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    O discurso histórico de Angela Merkel contra o coronavírus

    Leia e veja como se comporta um líder que age como estadista, o que é especialmente importante num Brasil desgovernado diante da pandemia

    (Foto: Reprodução | Reuters)

    247 - Leia na íntegra o pronunciamento da chanceler alemã Angela Merkel, feito nessa quinta-feira, 18, sobre a pandemia de coronavírus:

    "Caros cidadãos,

    O coronavírus está atualmente mudando a vida em nosso país de modo dramático. Nosso conceito de normalidade, de vida pública, de interação social – tudo está sendo testado como nunca antes.

    Milhões dentre vocês não podem ir trabalhar, seus filhos não podem ir para a escola ou para a creche, teatros e cinemas e lojas estão fechadas e, talvez, o mais difícil: nós todos perdemos os encontros que são normalmente considerados usuais. Evidentemente, em uma situação como esta, cada um de nós está repleto de perguntas e preocupações sobre como seguir em frente.

    Eu me dirijo a vocês hoje, deste modo incomum, porque eu quero dizer a vocês o que me guia como Chanceler e o que guia todos os meus colegas no Governo Federal nesta situação. Isto faz parte de uma democracia aberta: que nós também tomemos decisões políticas transparentes e as expliquemos. Que nós justifiquemos e comuniquemos nossas ações o melhor possível de modo que elas sejam compreensíveis.

    Acredito firmemente que nós seremos bem sucedidos nesta tarefa se todos os cidadãos a entenderem verdadeiramente como tarefa deles. Deste modo, deixem-me dizer: isto é sério. Levem a sério também. Desde a unificação alemã... não, desde a Segunda Guerra Mundial, não houve desafio para nosso país em que nossa ação conjunta fosse tão importante.

    Eu gostaria de explicar para vocês em que pé as coisas estão no que diz respeito à epidemia, o que o Governo Federal e as demais instâncias de governo estão fazendo para proteger todo mundo em nossa comunidade e limitar os danos econômicos, sociais e culturais. Mas eu também gostaria de explicar a vocês por que vocês são necessários e o que cada um e todos podem fazer para contribuir.

    Sobre a epidemia – e tudo o que eu posso dizer pra vocês sobre isso vem do Governo Federal após consultas com os especialistas do Instituto Robert Koch e outros cientistas e virologistas: pesquisas estão sendo conduzidas ao redor do mundo sob alta pressão, mas ainda não há uma terapia nem uma vacina contra o coronavírus.

    No que tange a este tema, há apenas uma coisa que nós podemos fazer, que é desacelerar a disseminação do vírus, esticar isso por meses e ganhar tempo. Tempo para pesquisas e para o desenvolvimento de remédios e vacinas. Mas, principalmente, tempo para que aqueles que ficarem doentes possam receber o melhor cuidado possível.

    A Alemanha tem um excelente sistema de saúde, talvez um dos melhores do mundo. Isso nos dá confiança. Mas nossos hospitais ficariam completamente sobrecarregados se tantos pacientes com infecções severas causadas pelo coronavírus fossem admitidos em um tempo tão curto.

    Eles não são apenas números abstratos em uma estatística, mas sim um pai ou um avô, uma mãe ou uma avó, um companheiro. Eles são pessoas. E nós somos uma comunidade em que cada vida e cada pessoa importa.

    Nesta ocasião, eu gostaria de primeiramente me dirigir a todos aqueles que trabalham como médicos, enfermeiros, equipe ou em qualquer outra função em nossos hospitais e no sistema de saúde em geral. Eles são a linha de frente desta batalha. Eles são os primeiros a entender a doença e quão severos são alguns cursos de infecção. E a cada dia vocês vão para o trabalho e estão lá pelas pessoas. O que vocês fazem é tremendo e eu quero agradecer vocês do fundo do meu coração por isso.

    Deste modo, o objetivo é desacelerar o vírus em seu caminho pela Alemanha. E, para fazer isso, nós devemos – e isto é existencial! – nos concentrar em uma coisa: desligar atividades públicas o mais rápido possível. Naturalmente, nós devemos fazer isso com racionalidade e senso de proporção, porque o Estado continuará a funcionar, os suprimentos com certeza continuarão a ser assegurados e nós queremos preservar a atividade econômica do melhor jeito que pudermos.

    Mas nós devemos reduzir tudo que possa colocar pessoas em perigo, tudo que possa ferir o indivíduo ou a comunidade. Nós devemos limitar, o máximo que pudermos, o risco de um infectar o outro.

    Eu sei o quão dramáticas já são as restrições: sem eventos, sem feiras, sem concertos e, por enquanto, sem escolas, sem universidade, sem escolas infantis, sem brincadeiras no pátio. Eu sei quão difíceis são esses fechamentos, os quais foram feitos a partir de acordos entre o governo federal e os estaduais. Eles interferem com nossas vidas e também com nossa autoimagem democrática. São restrições jamais vistas na República.

    Permitam-me assegurar a vocês: para alguns como eu, para quem a liberdade de viajar e de movimento foi um direito duramente conquistado, tais restrições podem apenas ser justificadas quando são uma necessidade absoluta. Em uma democracia, eles nunca deveriam ser decididas levianamente e devem ser apenas temporárias – mas no momento elas são indispensáveis para salvar vidas. Desde o começo da semana, os controle de fronteira reforçados e restrições de entrada para alguns de nossos mais importantes países vizinhos estiveram em vigor.

