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    Quais serão os efeitos dos bloqueios americanos a venda de chips à China?

    EUA proibiram exportações de chips avançados para a China, prejudicando fabricantes americanos, ameaçando cadeias globais e estimulando a China a encontrar substitutos locais

    (Foto: Reuters)
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    Leonardo Sobreira, de Pequim (247) - Os bloqueios a venda de chips avançados à China, impostos pelos Estados Unidos na semana passada, estimularão Pequim a buscar soluções locais, preveem alguns profissionais do ramo.

    As americanas Nvidia e AMD receberam ordens do Departamento de Comércio dos EUA para cessarem exportações de chips avançados aplicados em inteligência artificial à China, o maior mercado mundial de chips. O governo americano citou o "risco de que os produtos possam ser usados ​​ou desviados para um 'uso final militar' ou 'usuário final militar' na China".

    A ordem foi expedida em meio às renovadas tensões em Taiwan, por sua vez lar de mais de 90% da capacidade de fabricação dos semicondutores mais avançados do mundo.

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    O bloqueio veio semanas após a imposição de controles de exportação sobre tecnologias que apoiam a produção de semicondutores avançados e motores de turbina a gás. As tecnologias controladas incluem software de projeto assistido por computador eletrônico (ECAD, na sigla em inglês), utilizado pelas indústrias aeroespacial e de defesa para desenvolver circuitos integrados complexos. Também ocorreu no contexto do sancionamento do 'Chips and Science Act' pela Casa Branca. A medida inclui US$ 52 bilhões em subsídios para fabricação e pesquisa de chips, bem como um crédito fiscal de investimento de US$ 24 bilhões para fábricas de chips nos EUA.

    Na ocasião, Hong Shibin, especialista da indústria de TI, disse ao Beijing Business Today que projetar um chip de 5 nm com software de automação de projetos eletrônicos (EDA, na sigla em inglês) estrangeiro custaria cerca de US$ 40 milhões, enquanto sem ele, até US$ 7,7 bilhões. No entanto, o mercado financeiro chinês reagiu bem às restrições americanas na esteira do anúncio, com investidores apostando em mais oportunidades de negócios e esperando uma nova onda de financiamento para impulsionar a produção nacional de semicondutores.

    O governo chinês já promoveu expressivos estímulos ao setor de chips, com fundos de investimento estatais visando startups que prometem substituir rivais estrangeiros, mas estes players nacionais só realizam P&D em um estágio inicial. No momento, a Nvidia ainda responde por cerca de 95% da fatia de mercado de chips de supercomputação e inteligência artificial da China, cita a emissora CGTN.

    Por isso, analistas do banco de investimentos Jefferies ouvidos pelo Financial Times preveem que haverá uma tentativa de mudar para substitutos da unidade de processamento gráfico local (GPU, na sigla em inglês). No entanto, eles observam que o amplo uso do software de sistema operacional para IA 'Cuda', da Nvidia, geraria problemas de incompatibilidade.

    O próprio jornal chinês Global Times admite: "O ataque de Washington só retardará o progresso da China em alguns campos de tecnologia em pouco tempo". No entanto, a publicação ligada ao PCCh observa que "um fator importante é que a China tem dezenas de milhares de trabalhadores bem educados, relativamente jovens e baratos, e essas vantagens não podem ser facilmente encontradas em outros continentes".

    Já a gestora de patrimônio HWAS Assets, com sede em Xangai, é mais otimista. Em nota, a empresa avalia que os dois bloqueios atuarão para motivar as empresas chinesas a mudarem para fabricantes de chips domésticos a fim de evitar novos cortes de fornecimento estrangeiro.

    Na mesma linha, um executivo sênior de uma fabricante de chips chinesa consultado pelo FT afirmou que “as restrições vão turbinar a China para encontrar substitutos locais”.

    Além do potencial benéfico para a China, o bloqueio gera riscos para os próprios Estados Unidos. A China abriga grandes produtores de componentes automotivos e produtos eletrônicos, que dependem dos chips importados mas também exportam seus produtos para os EUA. Caso as restrições continuem e sejam ampliadas, cadeias de suprimento globais podem ser rompidas.  

    Outra possibilidade levantada por analistas é de que o ímpeto para o bloqueio enfraqueça à medida que os cofres de Washington sequem e as próprias fabricantes de chips sofram ainda mais perdas. A Nvidia estima que cerca de US$ 400 milhões em vendas para a China podem ser afetados, o que levou as ações da empresa a despencarem. 

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