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    Reforma da governança global será fio condutor da reunião de chanceleres do G20, diz diplomata brasileiro

    Em coletiva de imprensa, Mauricio Carvalho Lyrio, emissário pessoal do Brasil no G20, chama atenção para o recorde de conflitos em curso no mundo

    Maurício Carvalho Lyrio, Sherpa do Brasil no G20 (Foto: Sputnik)

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    Sputnik - O embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, Secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do G20 do Brasil, concedeu, nesta terça-feira (20), uma coletiva de imprensa jornalistas para marcar a abertura da reunião de chanceleres do G20, prevista para esta terça (21) e quarta-feira no Rio de Janeiro.

    Na coletiva, Lyrio traçou um panorama de quais serão os principais temas a serem tratados no encontro. O embaixador frisou um estudo elaborado pela Uppsala Conflict Data Programa (UCDP), programa de coleta e análise de dados sobre violência, elaborado pela universidade sueca Uppsala, que apontou que o mundo atingiu um pico de 183 conflitos nas últimas décadas.

    "O nível de ocorrência de guerras e conflitos entre Estados, dentro de Estados, e atualmente com participação dos atores externos, é um número sem precedentes nas últimas três décadas, ou seja, retornamos praticamente ao nível de conflitos do período da Guerra Fria", disse Lyrio.

    Segundo o embaixador, isso mostra que "há um déficit de governança para enfrentar os desafios atuais".

    "Desafios de vários tipos, não só desafios globais, como a questão da mudança do clima, mas o desafio básico de preservação da paz no sistema internacional. Então, esse tema, o tema da reforma da governança global, será o tema principal da sessão do dia 22 entre chanceleres. E isso é uma primeira etapa na discussão da reforma da governança, porque o Brasil introduziu na sua presidência também uma inovação, que é fazer uma segunda reunião de chanceleres, que vai ser em setembro, e que será em paralelo à pergunta da Assembleia Geral da ONU", afirmou Lyrio.

    O principal objetivo do Brasil, que atualmente ocupa a presidência do G20, é avançar para uma reforma profunda do sistema de governança global, e para simbolizar a importância de uma maior representatividade dos países, todos os países da ONU serão convidados para a segunda reunião de chanceleres em setembro.

    Questionado se os conflitos vivenciados no mundo atualmente sinalizam a necessidade de uma reforma na ONU, Lyrio afirmou que o posicionamento do Brasil sempre foi pela paz, mas destacou que "uma coisa é trabalhar pela paz em cada um dos conflitos, outra coisa é ter uma governança global que evite a ocorrência dos conflitos".

    "Então nós estamos apagando incêndios, na verdade. Com 183 conflitos no mundo, é uma situação tão catastrófica do ponto de vista de efeitos humanitários, que obviamente a ação tem que ser estrutural. Então uma coisa é pregar a paz em cada um dos conflitos. Agora, é preciso justamente adaptar o sistema internacional a evitar a ocorrência de novos conflitos. Então, aí o papel da ONU é central, que ela não foi criada para isso. Foi uma organização criada para manter a paz, evitar os conflitos."

    O embaixador destacou que a pauta da reforma na governança global visa justamente "uma reforma efetiva da ONU, para que a ONU seja, de fato, um instrumento eficaz para evitar a ocorrência de conflitos".

    Lyrio acrescentou que a questão não envolve apenas uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, mas na organização como um todo, de maneira que "se torne mais representativa e mais atualizada em relação às necessidades contemporâneas".

    "Só um exemplo aqui, muito grave. A Carta da ONU tem a palavra do 'ambiente'? Não tem. E será que hoje é possível pensar uma organização, que é guarda-chuva das organizações internacionais, sem mencionar a palavra do ambiente? Então, é só um exemplo pequeno da questão da falta de atualidade do sistema que nós temos hoje. Então, eu diria que há consenso em relação a ter uma ONU forte e capaz de ajudar-nos a enfrentar os desafios globais. Desafio global não dá para enfrentar individualmente, é preciso ter organizações fortes", disse o embaixador.

    Questionado se a controvérsia gerada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no domingo (18) comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto, resultando em uma crise diplomática com Israel, pode ofuscar a agenda estabelecida pelo Brasil no G20, Lyrio descartou essa possibilidade.

    "Na verdade, esse chamado à paz que o presidente tem feito desde o início é absolutamente crucial [...] Mas isso tem sido, eu diria, uma posição clara da maioria dos países, inclusive no Brasil, a necessidade de cessar-fogo", concluiu o embaixador.

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