Oposição a Netanyahu ganha força em Israel com retorno dos ataques a Gaza
Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo
(Reuters) – Uma coalizão formada por famílias de reféns e manifestantes contrários às decisões do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sobre o Judiciário e setores da segurança nacional voltou a se mobilizar com a retomada da guerra na Faixa de Gaza nesta semana.
A decisão de Netanyahu de intensificar os bombardeios no enclave palestino, mesmo com 59 reféns ainda em Gaza — dos quais cerca de 24 são considerados vivos —, inflamou ainda mais a revolta dos manifestantes, que acusam o governo de prolongar o conflito por interesses políticos.
Na noite de terça-feira (18), dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o governo, e novos atos ocorreram na quarta-feira (19), após Netanyahu anunciar no fim de semana que havia perdido a confiança em Ronen Bar, chefe da agência de inteligência interna Shin Bet, e decidido demiti-lo.
"Isso não é mais uma guerra por algo importante. Trata-se apenas da sobrevivência deste governo, da sobrevivência de Benjamin Netanyahu", disse Koren Offer, manifestante em Jerusalém.
Os grupos de protesto incluem o Fórum Escudo Defensivo, que reúne ex-oficiais de defesa e segurança, o Movimento pela Qualidade do Governo em Israel, que combate a corrupção e foi um dos principais opositores das tentativas de Netanyahu de limitar o poder da Suprema Corte em 2023, além das famílias dos reféns.
O atual movimento lembra as grandes manifestações de 2023 — antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro que deram início à guerra —, quando Netanyahu tentou demitir o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por sua oposição à reforma judicial.
Os críticos de Netanyahu veem o veterano líder, que já ocupou o cargo de primeiro-ministro seis vezes, como uma ameaça à democracia israelense.
"Este governo não respeita limites", afirmou Yair Lapid, ex-primeiro-ministro e líder do partido oposicionista centrista Yesh Atid, em publicação na plataforma X. "Basta! Eu convoco todos vocês — este é o nosso momento, este é o nosso futuro. Tomem as ruas!"
Ben-Gvir reforça coalizão de Netanyahu - Embora sua coalizão de direita permaneça unida, Netanyahu tem conseguido desafiar os protestos e evitar pedidos por novas eleições. Pesquisas de opinião indicam que ele perderia uma eleição devido à crescente insatisfação popular com as falhas do governo que permitiram o ataque do Hamas às comunidades do sul de Israel em 7 de outubro de 2023, o pior desastre de segurança do país.
O anúncio, na terça-feira, de que o ultranacionalista Itamar Ben-Gvir retornaria ao governo — após ter deixado a coalizão em janeiro devido a um acordo de cessar-fogo — destacou o apoio que Netanyahu ainda recebe do campo nacionalista-religioso, essencial para sua sustentação política.
"Desmantelando a unidade política" - Os críticos de Netanyahu interpretaram a demissão do chefe do Shin Bet como um golpe contra uma das principais instituições do Estado, motivado por questões políticas ligadas a investigações de corrupção envolvendo assessores do primeiro-ministro.
Netanyahu, que enfrenta um julgamento de longa duração por corrupção — acusações que ele nega —, classificou as investigações como ataques políticos contra ele. O premiê justificou a demissão de Bar afirmando que já havia perdido a confiança no chefe de segurança há muito tempo.
Benny Gantz, líder do maior partido centrista da oposição, criticou a decisão, afirmando que "a demissão de Bar representa uma violação direta da segurança do Estado e o desmantelamento da unidade política em Israel por razões pessoais e políticas."
Enquanto isso, os bombardeios renovados de Israel sobre Gaza já mataram centenas de palestinos e geraram condenações de países árabes, da Europa e das Nações Unidas.
Israel e o Hamas se acusam mutuamente de violar a trégua iniciada em meados de janeiro, que havia proporcionado um alívio temporário aos 2,3 milhões de moradores de Gaza após 17 meses de guerra, que devastou o enclave e forçou a maioria da população a se deslocar várias vezes.
Pesquisas de opinião em Israel mostram que a maioria da população deseja o fim da guerra e a libertação dos reféns.
Entretanto, com o retorno de Ben-Gvir ao governo, não há sinais de uma ameaça imediata ao poder de Netanyahu, e os protestos dificilmente alcançarão a mesma magnitude das manifestações que, em 2023, forçaram o primeiro-ministro a recuar na demissão de Yoav Gallant.
Embora ainda esteja atrás nas pesquisas, Netanyahu tem fortalecido sua posição ao longo da guerra. Pelo menos por enquanto, ele parece contar com o apoio da administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que foi consultada antes dos recentes ataques israelenses.
Algumas famílias de reféns apoiam a retomada da guerra. O grupo ultranacionalista Tikva declarou na terça-feira que a única forma de trazer todos os reféns de volta seria através de um bloqueio total de Gaza — cortando eletricidade e água — e da ocupação de territórios para provocar o colapso do Hamas.
Para outras famílias de reféns e seus apoiadores, no entanto, a retomada dos combates apenas aprofunda suas preocupações.
"Não tenho ideia do que vai acontecer com os reféns que ainda estão lá se os combates continuarem nas próximas semanas", disse o manifestante Iftach Brill, 45 anos, de Tel Aviv. "É um desastre absoluto para nós."
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