"Deu liga", diz Lula, sobre sua nova relação com Biden
Prioridade da viagem foi restabelecer boa relação com Estados Unidos, diz presidente
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu neste sábado (11), antes de embarcar de volta ao Brasil, entrevista à jornalista Raquel Krähenbühl, correspondente da Globo em Washington, na qual comentou sobre sua viagem aos Estados Unidos, destacando os principais pontos das conversações com o presidente americano, Joe Biden.
Lula disse que sua prioridade foi restabelecer a boa relação com os Estados Unidos e reafirmar o compromisso com a democracia.
O líder brasileiro defendeu um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e a criação de um grupo internacional para negociar a paz na Ucrânia.
"A primeira coisa que nós fizemos foi um encontro das duas maiores democracias da América Latina, e nós sofremos os mesmos ataques com dois anos de diferença entre o Capitólio, entre o Congresso Nacional, a Suprema Corte e o Palácio do Planalto. O que eu acho que tem que ficar claro é que nós precisamos combater cada vez mais, com muita habilidade, com muita coragem, a extrema direita fascista que está surgindo no mundo. E nós temos que defender cada vez mais o exercício da democracia, porque somente na democracia é que a gente vai poder construir esse mundo de paz, esse mundo harmonioso, esse mundo produtivo que é esse mundo fraterno que nós sonhamos. Ou seja, nós combinamos de que vamos trabalhar muito fortemente na democracia em todos os fóruns que nós participarmos e, ao mesmo, tempo vamos estreitar a relação Brasil-Estados Unidos, que estava um pouco truncada. Há quatro anos que o Brasil não fazia contato com os Estados Unidos. E os Estados Unidos faziam poucos contatos com o Brasil. Ou seja, é impensável que duas maiores economias possam ficar tanto tempo sem conversar sobre acordo econômico, sobre acordo comercial, sobre política, sobre transição energética, sobre transição ecológica. Ou seja, nós temos um mundo pela frente para trabalhar. Temos um mundo para ser construído e isto tudo precisa ser feito em fortalecimento da democracia. Se a gente não fizer isso, a democracia perde valor e as pessoas precisam entender que a democracia é a melhor forma de governo que existe no planeta Terra".
O presidente brasileiro disse que não foi aos EUA para discutir a ajuda de 50, de 100, de 200, de 10 milhões de dólares. "A discussão não é essa. A discussão é a seguinte: o Brasil é o maior potencial de transição ecológica que pode acontecer no Brasil. O Brasil tem energia limpa, mais do que qualquer país do mundo. O Brasil tem uma floresta extraordinária a preservar. O Brasil tem cinco biomas que nós queremos cuidar bem e, sobretudo, a questão da Amazônia, que todo mundo fala, é que a Amazônia é um território soberano no Brasil. O que nós queremos é compartilhar com o mundo a possibilidade de, primeiro, pesquisar e estudar profundamente a riqueza da nossa biodiversidade. E compartilhar com eles, aí, sim, ajuda para as pesquisas e para que a gente possa transformar isso num ganho econômico para o povo que mora na região, que são praticamente 25 milhões de pessoas. Eu, quando vim para os Estados Unidos, eu não vim na ideia de que nós iríamos fazer um grande acordo, porque nós não viemos para fazer um grande acordo. Nós viemos para reestabelecer relações democráticas entre Brasil e Estados Unidos. Afinal de contas, nós somos os dois países mais importantes do continente, norte-americano, da América Latina e da América do Sul. E nós não poderemos deixar de conversar".
Lula reafirmou a posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia: "Eu quando vim conversar com o presidente Biden sobre este assunto, eu já tinha conversado com Macron (presidente da França, Emmanuel Macron), eu já tinha conversado com o chanceler alemão (Olaf Scholz). Ou seja, a verdade nua e crua é que, direta e indiretamente, muitos países já se envolveram na guerra. Quando o Olaf Scholz foi ao Brasil, e ele tentou fazer um pedido para que nós vendêssemos munição para eles utilizarem nos canhões... Ou seja, nós não vendemos as munições, porque se nós vendermos, nós iríamos começar a participar da guerra indiretamente. Eu acho que nós precisamos construir um grupo de países que comece a se organizar pela paz, ou seja, criar uma espécie de G20 pela paz. Nós criamos o G20, quando houve a crise econômica. Portanto, nós precisamos criar um outro instrumento político de países que não estão participando de nenhuma atividade nesta guerra e conversar com eles. Primeiro, o Putin (Vladimir Putin, presidente russo) tem que entender que ele está errado ao fazer invasão territorial de um país e ele precisa voltar atrás. É preciso que a guerra pare para gente começar a conversar. E eu disse para ele que eu tenho interesse, o Brasil tem potencial disso. O México tem potencial, a Indonésia tem potencial, a China tem potencial, a Índia tem potencial. Tem muitos países que não estão envolvidos e é isso que eu desejo. Alguém vai ter que falar para o Putin: ‘Cara, para essa guerra.’ Ou: ‘Zelensky (presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky), para essa guerra.’ Ou seja, vamos parar, vamos começar a conversar, que a gente pode encontrar uma solução para que o mundo seja pacificado".
Lula valorizou o contato pessoal com Biden: "Deu liga". "Possivelmente, de todos os presidentes americanos, o presidente que mais tem vínculo com o movimento dos trabalhadores, com o sindicato é o Biden. Ontem, eu uma reunião com 18 sindicalistas, eu perguntei se o discurso do Biden, que ele fez no Congresso Nacional, ele tinha falado muito de trabalhadores, se ele era um defensor dos trabalhadores ou eu que estava entendendo mal. E os trabalhadores me disseram que ele é, na história dos Estados Unidos, o presidente que mais está ligado aos trabalhadores e aos sindicatos. Ora, isso deu uma proximidade, deu uma liga, porque eu venho do movimento sindical. E a visão dele sobre o mundo do trabalho, a visão dele sobre o papel do sindicato é muito importante, porque, veja, tem muita gente que acha que tem que destruir o sindicato para melhorar as coisas. Não. Quanto mais forte for o sindicato, quanto mais forte, quanto mais lutador, quanto mais brigador for o sindicato, mais a democracia será fortalecida. É assim que tem que se pensar. A democracia não é um pacto de paz. A democracia é uma sociedade em movimento, em ebulição. Uma sociedade querendo cada vez mais. É isso que a democracia é. Eu acho que ele entende isso, eu entendo isso. E eu posso dizer que nós vamos nos dar muito bem".
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