitos em moeda estrangeira, revelou-se um claro exagero, que estimulou o pânico. Acho que o rublo se estabilizará se, é claro, os especuladores forem removidos do mercado de câmbio e se a moeda for vendida apenas para importadores e pessoas que transferem dinheiro para o exterior dentro de limites razoáveis para parentes ou porque estão em viagem de negócios, de acordo com as regras. Caso contrário, bloqueie os canais por onde possa ocorrer vazamentos de moeda. Em seguida, a entrada de moeda voltará ao normal.
Você sabe, nós temos uma balança comercial muito positiva. Foi introduzida a venda obrigatória de 80% das receitas em moeda estrangeira. Se você vender essa receita na bolsa de valores, o volume de moeda será maior do que os importadores precisam. Teremos um excedente de moeda. Isso significa que a taxa de câmbio do rublo se fortalecerá, ou seja, retornará aos antigos indicadores - 80 ou até 70 rublos por dólar. Mas até que o Banco Central remova os especuladores do mercado e permita que os bancos comerciais se transformem realmente em bancos comerciais, a taxa de câmbio do rublo não se estabilizará. Então, infelizmente, as autoridades monetárias ainda não caíram em si e não começaram a implementar a política correta de estabilização macroeconômica, e não posso dar nenhum conselho além de investir em ouro, se possível (especialmente porque o governo retirou o Imposto de valor agregado do ouro). Não há outros ativos reais e portos seguros.
— “Então você sugere comprar ouro?”
— Compre produtos de primeira necessidade. Ou invista em imóveis, em algo confiável. Quanto a investir em dólares e euros… Já deixaram de ser uma moeda para nós. Não são mais uma moeda, mas sim obrigações de outros países que podem, ou não, ser cumpridas por seus respectivos governos. Então, precisamos buscar outras oportunidades. Mas gostaria de enfatizar mais uma vez que, com a política correta, podemos estabilizar o rublo muito rapidamente e até restaurar seu poder de compra.
— E em que perspectiva, afinal?
— Pode ser feito amanhã, sabe? Os governos de Primakov e Gerashchenko fizeram isso em apenas uma semana.
— O governo pode fazer isso?
— Claro que pode. Para fazer isso, de modo geral, você precisa tomar apenas duas decisões: corrigir a posição cambial dos bancos comerciais e introduzir padrões de venda de moeda para operações não comerciais e manter o mercado de câmbio livremente conversível apenas para operações comerciais. Isso é tudo. Você pode escrever essa regulação em 15 minutos e anunciá-la em um dia ou implementá-la em três dias. E o rublo se estabilizará.
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