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    União Europeia deixa indústria militar dos EUA de fora de novo plano bilionário de defesa

    União Europeia pretende investir até €800 bilhões para reforçar indústria militar própria e diminuir dependência norte-americana

    (Foto: REUTERS/Yves Herman)
    Luis Mauro Filho avatar
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    247 - A União Europeia anunciou nesta quarta-feira (19) um plano de defesa que prevê investimentos de até €800 bilhões nos próximos anos. A decisão marca um ponto de virada nas relações militares entre a Europa e os EUA, que tradicionalmente dominam a indústria armamentista europeia. As informações são do portal Politico.

    Durante a apresentação do programa "Readiness 2030", a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi enfática ao defender o fortalecimento das empresas europeias do setor bélico. “Precisamos comprar mais produtos europeus, pois isso significa fortalecer nossa base tecnológica e industrial de defesa”, afirmou a líder europeia.

    A nova política europeia surge não apenas como resposta à ameaça contínua representada pela Rússia, mas também como reflexo das incertezas causadas pela postura recente dos Estados Unidos, no governo do presidente Donald Trump. 

    Em um episódio marcante, Trump suspendeu repentinamente o envio de armas e compartilhamento de inteligência para a Ucrânia, tentando forçar o país a aceitar negociações de paz com Moscou. Esse episódio expôs a vulnerabilidade europeia à política norte-americana.

    Andrius Kubilius, Comissário Europeu para Defesa, destacou essa preocupação em coletiva de imprensa: “Não devemos considerar somente a Rússia como ameaça, mas também o cenário geopolítico global e onde os americanos colocarão sua atenção estratégica”.

    Forte dependência norte-americana

    Atualmente, dois terços das aquisições militares da União Europeia são fornecidos por empresas norte-americanas. Para reverter essa situação, o plano europeu, conhecido como SAFE, disponibilizará até €150 bilhões em empréstimos para que países-membros adquiram equipamentos militares produzidos na Europa ou em países parceiros autorizados, como Ucrânia, Noruega e Suíça. O objetivo é reduzir a fragmentação atual, incentivando aquisições conjuntas entre os membros do bloco.

    Kaja Kallas, alta representante diplomática da UE, esclareceu os objetivos da iniciativa: “Não estamos fazendo isso para ir à guerra, mas para estarmos preparados para o pior e defender a paz na Europa”. Ela também alertou para os riscos de depender excessivamente de armamentos externos, mencionando explicitamente a experiência da Ucrânia: “Eles usam armas que não são produzidas na Ucrânia, e às vezes há limitações sobre como podem usar essas armas. Suas forças armadas precisam realmente ter liberdade nesse sentido”.

    O plano prevê ainda restrições rigorosas para proteger tecnologias sensíveis: produtos militares financiados pelo fundo europeu precisarão ter, pelo menos, 65% dos componentes produzidos na Europa ou em países associados. Além disso, qualquer equipamento em que a autoridade de design – ou seja, o controle da construção e uso – esteja nas mãos de países não europeus será excluído dos benefícios financeiros, medida que claramente afeta parcerias existentes com empresas norte-americanas.

    Participação de aliados internacionais

    Outro aspecto relevante do plano é o envolvimento de aliados estratégicos fora da União Europeia, como Japão, Coreia do Sul e integrantes da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que poderão participar de compras conjuntas, embora não possam acessar diretamente os empréstimos destinados exclusivamente aos países-membros. O Reino Unido, atualmente fora do grupo, ainda está negociando sua participação em um acordo de segurança, como destacou Kallas: “Estamos trabalhando para que essa parceria de defesa e segurança com o Reino Unido esteja pronta até a cúpula em maio”.

    Países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Índia já demonstraram interesse em fortalecer sua cooperação com o bloco europeu, ampliando ainda mais a relevância geopolítica do projeto.

    Próximos passos do plano

    Para acelerar a implementação, a Comissão Europeia permitirá que, durante os primeiros 12 meses, países do bloco realizem aquisições individuais imediatas, sem precisar esperar por consórcios maiores. Além disso, flexibilizou regras fiscais, autorizando que estados membros ultrapassem temporariamente os limites orçamentários estabelecidos pela União Europeia, até o limite de 1,5% do PIB, por um período de quatro anos.

    O prazo para solicitar empréstimos pelo programa SAFE vai até 30 de junho de 2027, e os recursos poderão ser utilizados até o final de 2030, com prazo de até 45 anos para devolução dos valores.

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