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    ‘Vivemos a fascistização da sociedade francesa’, diz Florence Poznanski

    Dirigente do Partido de Esquerda falou sobre o cenário político francês e a ascensão da extrema-direita

    Florence Poznanski (Foto: Reprodução)
    Guilherme Levorato avatar
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    Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL deste sábado (08/05), o jornalista Breno Altman entrevistou Florence Poznanski, dirigente nacional do Partido de Esquerda francês, sobre o cenário pré-eleitoral francês e o crescimento do Reagrupamento Nacional, o partido da extrema-direita, liderado por Marine Le Pen.

    “Estamos vivendo a fascistização da sociedade francesa, um quadro que avaliamos como protofascista, por vários fenômenos que a pandemia acelerou”, afirmou. Segundo ela, essa mudança de comportamento vem sendo pautada pelos meios de comunicação e o projeto da extrema-direita. 

    “Um exemplo muito preocupante é o uso, pela mídia e por políticos, do termo ‘islamo-esquerdista’. Isto é, a associação da palavra esquerda e tudo o que ela representa com Islã, num contexto de ameaças terroristas. Então quem é taxado disso são as pessoas que denunciam o racismo e as discriminações contra os árabes, e que, por isso, são consideradas aliadas do terrorismo”, explicou Poznanski, alertando para sua semelhança com o termo judeus-bolcheviques, pré-Segunda Guerra Mundial.

    Somado a isso, estão as políticas de desmonte do estado de bem-estar social e o aumento da força repressiva da polícia: “é o aumento do autoritarismo”.

    A dirigente apontou para o fato de que essa linha de pensamento não é um projeto político de um partido só, não é apenas o programa defendido pelo Reagrupamento Nacional. “É importante dizer que a escalada do autoritarismo que vivemos hoje não é fruto político de Le Pen, é de quem se considera o adversário dela, o presidente Emmanuel Macron”, disse Poznanski. 

    Polarização Le Pen e Macron

    “Estamos numa polarização hoje capitaneada por Macron, que entendeu que, para ganhar as eleições contra Le Pen, precisa pegar os votos dela. Isso significa se apropriar de parte do autoritarismo para conquistar esse eleitorado. Isso está se concretizando em ações como a forma de organizar a polícia”, explicou a dirigente.

    Por outro lado, Macron dá a impressão de se preocupar com direitos sociais, com o objetivo de também angariar a simpatia da centro-esquerda e se apresentar como a alternativa à extrema-direita. A suspensão da reforma da previdência, por exemplo, seria uma medida nesse sentido.

    “Esse discurso de luta contra a pandemia permite uma sensação de preocupação em relação aos direitos sociais, mas a lei do auxílio-desemprego, que torna mais difícil sua obtenção, por exemplo, está sendo retomada e é um ataque terrível aos trabalhadores”, disse.

    Poznanski também refletiu sobre a carta, publicada no final de abril, em que generais da reserva davam apoio a Le Pen contra a “desintegração” da França e a ameaça de uma suposta “guerra civil” provocada pelo islamismo. No documento, ainda afirmavam que não teriam “problema algum” em tomar o governo para evitar essa guerra civil.

    “O teor dessa carta é ilegal e, mesmo assim, o governo se manifestou de maneira muito branda. Agora quer julgar os militares que a assinaram. Enquanto isso, a Le Pen agradeceu o apoio e abraçou o que há anos ela vem tentando desconstruir, que é a imagem militar do seu pai, relacionada ao partido, mas que mostra quem eles são realmente”, justificou Poznanski. Para ela, a carta é o resultado da fascistização, que permite a grupos abertamente antidemocráticos se expressar livremente. 

    Mas ressalta que há resistência forte contra essa tendência conservadora. “Não quero trazer esse quadro tão negativo porque também estamos num contexto de efervescência política forte”, afirmou. Segundo ela, apesar do lockdown e da pandemia, a atividade social segue viva, com greves, manifestações sociais e mobilizações pelo clima: “acho que vai ser esse movimento popular que vai determinar o resultado das eleições”.

    Unidade da esquerda

    Além disso, Poznanski acredita que, para vencer as eleições de abril de 2022, é necessária unidade de esquerda. “Em 2017, não fomos para o segundo turno porque não tínhamos unidade. Essa é uma situação que precisa ser discutida e avançada, precisamos pensar e nos unir em torno de uma plataforma política clara, mas as possibilidades de união são difíceis de enxergar atualmente”, admitiu.

    Outro fator a se combater para derrotar a direita e a extrema-direita nas urnas é a abstenção, que, segundo ela, "é o outro ‘partido’ que ganha todas as eleições". "Precisamos ter uma discussão em torno da política e da legitimidade que as pessoas dão à democracia”, afirmou.

    Atualmente existem quatro vertentes de esquerda na França: o Partido de Esquerda, o Partido Socialista, o Partido Comunista e Os Verdes. “O problema é que todos querem encabeçar o que seria a esquerda ou o que seria a ‘resistência’." 

    Destaca, contudo, divergências relevantes. "Os Verdes falam em ecologia compatível com o capitalismo para reconquistar parte do eleitorado de Macron. Nós consideramos que a única maneira de sair vitorioso do processo autoritário é por meio de uma ruptura profunda do sistema produtivo”, reforçou. Os socialistas por sua vez, na visão da dirigente, têm um posicionamento político “mais de conciliação”, sendo os comunistas o partido mais próximo de sua agremiação. Ressaltou que, em mobilizações sociais, os quatro caminham juntos muitas vezes.

    “Quando enfrentamos um inimigo perigoso, fala-se de aliança, de voto útil, tende-se a descartar a revolução ou outros processos radicais porque é necessário lutar contra a extrema-direita. Nós acreditamos em inovar para avançar”, defendeu.

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