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    Mestre espiritual. Como identificar um autêntico e evitar os falsos

    Difícil progredir no caminho do autoconhecimento e da busca espiritual sem o auxílio de um mestre competente. Mas é preciso saber escolher bem esse mestre. Uma escolha errada pode ser muito perigosa.

    Difícil progredir no caminho do autoconhecimento e da busca espiritual sem o auxílio de um mestre competente. Mas é preciso saber escolher bem esse mestre. Uma escolha errada pode ser muito perigosa. (Foto: Luis Pellegrini)

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    Luker Skywalker e Mestre Yoda

     

     

     

    Por: Luis Pellegrini. Com trechos de: Christopher Bueker

    Fonte: www.luispellegrini.com.br


    Ponto pacífico: o mestre espiritual é um ser necessário. Também conhecido como guru, instrutor, ou simplesmente professor, todo buscador de si mesmo (ou buscador espiritual, já que para mim as duas expressões são quase sinônimos) não pode prescindir do amparo de um mestre autêntico se quiser realmente progredir com segurança e relativa rapidez.

    A busca de si mesmo – expressão que poderia muito bem ser trocada por “a construção de si mesmo”- é como estudar piano. Digo isso porque comecei recentemente a estudar esse instrumento, percebi o quanto é difícil, e sei que permaneceria atolado na minha ignorância não fosse a diligente presença da minha professora.

     

    Mestres

     

    Nunca conheci, na minha já bastante longa existência de buscador de mim mesmo, alguém que tivesse conseguido percorrer o caminho da busca exclusivamente solitária com sucesso. Hoje, percebo que é na dinâmica das relações humanas, sejam elas cômodas ou incômodas, prazerosas ou frustrantes, que se processa o crescimento interior. Isso é ainda mais válido e importante quando nos referimos à nossa relação com o professor que nos assiste.

    Desde já, afirmo que, em termos de evolução espiritual e autoconhecimento, estou há anos-luz de distância de qualquer ponto que possa ser definido como “realização” ou “iluminação”. Estou, sim, em algum lugar do caminho no tempo e no espaço que conduz à minha própria essência. E, como acho que esse caminho não tem começo e nem fim, não tenho nenhuma pressa. Tenho a eternidade pela frente. À medida que o percorremos, à beira desse caminho existe uma miríade de coisas muito interessantes a serem experimentadas, vividas, aprendidas, conservadas, descartadas… O mundo e a vida são cornucópias de regalos…

    Os maus eram centrados em seus próprios egos

    Mas, apesar de não ter pressa, também não quero ficar rodando em círculos e muito menos voltar para trás, tendo de repetir experiências como um aluno relapso e preguiçoso repete de ano. Por isso, desde muito cedo, procurei encontrar bons professores que me ajudassem a abreviar os tempos e os espaços da trajetória. Tive a sorte de encontrar vários bons professores, e sou imensamente grato a todos eles pelo que puderam fazer por mim.

    Encontrei, também, alguns maus professores. Curiosamente, todos eles possuíam uma mesma característica que os tornava, precisamente, maus professores: Eram excessivamente centrados em seus próprios egos.

     

    Krishna e Arjuna, protótipo universal da relação mestre e discípulo.

                                                         Krishna e Arjuna, protótipo universal da relação mestre e discípulo.

     

    Um mau professor pode ser desastroso para o aluno, sobretudo quando se trata de alguém que se propõe como mestre espiritual. À parte o desgaste, a perda de tempo e de energia que sua incompetência pode acarretar, o falso mestre representa um perigo ainda maior: o da desilusão e o da perda de coragem e de interesse por parte do discípulo, cujo entusiasmo em geral muito grande no início acaba se diluindo até se transformar em puro desejo de abandonar tudo para ir viver longe daquele guru que o decepcionou de modo irremediável.

    Embora existam hoje muitos mestres espirituais verdadeiros, a tarefa de encontrar um deles não é nada fácil. Simplesmente porque nosso mundo, nossa cultura contemporânea simplesmente não nos prepara, não desenvolve a nossa capacidade e o nosso discernimento para conseguirmos separar o joio do trigo

    Um dos principais problemas que embaçam o brilho de muitos mestres espirituais contemporâneos é justamente o dinheiro. Muitos deles estão pedindo enormes quantidades de dinheiro em troca de ensinamentos espirituais que, historicamente, sempre foram passados livremente de mestre para aluno.

    O blogueiro norte-americano Christopher Buecker, importante divulgador das filosofias tradicionais da Índia, diz que “muitos desses mestres oferecem uma solução que envolve juntar uma comunidade exclusiva ou grupo que mais se assemelham a cultos que foram formados em torno do chamado mestre espiritual. A mensagem é: Junte-se à minha comunidade e me pague enorme quantidade de dinheiro e a iluminação certamente será sua. Quando, na realidade, é uma armadilha que envolve manipulação e controle.”

