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    Política externa de Trump favorece ordem multipolar, afirmam especialistas

    Políticas isolacionistas de Trump favorecem a ascensão de novos blocos econômicos

    Donald Trump (Foto: Reuters)
    Redação Brasil 247 avatar
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    247 - A postura "America First" de Donald Trump, adotada desde seu primeiro mandato, continua a gerar debates sobre o futuro da ordem mundial. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil indicam que a política externa isolacionista do presidente dos Estados Unidos pode acelerar o processo de transição para um mundo multipolar, ao enfraquecer alianças tradicionais e permitir que potências emergentes, como China e Rússia, fortaleçam suas posições globais.

    José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que, caso Trump retome sua política de afastamento de grandes alianças, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), isso pode, de fato, abrir espaço para blocos alternativos como o BRICS e a Organização para Cooperação de Xangai (OCX) ganharem maior relevância no cenário global. "Ao adotar uma postura nacionalista e autárquica, os EUA podem deixar uma lacuna no sistema global, permitindo que outras potências, como China e Rússia, avancem com suas agendas de cooperação e segurança regional", explicou Niemeyer, em entrevista ao podcast Mundioka da Sputnik Brasil.

    Niemeyer também destacou que, ao diminuir sua presença em temas como o conflito na Ucrânia e a defesa da OTAN, os Estados Unidos podem estar inadvertidamente abrindo espaço para novos polos de poder. "A China, por exemplo, tem fortalecido suas posições no mar do Sul da China, enquanto a Rússia continua sendo uma potência importante, especialmente nas questões de segurança energética na Europa", apontou o especialista, que acredita que países como o Brasil e outras nações da América do Sul também podem buscar reforçar suas próprias agendas de segurança.

    Porém, Niemeyer alerta que o caminho para um sistema multipolar verdadeiro não será fácil. "É difícil imaginar um ambiente cooperativo com os Estados Unidos, China, Rússia e Índia, todas adotando posturas nacionalistas. Isso cria um cenário de conflitos, onde as potências centrais disputam sua autonomia e espaço no novo sistema", afirmou. O professor acrescentou que, sem a participação ativa dos EUA, as discussões sobre uma nova ordem global ficariam limitadas. "Os EUA continuam sendo uma das maiores economias do planeta e uma potência fundamental nas negociações internacionais", concluiu.

    Além disso, Niemeyer levantou outra questão importante: a possível erosão da hegemonia do dólar. Ele observou que a tendência crescente de desdolarização, impulsionada pela China e pelos membros do BRICS, poderia acelerar o uso de moedas alternativas, como o yuan. "Os EUA, ao enfraquecerem suas alianças e se isolarem, podem estar permitindo que novos blocos econômicos criem um ambiente funcional para o desenvolvimento de uma moeda alternativa", afirmou o analista.

    A crítica ao que Trump chama de "deep state", a elite burocrática e política dos EUA que, segundo ele, tenta sabotar sua política externa, também foi discutida. Niemeyer foi enfático ao afirmar que, independentemente das tensões políticas internas, as estruturas do Estado americano continuarão a operar de acordo com seus próprios interesses. "Ele [Trump] não tem amigos nem inimigos na estrutura do Estado. Ele tem uma burocracia e uma plutocracia muito estabelecidas que vão agir de acordo com seus próprios interesses", explicou.

    Outro especialista, o professor Felipe Estre, doutor em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo King's College, de Londres, também destacou as mudanças na ordem mundial. Segundo Estre, a transição para uma ordem multipolar, na qual os EUA perderiam sua posição dominante, é um processo em andamento. "Se a gente fala de uma transição para uma ordem multipolar, a gente está assumindo que a ordem não era multipolar antes. Mas era?", questionou Estre, apontando que, após o fim da Guerra Fria, o mundo viveu uma ordem unipolar dominada pelos Estados Unidos, mas eventos como o 11 de setembro e a crise financeira de 2008 mudaram esse panorama.

    A ascensão de Trump, com sua postura mais isolacionista e o abandono de instituições internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Acordo de Paris, reforçou essa mudança. Estre destacou que, ao contrário de Joe Biden, que buscava fortalecer a ordem internacional, Trump preferia uma abordagem mais voltada para a proteção das áreas de influência dos EUA. "Ele acredita que a ordem internacional limita os Estados Unidos de alguma forma", explicou Estre.

    Por fim, a transição global levanta preocupações sobre o papel do Brasil na nova ordem mundial. Estre acredita que o país tem adotado uma postura cautelosa, buscando equilibrar suas relações com os EUA e com a China. "Quando o Brasil diminui sua dependência dos Estados Unidos, ele acaba aumentando a dependência em relação à China, mas isso tem seus benefícios", afirmou Estre, destacando que o Brasil tem se mostrado bem-sucedido ao adotar uma estratégia de equilíbrio, sem se alinhar completamente a nenhum dos dois lados.

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