Primeiros estrangeiros e palestinos feridos deixam Gaza rumo ao Egito. Brasileiros não são liberados
Passagem fronteiriça de Rafah foi aberta pela primeira vez à população no 26º dia da guerra
Vinícius Assis, RFI - Dezenas de estrangeiros e palestinos feridos deixaram na manhã desta quarta-feira (1°) a Faixa de Gaza com destino ao Egito através da passagem fronteiriça de Rafah, aberta pela primeira vez à população neste 26º dia da guerra de Israel na Palestina. Eles foram autorizados a entrar no terminal depois que as autoridades egípcias anunciaram sua abertura excepcional para permitir a passagem de cerca de 90 palestinos feridos e quase 500 cidadãos estrangeiros e binacionais.
De acordo com o embaixador brasileiro na Palestina, Alessandro Candeias, não há cidadãos brasileiros nesta lista de estrangeiros que deixarão a Faixa de Gaza.
A decisão de permitir o tratamento de palestinos feridos em hospitais egípcios foi tomada em comum acordo entre Israel, Palestina e Egito. De acordo com a Organização Mundial da Saúde na Palestina, ataques israelenses atingiram 36 unidades de saúde e destruíram 28 ambulâncias.
Para a operação, quase 150 ambulâncias estão prontas para transportar os pacientes que chegarem. Uma instalação provisória de triagem médica também deve ser instalada na fronteira.
O governador da região norte do Sinai, Mohamed Shosha, afirmou que um hospital de campanha com 50 leitos está sendo montado na cidade de Sheikh Zuweid, a oeste de Rafah. A iniciativa aumentaria a capacidade total dos hospitais da região para 350 leitos.
Shosha informou que há, atualmente, cerca de 750 palestinos retidos na passagem de Rafah. Alguns disseram que estavam no Egito para tratamentos médicos, outros para visitarem parentes. “Eles estão hospedados em um prédio residencial na cidade de Rafah, onde estão sendo fornecidas refeições, até que eles possam regressar em segurança à Faixa de Gaza”, declarou o governador.
Ajuda humanitária - Durante uma coletiva na terça-feira (31) em frente ao portão egípcio da fronteira com Gaza, o chefe do Serviço de Inteligência do Egito, Diaa Rashwan, denunciou que Israel estaria dificultando o processo para a passagem pela fronteira de caminhões com ajuda humanitária, retardando a inspeção dos veículos. Ele ainda destacou o receio quanto à possibilidade destes caminhões serem atacados.
Desde o início do conflito, em 7 de outubro, cerca de 250 caminhões já cruzaram a fronteira. Muitos outros caminhões, carregados com comida, água e medicamentos, continuam próximos à fronteira aguardando autorização para acessar a Faixa de Gaza. Os itens fornecidos foram doados por organizações internacionais e por diversos países, inclusive o Brasil.
O segundo avião com doação brasileira desembarcou no Egito carregando cerca de duas toneladas de alimentos doados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Mas, com as dificuldades impostas por Israel para o acesso da ajuda humanitária, não há previsão de quando essas doações chegarão aos palestinos em Gaza. No primeiro voo da Força Aérea Brasileira, foram doados medicamentos e purificadores de água.
Ataque a campo de refugiados - Na terça-feira, um ataque aéreo israelense ao campo de refugiados de Jabalia, em Gaza, matou pelo menos 50 pessoas e deixou cerca de 150 feridos. O porta-voz de Israel confirmou que o ataque foi do exército israelense e alegou que o alvo era uma rede subterrânea usada pelos terroristas do Hamas.
Em reação, o Egito condenou veementemente o ataque. Em um comunicado, o Ministério egípcio das Relações Exteriores classificou o ataque como uma “violação flagrante do direito internacional”.
Horas antes desta notícia, o primeiro-ministro do Egito, Mostafa Madbouly, participou de um evento na cidade de Arish, onde exaltou os investimentos feitos pelo governo egípcio nos últimos anos na região do Sinai para combater o terrorismo e promover o desenvolvimento.
Para alguns, esse discurso soou como um recado: que o Egito não quer que palestinos sejam trazidos para o Sinai, como Israel planeja. Mas em um pronunciamento na fronteira em Rafah, Madbouly lamentou as mortes de civis dos dois lados do conflito. Ele pediu que a comunidade internacional compartilhe da mesma opinião, e enfatizou que a única saída possível para se encontrar a paz nesta região é a implantação de dois Estados – Estados de Israel e da Palestina – e a coexistência pacífica dos dois, encerrando disputas por soberania regional.
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