Países do BRICS+ temem ingerência dos EUA e divergem no apoio a Trump ou Biden, dizem analistas
"Olhando para esses países individualmente, eu vejo que cada um, ou pelo menos cada governo, tem as suas próprias preferências", destaca o professor Laerte Apolinário
Sputnik - As eleições nos Estados Unidos têm a atenção do mundo inteiro, especialmente dos países do BRICS+, que observam as eventuais consequências para suas relações internacionais, já que a lista de Estados soberanos invadidos de diferentes formas pelos americanos não é pequena.
O professor de relações internacionais do Ibmec Gustavo Macedo ressalta ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que há uma falta de homogeneidade de opiniões dentro dos países do bloco.
Quanto à Rússia e China, ele destaca a cautela em relação aos possíveis resultados. Embora alguns observadores possam interpretar o apoio declarado do presidente Vladimir Putin a Joe Biden como uma "estratégia", o professor avalia ser crucial considerar as complexidades culturais e históricas que moldam essas percepções.
Para Macedo, enquanto [Donald] Trump é conhecido por sua natureza imprevisível e seu estilo de negociação peculiar, Biden representa "uma política externa mais previsível, alinhada com os interesses democratas". "Trump traz um ambiente de instabilidade e imprevisibilidade que pode afetar as relações internacionais […], uma força que muitas vezes supera o próprio Partido Republicano."
Outras disputas geopolíticas de membros do BRICS+ também podem influenciar nesse apoio, como uma aproximação indiana com Washington, buscando "um contrapeso à influência chinesa".
Para o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Laerte Apolinário, os países asiáticos possuem interesses diversos e históricos de rivalidade. A Índia busca diversificar suas parcerias como uma estratégia de multialinhamento, buscando não se tornar excessivamente dependente de Pequim.
Ainda assim, Macedo avalia que tal movimento não representa necessariamente uma ruptura interna.
"A Índia, por exemplo, não interfere nos assuntos chineses, e a China reconhece a necessidade de expansão econômica da Índia."
Apolinário ressalta que o BRICS+ é composto por nações com diferentes interesses e relações com os EUA. "Olhando para esses países individualmente, eu vejo que cada um, ou pelo menos cada governo, tem as suas próprias preferências."
Ele destaca a probabilidade de o governo brasileiro, especialmente sob o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorecer a vitória de Biden devido ao histórico de apoio mútuo e à ênfase na agenda ambiental, enquanto Putin estaria mais inclinado a preferir a reeleição de Trump.
O que muda com a eleição de Trump ou Biden? - Com a idade avançada de ambos os candidatos, Joe Biden (81) e Donald Trump (77), questões sobre suas capacidades físicas e mentais para assumir a presidência são evidenciadas. "A idade dos candidatos me preocupa, pois o cargo de presidente é extremamente demandante, exigindo energia para enfrentar seus desafios", diz Macedo.
Para ele, a personalidade enérgica de Trump pode conceder uma vantagem sobre um rival Biden sem carisma e em baixa na opinião popular americana.
Já Apolinário reconhece que "a principal fraqueza de Biden tem sido se comunicar com os eleitores mais jovens, o que dificulta suas chances de reeleição".
Quanto às políticas externas, há uma especulação de impacto da vitória de Trump na Ucrânia e em Israel.
Macedo sugere que a administração Trump pode se retirar da Ucrânia, buscando diminuir o envolvimento dos EUA na região da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Quanto a Israel, embora os EUA sejam os maiores parceiros dos israelenses, a relação estremecida entre Trump e Benjamin Netanyahu pode levar à redução desse apoio.
"Se tudo continuar o mesmo", afirma Macedo, "existe uma tendência de saída dos EUA da Ucrânia, mas em relação a Israel é mais incerto, devido à relação estremecida entre Trump e Netanyahu".
Ainda assim, quanto à declaração de Trump sobre o conflito na Ucrânia, Macedo adverte sobre "a dificuldade de interpretar retroativamente as declarações do ex-presidente", que mostram uma "estratégia política complexa, que pode envolver uma variedade de interesses e audiências".
Além disso, ele entende que os estadunidenses deverão seguir com seus interesses, independentemente do presidente eleito. "Os EUA têm um interesse estratégico duradouro na segurança da região do Atlântico Norte."
Para Apolinário, a política externa dos EUA é mais guiada por continuidades do que por rupturas, influenciada por fatores estruturais e interesses internos, como grupos ligados à indústria bélica e do petróleo, em especial.
"Embora o apoio à Ucrânia tenha diminuído entre o público americano, a questão israelense conta com apoio mais sólido e um lobby mais influente no Congresso."
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