     

    Continua Buercke: “Por experiência própria, sei que pode ser benéfico (por um período de tempo limitado) participar de um grupo que afirma praticar uma antiga prática mente-corpo, no entanto, se uma pessoa fica presa lá sentindo que não consegue mais sair, então há o perigo que a pessoa vai se identificar sempre apenas com aquilo que foi explicado pelos co-criadores (o líder de culto ou os mestres) desse grupo. Qualquer identificação doentia com o ego dos líderes do grupo/mestres tornar-se-á então um obstáculo no caminho para atingir a iluminação eterna”.

    É perfeitamente aceitável, no entanto, que mestres/professores espirituais recebam uma contribuição financeira pelo tempo e trabalho que oferecem aos seus alunos – um mestre também tem de pagar suas contas no final do mês. Mas temos de estar cientes da existência daqueles que dizem ser mestres espirituais, quando na verdade eles  nada mais são do que sofisticados vigaristas.

    O objetivo deste artigo é ajudar a esclarecer algumas percepções, para que os leitores possam ter maior capacidade de reconhecer mestres espirituais autênticos.

    Para esse fim, Christopher Buecke reuniu o que considera ser as 14 características que descrevem um mestre espiritual autêntico no tempo moderno. Se você está procurando orientação de um mestre espiritual, estas são algumas perguntas e um “teste decisivo” que pode ser aplicado a fim de confirmar se a pessoa se enquadra na figura de um autêntico mestre espiritual.

    Do texto Wake Up World, de Christopher Buecke extraí a sequência de preceitos abaixo elencada, complementando-as com observações próprias:

     

     

     

    1. O mestre em potencial passou por um treinamento de alta qualidade?

    Quem é/foi o mestre do próprio mestre? É pessoa com experiência no domínio da consciência sem ego? O quão familiar essa pessoa é com estados incomuns ou alterados de consciência? Algumas habilidades podem ser aprendidas de forma independente; no entanto, se você está procurando um caminho de autodomínio ou autorrealização, a melhor coisa que você pode fazer é providenciar instrução de um mestre cujo próprio mestre passou pela experiência. Conhecimento, experiência, habilidade técnica, e credenciais são importantes quando se busca a orientação de um mestre espiritual.

    1. Será que o mestre em potencial pratica mesmo aquilo que ele ensina?

    Qual é a prática pessoal dessa pessoa? Se for um professor de meditação, ele medita diariamente? Se for um professor de hatha-ioga, ele pratica os exercícios com regularidade? Muitas vezes o mestre ouve do aluno: “Como você faz isso? Como você faz aquilo?”, e a maior parte do tempo a resposta é: “Prática, prática, prática.” Juntamente com o desapego, a iluminação é alcançada através da prática persistente por um longo período de tempo.

    1. Esse mestre pratica o desapego?

    O mestre é desapegado em relação aos frutos do seu trabalho? Desapego quer dizer estar bem com os resultados de nossas ações. Desapego é “deixar ir” e se render ao fluxo do Universo. Mestres espirituais autênticos respeitam a individualidade do discípulo e não permitem que seus seguidores abdiquem de sua vontade própria para viver segundo a vontade do mestre. Uma pessoa que se apresenta como um mestre autêntico vive uma vida centrada em princípios e sente-se bem da forma como as coisas se apresentam, sejam elas cômodas ou incômodas.

    1. Esse mestre vive a sua própria vida como algo dotado de propósito?

    Um mestre deve viver com um propósito que lhe seja uma baliza constante. Ele tem consciência do que come? Tem consciência dos produtos que adquire? O por quê de nos entregarmos a uma determinada tarefa, atividade ou trabalho reside na intenção que determina nossas ações. A intenção, neste caso, é viver a vida com um propósito. Mestres autênticos estão conectados com a sua própria intuição. Seu propósito é servir de veículo para que outras pessoas atinjam patamares mais elevados de consciência.

     

    1. Esse mestre é apaixonado pelo que faz?

    Mestres que possuem domínio pleno de suas capacidades costumam se apaixonar pela prática do seu trabalho. A própria prática quotidiana e constante do seu trabalho é o que lhes dá prazer, renova as forças e o ânimo, impedindo-os de desistir. Mestres com domínio pleno de si mesmos estão constantemente à procura de áreas em que possam melhorar, mesmo que seja só um pouco. Sabem que pequenas melhorias em uma base diária e semanal levam a grandes melhorias ao longo do tempo.

    1. Esse mestre é dotado de espírito generoso?

    Um dos princípios éticos fundamentais do hinduísmo e do jainismo é aquele contido na palavraaparigraha, termo sânscrito que pode ser traduzido como significante da não-acumulação, da não-possessividade, do desapego. O atributo positivo da aparigraha é a generosidade. Tantos os mestres autênticos quanto as pessoas astutas sabem que o Universo é abundante e generoso. Mas os mestres espirituais verdadeiros sabem que cada indivíduo tem acesso infinito a uma oferta abundante de prana, a energia vital da vida. Mestres autênticos dão seu amor gratuitamente, e isso inclui pessoas que não podem ou não querem contribuir financeiramente com seus mestres. Mestres autênticos sabem que a nossa iluminação está interligada e, portanto, a intenção deles é a de que todos os seres possam ser livres e felizes. Manifestando-se de muitas formas diferentes, os verdadeiros mestres oferecem tudo gratuitamente, sem expectativa de reciprocidade ou pagamento.

