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    Com a palavra, o Papa Francisco: Nosso imperativo moral para agir sobre as mudanças climáticas e três linhas de ação

    A crise climática global vai demandar que todos nós transformemos nosso modo de agir, diz Sua Santidade o Papa Francisco (*). Proferindo uma palestra TED visionária na Cidade do Vaticano, o líder espiritual propõe três linhas de ação para tratar dos crescentes problemas mundiais ligados ao meio ambiente e às desigualdades econômicas, mostrando como todos podemos trabalhar juntos, em todas religiões e sociedades, para proteger a Terra e promover a dignidade para todos. “O futuro é construído hoje”, diz ele. “E não é construído em isolamento, mas sim em comunidade e em harmonia”.

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    Vídeo: TED Ideas Worth Spreading

    Tradução e revisão: Elisa Santos

    Vídeo da palestra do Papa Francisco (Sua Santidade o papa Francisco foi filmado na Cidade do Vaticano. Apresentado no Lançamento Global do TED Countdown, outubro 2020):

     

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    Tradução integral da fala do Papa Francisco:

    Olá! Estamos vivendo um momento histórico marcado por desafios difíceis, como todos sabemos. O mundo foi abalado pela crise causada pela pandemia da COVID-19, que evidenciou ainda mais um outro desafio global: a crise socioambiental. E isso requer que nós, todos nós, façamos uma escolha. A escolha entre o que importa e o que não importa. A escolha entre continuar ignorando o sofrimento dos mais pobres e maltratando nossa casa comum, a Terra, ou nos engajarmos em todos os níveis para transformar o modo como agimos.

    A ciência nos diz, todos os dias, com mais precisão, que é necessária uma ação urgente, e não estou exagerando, isso é o que a ciência diz, se quisermos manter a esperança de evitar mudanças climáticas radicais e catastróficas. E para isso temos que agir agora. Isso é um dado científico.

    Nossa consciência nos diz que não podemos permanecer indiferentes ao sofrimento dos necessitados, ao crescimento das desigualdades econômicas e às injustiças sociais. E que a economia não pode limitar-se apenas à produção e distribuição, também deve considerar necessariamente seus impactos tanto no meio ambiente quanto na dignidade das pessoas. Podemos dizer que a economia pode ser criativa, em si mesma e em seus métodos, no modo como age. Criatividade.

    Papa Francisco regando o jardim



    Gostaria de convidá-los para fazermos uma jornada juntos. Uma jornada de transformação e ação. Composta não tanto de palavras, mas sim de ações concretas e prementes. Eu chamo isso de jornada, porque requer uma transformação, uma mudança. Desta crise, nenhum de nós sairá o mesmo. Não podemos sair os mesmos. De uma crise, nunca saímos os mesmos. Vai demandar tempo e muito trabalho duro para nos recuperarmos. Teremos de dar um passo de cada vez, ajudar os mais frágeis, persuadir os irresolutos, imaginar novas soluções, e nos comprometermos com essas ações.

    Nosso objetivo é claro: construir, na próxima década, um mundo onde possamos atender às necessidades das gerações presentes, incluindo todo mundo, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras. Gostaria de convidar todas as pessoas de fé, cristãs ou não, e todas as pessoas de boa vontade, para embarcarem nessa jornada, começando pela sua própria fé, ou se você não tem fé, pela sua própria vontade, pela sua própria boa vontade. Cada um de nós, como indivíduos, ou membros de um grupo, famílias, comunidades religiosas, empresas, associações, instituições, pode contribuir de forma significativa.

    Há cinco anos eu escrevi a carta encíclica “Laudato Si’”, dedicada ao cuidado da nossa casa comum. Ela propõe o conceito de Ecologia Integral, para responder em conjunto ao clamor da Terra, assim como ao clamor dos pobres. Ecologia Integral é um convite para uma visão integrada da vida, começando pela convicção de que tudo no mundo está conectado e que, como a pandemia fez questão de nos lembrar, nós dependemos uns dos outros, assim como da nossa Mãe-Terra.

    Dessa visão deriva a necessidade de encontrar novos caminhos para definir e medir o progresso, sem nos limitarmos aos aspectos econômicos, tecnológicos, financeiros e relacionados ao produto bruto, mas, sim, atribuindo uma importância central às dimensões éticas, sociais e educacionais.

