Grande extinção em marcha. O declínio da vida selvagem
Nos últimos 50 anos, o número de animais selvagens diminuiu de duas terças partes. Na América do Sul e Caribe a perda foi de 94%. Essa perda acelera a cada ano, com graves consequências para a biodiversidade. A causa é a excessiva exploração dos recursos naturais do planeta por parte do homem. Ainda haverá tempo para recuperar o que foi destruído?
Por: Equipe Oásis
Área desflorestada na Amazônia brasileira. As queimadas eliminam as árvores e os animais, tornando a terra livre para a agricultura intensiva e a pecuária.
As populações globais de animais selvagens – mamíferos, pássaros, anfíbios e peixes – despencaram em mais de dois terços em menos de 50 anos devido à superexploração humana do planeta. É o que emerge do Índice Planeta Vivo (Living Planet Report 2020), publicado pela WWF em colaboração com a Zoological Society of London. De acordo com o estudo, as atividades humanas degradaram gravemente três quartos da terra e 40% dos oceanos, e essa rápida destruição da natureza pode ter consequências incalculáveis para a nossa saúde e os meios de subsistência.
De acordo com o Índice Planeta Vivo, que mede o estado de saúde da biodiversidade global a partir das tendências demográficas de quase 5 mil espécies de vertebrados, o aumento do desmatamento e a expansão agrícola foram os principais fatores que causaram um declínio médio de 68% das populações de vertebrados entre 1970 e 2016. “Trata-se de uma diminuição acelerada”, afirma Marco Lambertini, diretor-geral do WWF Internacional, “que monitoramos há 30 anos e que continua a se desenvolver na direção errada. Em 2016, documentamos um declínio de 60% na biodiversidade, agora alcançamos um declínio de 70%. Tudo isso em um piscar de olhos, em comparação com os milhões de anos que muitas espécies viveram no planeta”. E a cereja do bolo, a perda contínua de habitat natural – diz o relatório – aumenta o risco de futuras pandemias, à medida que as oportunidades de encontros entre humanos e animais selvagens portadores de patógenos completamente desconhecidos (como o coronavírus SARS) se multiplicam.
As perdas de biodiversidade nos últimos 50 anos nas regiões do planeta, segundo o Living Planet Index:
América do Sul e Caribe: 94%
América do Norte: 33%
África: 65%
Ásia e Oceania: 45%
Europa: 24%
Perdas irreparáveis
Enquanto até 1970 a pegada ecológica da humanidade era menor do que a capacidade da Terra de regenerar recursos, agora, devido ao crescimento econômico sem precedentes dos últimos 50 anos, apoiado por uma explosão no consumo global de recursos naturais, calculou-se que a cada ano usamos uma vez e meia a capacidade do planeta. Uma proporção, portanto, completamente insustentável.
São muitas as causas ligadas à perda de animais silvestres, a começar pela poluição e a intrusão de espécies invasoras (importadas mais ou menos inconscientemente ou migradas devido às alterações climáticas), mas o fator de perda mais importante é a mudança no uso e no manejo da terra: em muitos países do mundo, frequentemente os mais ricos em biodiversidade – e este é o caso do Brasil – tornou-se a norma para as indústrias agrícolas converter florestas e pastagens em fazendas agrícolas. Isso tem um grande impacto sobre as espécies selvagens, que perdem seus ambientes naturais. Além disso, a consequência direta desta expansão da agricultura é que três quartos da água doce disponível ao homem são usados ??para a produção de alimentos – muitos deles nem mesmo destinados diretamente ao consumo humano, mas reservados para o gado.
Desastre nos oceanos
O quadro é igualmente desastroso nos oceanos, onde os estoques de peixes são retirados para além de todos os limites. O relatório do WWF é acompanhado por um estudo, realizado por pesquisadores de mais de 40 ONGs e instituições acadêmicas e publicado na revista Nature ( Nature ), que delineia os elementos de uma estratégia integrada para tentar travar e talvez até reverter a corrida para a perda de biodiversidade. Entre outras coisas, a pesquisa sugere a necessidade de reduzir o desperdício de alimentos e promover dietas mais ecológicas. Só assim, dizem os pesquisadores, a curva de degradação poderia ser mudada para melhor: junto com os esforços radicais de conservação, essas medidas dariam uma contribuição importante para o controle do problema. Mas, como David Leclère, o primeiro signatário do estudo, aponta, “temos que agir agora! As taxas de recuperação da biodiversidade são normalmente muito mais lentas do que as da perda recente de biodiversidade. Isso implica que qualquer atraso na ação levará a novas perdas de biodiversidade que podem levar décadas para se recuperar”.
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