    1. Esse mestre vive de forma humilde?

    Felicidade é um trabalho interno. Um mestre bem centrado e que viva humildemente, sem luxos ou desperdícios inúteis, já é sinal de que é um verdadeiro mestre espiritual. Jesus Cristo, por exemplo, é um dos vários grandes mestres que nos ensinaram sobre a importância da humildade. Um mestre verdadeiro não tem necessidade de carros de luxo, uma mansão ou outros bens materiais. Mesmo que o mestre venha a ser financeiramente independente, um mestre autêntico é feliz vivendo uma vida modesta em uma lar modesto.

    1. Esse mestre é receptivo a críticas construtivas?

    Ninguém é perfeito – somos todos humanos. Estar aberto ao comentário construtivo só pode tornar a pessoa um mestre mais atento e magistral. Como todos nós somos uma consciência experimentando a si própria tanto de modo objetivo quando subjetivo, críticas construtivas são sempre bem vindas. Um mestre verdadeiro sabe que um comentário construtivo e bem-intencionado pode representar um acréscimo na investigação e na facilitação evolutiva dele mesmo.

    1. Esse mestre está focado em servir as pessoas desinteressadamente?

    Grandes sábios afirmaram que o propósito da vida é a experiência do contentamento. O modo mais fácil de se alcançar o contentamento é através do caminho da compaixão. Compaixão implica em amar a nós mesmos e, ao mesmo tempo, amar as outras pessoas. O amor implica em apreciar a beleza natural de todas as pessoas e em servir como um veículo da graça divina. Isso envolve, principalmente, servir outras pessoas de uma forma que realmente as beneficie.

     

     

    1. Esse mestre rejeita lisonjas e subornos?

    Lisonja e suborno ligam o mestre com a pessoa que está fazendo a lisonja ou oferecendo um suborno. Autênticos mestres sabem que aceitar lisonja e suborno é contraproducente para o estado libertado da consciência.

    1. Ele acredita que a libertação e a prosperidade constituem direitos inalienáveis da humanidade?

    A Natureza prospera continuamente. O estado natural da consciência humana é a felicidade e a alegria. Mestres espirituais verdadeiros desejam o melhor para os seus alunos. Mestres espirituais autênticos ensinam que a alegria e a felicidade são estados naturais da consciência humana e que a libertação e a prosperidade estão disponíveis para todas as pessoas.

    1. Esse mestre ri bastante e gosta do bom humor?

    Dizem que rir é o melhor remédio. O Dalai Lama, líder do budismo tibetano, é um homem que ri muito, inclusive de si mesmo. Mestres espirituais autênticos não se levam tão a sério a ponto de nunca rirem. O riso é uma medicina natural que revela amistosidade.

    1. Esse mestre diz a verdade, mesmo que ela é impopular?

    Nas filosofias tradicionais da Índia, satya é uma palavra sânscrita que significa verdade ou veracidade. Verdadeiros mestres espirituais dizem a verdade como ela precisa ser dita, mesmo que multidões de pessoas não a reconheçam. Verdade não é para ser usada como uma arma que pode ferir os sentimentos das pessoas. Mestres espirituais autênticos sabem que é de sua responsabilidade serem uma representação daquilo que é verdadeiro e íntegro.

    1. Ele ensina que o autodomínio é uma condição pela qual se luta até o final da vida?

    Maestria é um caminho evolutivo que não tem ponto final de chegada. Mestres espirituais autênticos sabem que estão inseridos em um caminho de incessante desenvolvimento pessoal. Para onde esse caminho vai levar? Todo grande mestre sabe que, no fundo, essa pergunta é inútil e não tem resposta. O fundamental é percorrer o caminho e viver tudo aquilo que ele nos oferece ao longo do seu percurso.

    Conclusão:

    Se uma pessoa atender a todas, ou pelo menos à grande maioria das características acima mencionadas, pode-se considerar que ela tem boas chances de estar servindo como um mestre espiritual autêntico. Mas, nos processos de avaliação, não despreze nunca a sua capacidade de percepção pessoal e intuitiva das coisas e das pessoas. Analise consigo mesmo o sentimento que você tem sobre essa pessoa que se apresenta como mestre. O que a sua intuição está lhe dizendo? A intuição é a voz do coração, e quem a segue raramente se arrepende.

    Assistam a transmissão ao vivo que fiz na página Luis Pellegrini do Facebook sobre a questão dos Mestres espirituais falsos e verdadeiros.

     

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