'Não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desigualdades', diz Lula na COP27
O presidente eleito do Brasil também defendeu a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e o fim o privilégio do veto, "hoje restrito a alguns poucos"
247 - Em discurso na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27, o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comprometeu-se a mobilizar esforços para evitar o desmatamento da Amazônia e atrelar a agenda ambiental à da igualdade social.
"Estou aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável, de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes, e não apenas uma minoria privilegiada", afirmou Lula.
O líder brasileiro falou que o país saiu vitorioso de uma das eleições "mais decisivas da história", que conteve "o avanço da extrema direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo. E também porque do resultado da eleição dependia não apenas a paz e o bem-estar do povo brasileiro, mas também a sobrevivência da Amazônia e, portanto, do nosso planeta."
Sobre a urgência de defender o meio ambiente e reduzir a desigualdade social, Lula declarou que "não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie chamada humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desiguldades entre ricos e pobres. Precisamos de mais empatia, precisamos construir confiança entre nossos povos e ir além dos interesses nacionais imediatos, para que sejamos capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional que reflita as necessidades do presente e nossas aspirações para o futuro".
Vale destacar que o presidente eleito do Brasil também defendeu a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e o fim o privilégio do veto, "hoje restrito a alguns poucos, para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz."
Confira o discurso de Lula na COP 27
"Sinto-me honrado, porque esse convite não foi feito para mim, foi feito para o meu país e para povo brasileiro. Este convite, feito a um presidente recém-eleito antes mesmo da sua posse, é um reconhecimento de que o mndo tem pressa de ver o Brasil participando novamente das discussões sobre o futuro do planeta e de todos os seres que nele habitam. Um planeta que a todo momento nos alerta que precisamos de uns dos outros para sobreviver.
Sozinhos estamos vulneráveis às tragédias climáticas. No entanto, ignoramos esses alertas, gastamos trilhões de dólares em guerras que só trazem destruição e mortes, enquanto 900 milhões de pessoas no mundo não têm o que comer. Vivemos um momento de crises múltilplas, a volta do risco de guerra nuclear, crise de abastecimento de alimento e energia, aumento intolerável da desiguldade.
Os acordos já finalizados têm que sair do papel. Para isso, é preciso tornar disponíveis recursos para que os países em desenvolvimento, em especial os mais pobres, possam enfrentar as consequências de um problema criado em grande medida pelos países ricos, mas que atingem de maneira desproporcional os mais vulneráveis.
Estou aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável, de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes, e não apenas uma minoria privilegiada. O Brasil acaba de passar por uma de suas eleições mais decisivas de sua história, uma eleição observada com atenção inédita pelos demais países. Ela poderia ajudar a conter o avanço da extrema direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo, e também porque do resultado da eleição dependia não apenas a paz e o bem-estar do povo brasileiro, mas também a sobrevivência da Amazônia e, portanto, do nosso planeta.
Ao final de uma disputa acirrada, o povo brasileiro fez sua escolha e a democracia venceu. Com isso, voltam a vigorar os valores civilizatórios, o respeito aos direitos humanos e o compromisso de enfrentar a mudança climática. O Brasil já mostrou ao mundo o caminho para derrotar o desmatamento e o aquecimento global. Entre 2004 e 2012, reduzimos a taxa de devastação da Amazônia em 83%, enquanto o PIB agropecuário crescia 75%.
Infelizmente, desde 2019 o Brasil enfrenta um governo desastroso, em todos os sentidos. Não por acaso a frase que mais tenho ouvido dos líderes de diferentes países é a seguinte: 'o mundo sente saudade do Brasil'. Quero dizer que o Brasil está de volta, está de volta para reatar os laços com o mundo e ajudar novamente a combater a fome, para cooperar outra vez com os países mais pobres, sobretudo da África, com investimento em transferência de tecnologia.
Voltamos para ajudar a construir uma ordem mundial pacífica, acertada no diálogo, no multilateralismo e na multipolaridade. Voltamos para propôr uma nova governança global. O mundo de hoje não é o mesmo de 1945. É preciso incluir mais países no Conselho de Segurança da ONU e acabar com o privilégio do veto, hoje restrito a alguns poucos, para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz.
Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie chamada humanidade, e não haverá futuro enquanto continuarmos cavando um poço sem fundo de desiguldades entre ricos e pobres. Precisamos de mais empatia, precisamos construir confiança entre nossos povos e ir além dos interesses nacionais imediatos, para que sejamos capazes de tecer coletivamente uma nova ordem internacional que reflita as necessidades do presente e nossas aspirações para o futuro.
Estou aqui hoje para reafirmar o inabalável compromisso do Brasil com a construção de um mundo mais justo, mais humano e mais solidário."
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