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Moradores relatam tragédia após explosão em Beirute: "foi como uma bomba atômica. Tudo voou pelos ares"

Moradores de Beirute relataram o choque e o pânico após a devastação causada pela explosão no porto da capital libanesa. Tragédia deixou mais de 100 mortos, 4 mil feridos e cerca de 300 mil desabrigados

(Foto: REUTERS/Aziz Taher)

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Laure Stéphan e Paul Khalifeh, RFI - O pânico seguido pela devastação. Beirute acordou nesta quarta-feira (5) sob o choque e a imensa destruição após duas explosões no porto da capital libanesa na véspera. Moradores conversaram com a RFI e contaram como viveram a tragédia que deixou ao menos 100 mortos, 4 mil feridos e 300 mil desabrigados.

"Eu estava com meu filho na sacada do nosso apartamento quando ouvimos uma primeira explosão. Nosso primeiro reflexo foi de nos abrigar. Sou uma 'filha da guerra', então tenho reflexos fortes. Escondi meu filho debaixo das escadas e logo depois ouvimos outra enorme explosão. Foi como uma bomba atômica. Tudo foi pelos ares: vidros, árvores... foi dramático. Nos 16 anos que presenciei a guerra, eu nunca vi uma explosão como essa", contou a moradora de Beirute Maliha Raydan à RFI.

Maliha afirma ainda não ter tido coragem de descer na rua para ver os estragos da tragédia porque o filho está muito assustado e não quer que ela saia de seu lado. "Mas da sacada vi muitos feridos porque eu moro ao lado de um hospital. Durante toda a noite as ambulâncias não pararam de passar. Sabemos que vai ter muito mais vítimas que eles vão retirar dos escombros nos próximos dias", lamenta.

De fato, as autoridades libanesas afirmam que a prioridade no momento são as buscas por sobreviventes. O governo também anunciou uma vasta operação de investigação para buscar os responsáveis pela tragédia que teria ocorrido acidentalmente em um depósito onde havia 2.750 toneladas de nitrato de amônia, produto usado como fertilizante, mas altamente inflamável.

A jornalista franco-libanesa Marie-Jo Sader ajudou a transportar feridos aos hospitais. "Comecei a colocar gente dentro do meu carro. Transportei garotas feridas que gritavam com ferimentos completamente abertos. Ficamos muito tempo trancados em engarrafamentos porque, depois das explosões, as pessoas tentaram fugir, as ambulâncias estavam por roda parte, os pneus do meu carro furaram porque as estradas estavam cheias de destroços. As emergências dos hospitais lotaram, os enfermeiros nos diziam para tentar outros hospitais fora de Beirute... foi o caos total", relembra.

Bairros inteiros foram devastados em um raio de um quilômetro em torno do porto. Imóveis desabaram e danos são registrados a até dez quilômetros de distância da capital. O impacto da explosão chegou a ser sentido no Chipre, a mais de 200 quilômetros de Beirute. 

Nesta manhã, Lena, moradora da capital, contou à RFI que, ao lado dos vizinhos, tentava salvar o que sobrou de seu prédio. "As ruas de Beirute hoje refletem a catástrofe. Estamos começando a limpar nosso apartamento, a recolher os vidros que explodiram, e, realmente, não restou muita coisa. Meu sentimento é de choque e tristeza. Meus filhos estão aterrorizados. Isso nos traz à tona lembranças muito ruins. Em alguns segundos, fomos levados para 30 anos atrás, como se estivéssemos de novo na guerra", conta. 

Hospitais saturados

Na entrada do hospital público de Beirute, o jovem Brahim aguarda com a camisa manchada de sangue. Ele espera notícias da namorada, que trabalha no centro da capital libanesa e teve ferimentos na cabeça e nos olhos. 

"Fui diretamente nos souks de Beirute em busca da minha namorada. Todas as vitrines do centro comercial onde ela trabalha explodiram. Ela estava ferida, a carreguei até um primeiro hospital, mas já estava lotado e ela não pode ser atendida. Então viemos para o hospital público, que é maior", explica.

Dr. Robert Sacy trabalha no hospital St Georges, extremamente danificado pelas explosões. Em entrevista à RFI, ele contou que foi obrigado a esvaziar o local com os destroços desabando sobre os pacientes. "Parte do teto caiu, fios elétricos ficaram à mostra, as portas voaram, muitos pacientes ficaram bloqueados, tivemos que arrombar alguns quartos para resgatá-los."

Emocionado, o médico relata que os feridos chegavam em massa, mas não podiam ser atendidos devido ao estado da estrutura do hospital. "Eles nos pediam ajuda, todos machucados, mas nossa emergência não tinha condições de funcionar. Muitos já tinham ido a outros hospitais, mas que também estavam lotados. Durante horas havia pessoas no chão das emergências esperando para serem atendidas. Em cinco minutos, vi coisas piores do que em todos os anos de guerra", afirma. 

Luto nacional

A tragédia desta terça-feira se soma à já difícil situação do Líbano, que atravessa sua pior crise econômica em décadas, marcada por uma depreciação cambial sem precedentes, hiperinflação e demissões em massa que alimentam a agitação social há vários meses. O primeiro-ministro Hassan Diab decretou dia de luto nacional para esta quarta-feira.

Até o momento, os danos estão estimados em mais de US$ 3 bilhões e atingem quase metade da cidade de Beirute. De acordo com o governo, de 250 mil a 300 mil pessoas estão desabrigadas. 

Três hospitais de campanha estão sendo levantados às pressas para receber pacientes das emergências superlotadas. Enquanto isso, serviços de resgate correm contra o relógio para tentar encontrar dezenas de pessoas dadas como desaparecidas. 

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