    Eu gostaria de propor hoje três linhas de ação. Como escrevi na Laudato Si’, a mudança e a orientação correta para a nossa jornada de Ecologia Integral requer primeiro de nós um passo ligado à educação.

    Então, a minha primeira sugestão é promover, em todos os níveis, uma educação voltada ao cuidado da nossa casa comum, desenvolvendo o entendimento de que os problemas ambientais estão vinculados às necessidades humanas. Nós devemos compreender isso desde o início: problemas ambientais estão ligados às necessidades humanas. Uma educação baseada em dados científicos e em uma abordagem ética. Isso é importante. Ambos são importantes. Sou encorajado pelo fato de que muitos jovens já demonstram uma nova consciência ecológica e social, e muitos deles lutam generosamente pela defesa do meio ambiente e da justiça.

    Para ambientalista


    Como uma segunda proposta, devemos focar a água e a alimentação. O acesso à agua potável e segura é um direito humano essencial e universal. É essencial porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é uma condição para o exercício de todos os outros direitos e responsabilidades. Fornecer alimentação adequada para todos, por meio de métodos de cultivo não destrutivos, deve ser o propósito fundamental de todo o ciclo de produção e distribuição de alimentos.

    A terceira sugestão é sobre a transição energética: a substituição gradual, mas sem demora, de combustíveis fósseis por fontes de energia limpa. Temos apenas poucos anos. Cientistas estimam, aproximadamente, menos de 30. Temos poucos anos, menos de 30, para reduzir drasticamente as emissões de gases na atmosfera. Essa transição precisa ser não só rápida e capaz de atender as necessidades das gerações presentes e futuras, como também atenta ao impacto sobre os pobres, populações locais, bem como aqueles que trabalham nos setores de produção de energia.

    Uma forma de encorajar essa mudança é voltar os negócios para a necessidade urgente de comprometerem-se com o cuidado integral da nossa casa comum, não investindo em empresas que não atenderem aos parâmetros da Ecologia Integral, e recompensando aquelas que realmente trabalharem durante essa fase de transição, para colocar no centro das suas atividades parâmetros como sustentabilidade, justiça social e a promoção do bem comum.

    Muitas organizações, católicas e de outras religiões, já assumiram a responsabilidade de agir nessa direção. Na verdade, a Terra precisa ser trabalhada e cuidada, cultivada e protegida. Não podemos continuar a espremê-la como uma laranja. E podemos dizer que cuidar da Terra é um direito humano.

    As três propostas devem ser consideradas como parte de um conjunto maior de ações que nós devemos por em prática de modo integrado para encontrar uma solução duradoura para esses problemas.

    O sistema econômico atual é insustentável. Somos confrontados com o imperativo moral e a urgência prática de repensar muitas coisas: o modo como produzimos; o modo como consumimos; nossa cultura do desperdício; nossa visão de curto prazo; a exploração dos pobres e a nossa indiferença em relação a eles; as desigualdades crescentes e a nossa dependência de fontes de energia nocivas. Precisamos pensar sobre todos esses desafios.

    A Ecologia Integral sugere um novo conceito de relacionamento entre nós humanos e a natureza. Isso conduz a uma nova economia, em que a geração de riqueza é direcionada ao bem-estar integral do ser humano e ao progresso, e não à destruição, da nossa casa comum.

    Isso implica uma política renovada, concebida como a mais elevada forma de caridade. Sim, o amor é interpessoal, mas também é político. Isso envolve todas as pessoas e envolve a natureza. Portanto, convido todos vocês a embarcarem nessa jornada que propus na Laudato Si’, e também na “Fratelli Tutti”, minha encíclica mais recente.

    Como a expressão “contagem regressiva” sugere, devemos agir com urgência. Cada um de nós pode exercer um papel precioso, se todos começarmos nossa jornada hoje, não amanhã, hoje. Porque o futuro é construído hoje, e não é construído em isolamento, mas sim em comunidade e em harmonia.

    Obrigado.

    (*) Sua Santidade o Papa Francisco, Bispo de Roma, é o líder da Igreja Católica Romana, e importante incentivador da ação global contra as mudanças climáticas. Ele dedicou a essa luta, em 2015, sua importante encíclica “Laudato Si”.

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