    Já é muito difícil para a economia, para as grandes empresas assim como para os pequenos negócios, para lojas, restaurantes e trabalhadores independentes. As próximas semanas serão ainda mais difíceis. Eu posso assegurar vocês: o governo Alemão está fazendo todo o possível para mitigar o impacto econômico – e, sobretudo, para preservar empregos.

    Nós podemos e iremos fazer tudo o que pudermos para socorrer nossos empregadores e empregadoras ao longo desta difícil provação.

    E todos podem ter certeza de que o suprimento de comida está assegurado nestes tempos, e se as prateleiras ficarem vazias por um dia, elas serão preenchidas novamente. Eu gostaria de dizer a todos que vão a supermercados: estocar produtos faz sentido, sempre foi assim. Mas com moderação. Acumular como se nunca mais fosse haver insumos novamente não faz sentido e, no fim das contas, é uma completa falta de solidariedade.

    Deixem-me também expressar meus agradecimentos aqui para pessoas a quem raramente agradecemos. Alguém que se senta no caixa do supermercado ou preenche as prateleiras está fazendo um dos mais difíceis trabalhos neste momento. Obrigado por estarem lá para seus concidadãos e literalmente manter o lugar funcionando. 

    Agora vamos ao que eu acho que é o mais urgente, hoje: todas as medidas do governo terão sido em vão se nós não usarmos os mais eficientes meios de prevenir o vírus de se disseminar tão rapidamente. E esses meios somos nós mesmos. Assim como cada um de nós pode indiscriminadamente ser afetado pelo vírus, cada um de nós também pode ajudar. Primeiramente, e o mais importante: levem a sério o que estamos falando aqui, hoje. Não entrem em pânico, mas também não pensem nem por um momento que o outro não importa. Ninguém é dispensável. Todo mundo conta, e isso conduzirá todos os nossos esforços.

    Isto é o que uma epidemia nos mostra: quão vulneráveis nós todos somos, quão dependentes nós somos do comportamento dos mais vulneráveis, mas também como nós podemos proteger e fortalecer uns aos outros, agindo juntos.

    Isto depende de todos. Nós não estamos condenados a aceitar passivamente a disseminação do vírus. Nós temos um remédio: por consideração, devemos manter distância uns dos outros. O conselho dos virologistas é claro: não apertem as mãos dos outros, lavem suas mãos frequentemente, fiquem a pelo menos um metro e meio de distância do outro e, de preferência, dificultem qualquer contato com os muitos idosos, porque eles estão em situação especial de risco.

    Eu sei o quão difícil é fazer o que está sendo requerido. Nós queremos estar perto uns dos outros, especialmente em tempos de necessidade. Nós entendemos afeto como proximidade física ou toque. Mas neste momento, infelizmente, o oposto é que é verdadeiro. E isso é o que todos precisamos entender: neste momento, distância é o único modo de expressar que você se importa.

    Visitas bem intencionadas, passeios que não deveriam ser feitos, tudo isto pode ser contagioso e deveria realmente não ocorrer. Há uma razão para os especialistas dizerem que avós e netos não deveriam ficar juntos agora.

    Aqueles que evitarem encontros desnecessários ajudarão todos aqueles que têm que lidar com mais casos todos os dias em hospitais. Isto é como nós salvamos vidas. Isto será difícil para muitos, e é nisso que tudo se resume: não deixar ninguém sozinho e zelar por aqueles que precisam de encorajamento e confiança. Como família e como sociedade, nós encontraremos outros meios de ajudar uns aos outros.

    Já existem muitas forma criativas que desafiam o vírus e suas consequências sociais. Já há netos que estão gravando podcasts para seus avós, de modo que eles não fiquem sozinhos. Nós todos temos que encontrar meios de demonstrar afeto e amizade: Skype, telefonemas, e-mails e talvez escrever cartas novamente. O correio está funcionando. Nós agora ouvimos falar sobre maravilhosos exemplos de ajuda entre vizinhos para os mais velhos que não podem fazer compras por si mesmos. Eu tenho certeza de que há muito mais por vir e nós mostraremos, como comunidade, que nós não deixamos uns aos outros sozinhos.

    Eu apelo a vocês: cumpram as regras que solicitamos agora pelos próximos tempos. Como governo, nós sempre vamos verificar o que pode ser corrigido e, a partir daí, o que ainda é necessário. Esta é uma situação dinâmica, e nós seremos capazes de aprender com tudo isso, então o que sempre podemos fazer é repensar e reagir com outros instrumentos. Nós então explicaremos isso também.

    Então, por favor, não acreditem em rumores, mas apenas em comunicações oficiais, as quais nós traduzimos para várias línguas.

    Nós somos uma democracia. Nós não vivemos pela força, mas pela partilha de conhecimento, pela participação. Esta é uma tarefa histórica e só pode ser cumprida se nos unirmos.

    Estou absolutamente convicta de que iremos superar esta crise. Mas quão altos serão os sacrifícios? Quantos entes amados iremos perder? Isto está em nossas mãos. Nós podemos agora, de forma resoluta, reagir juntos. Nós podemos aceitar as limitações atuais e cuidar uns dos outros.

    Esta situação é séria e está em aberto.

    Isto significa que dependerá não apenas de, mas também de quão disciplinadamente cada um seguir e implementar as regras.

    Nós podemos demonstrar, ainda que nunca tenhamos experimentado algo como isto antes, que nós agimos cordialmente e razoavelmente e então salvamos vidas. Sem exceção, isso depende de cada indivíduo e, por conseguinte, de todos nós.

    Cuidem-se bem e cuidem de seus entes queridos. Muito obrigada!"

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