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    Resistir ao isolamento: faça como os exploradores polares

    Música, diários, leituras, xadrez e jogos de carta, aventuras na cozinha: foram alguns dos truques usados pelos exploradores polares de expedições como a do irlandês Ernest Shackleton à Antártica, no início do século 20, para sobreviver ao isolamento. Ao final, não deixe de ver o vídeo documentário sobre essa incrível aventura.

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    Por: Equipe Oásis

    Como teríamos combatido o tédio e a depressão durante um período de autoisolamento um século atrás, quando não existia a Internet e os telefones, embora já inventados, não estavam disponíveis? Ainda mais se a pessoa estivesse confinada em barracas de lona instaladas sobre o gelo da Antártica? Alguns indícios surgem dos diários de exploradores que, pela primeira vez na história, enfrentaram o Continente Branco, um dos lugares mais remotos e desertos da Terra. Os que souberam resistir ao isolamento, ao tédio, ao frio, à fome e a longos meses de quase total obscuridade, só o conseguiram porque recorreram a todas os recursos cognitivos possíveis. Estas são algumas das armas que esses corajosos pioneiros utilizaram.

    Da esquerda: Frank Wild, Ernest Shackleton, Dr. Eric Marshall e Jameson Adamns


    Frank Wild, Ernest Shackleton, Eric Marshall e Jameson Adams durante a expedição antártica Nimrod (1907-1909).

    Música. A Scottish National Antarctic Expedition (1902-04), a primeira expedição a estabelecer uma estação meteorológica no continente gelado, foi acompanhada por uma gaita de fole (a cornamusa, tradicional instrumento musical escocês): o instrumento estava incluído na lista dos equipamentos oficiais. Em 1934, quando o almirante norte-americano Richard E. Byrd passou cinco meses completamente sozinho na base antártica Advance Base, levou consigo um fonógrafo (um antepassado do gramofone) e definiu a música como “o único verdadeiro luxo” de toda a sua estadia. E quando Ernest Shackleton e toda a sua tripulação foi obrigado a abandonar o navio Endurance que ficara bloqueado nos gelos flutuantes do Mar de Weddell, na Antártica, ele insistiu para que Leonard Hussey, um dos homens da tripulação, levasse à terra também o seu banjo – instrumento musical bem mais pesado do que o quilo estrito de material pessoal que a cada um era consentido desembarcar. O comandante estava certo: durante muitas semanas sucessivas, o banjo foi uma “uma medicina vital” para todos os náufragos da expedição.

    O navio Endurance


    O navio Endurance, aprisionado pelo gelo antártico, pouco antes de ser esfacelado.

    Estudo e leitura. Nestes dias de quarentena, ouvimos sempre alguém dizer que este é o período ideal para se aprender uma nova língua. O explorador norueguês Roald Amundsen, chefe da expedição antártica Fram (1910-1912: nos intervalos da caminhada, antes de atingir o Polo Sul geográfico, ele começou a estudar russo. O navio Endurance de Shackleton levava a bordo uma pequena biblioteca com poesias, obras teatrais, histórias de viagem, a Enciclopédia Britânica e livros de contos. Quando foi obrigado a abandonar o navio – que começava a se esfacelar devido à pressão do gelo – ele levou consigo uma poesia de Rudyard Kipling impressa sobre uma folha arrancada.

    Shacketon e tripulação no interior do navio Endurance


    Shackelton e tripulação isolados no interior do navio.

    Diário de bordo e diários de viagem. O primeiro contém uma narrativa mais pessoal e introspectiva. É um desabafo, uma tentativa de deixar uma recordação aos familiares distantes ou assegurar para si mesmo uma renda quando a expedição terminasse. Os segundos são como fotografias tiradas com o celular: contêm crônicas e relatos de episódios curiosos acontecidos durante as jornadas, anotações  meteorológicas e visitas de animais ao acampamento, alguns relatos de resultados científicos obtidos, palavras cruzadas, piadas cômicas e às vezes bem grosseiras. Em todas as expedições antárticas a escritura ajuda a enfrentar cada dia a partir da sua diversidade e originalidade, interrompendo a monotonia de quem os considera todos iguais.

    Baralho e xadrez. São jogos fáceis de transportar e os mais frequentes nas expedições polares do início do século 20. O explorador britânico Robert Falcon Scott, durante a expedição antártica Terra Nova (1910-1913) que lhe foi fatal, escreveu: “O nosso jogo mais popular para a recreação noturna foi o xadrez; agora no nosso grupo existem tantos jogadores que dois tabuleiros já não bastam”.

    Comida e bebida (alcoólica). No que diz respeito à alimentação, as privações sofridas pelos exploradores eram enormes: as refeições eram à base de carne e banha de porco enlatadas e cereais, alternados com carne de foca e de pinguim (esta última famosa por ser uma das carnes mais malcheirosas do mundo). Por esse motivo, as conversas se dirigiam insistentemente a respeito do que se iria cozinhar e comer quando voltassem para casa. Quanto ao álcool, as opiniões variavam. Para alguns, não era o caso de se correr o risco de ter homens embriagados naquele ambiente tão hostil à vida. Mas Amundsen não pensava desse modo. Ele, que foi o primeiro homem a atingir o Polo Sul, achava que o vinho e as bebidas destiladas, desde que consumidos com moderação, constituíam uma verdadeira medicina contra a solidão polar, e inclusive um instrumento para apaziguar as desavenças entre os seus homens.

    Acampamento Weddel


    Uma barraca do acampamento Weddel

    A LENDÁRIA EXPEDIÇÃO ANTÁRTICA DE ERNEST SHACKLETON

    Não há como não ficar fascinado pela saga do irlandês Ernest Shackleton que viveu, no início do século 20, uma das mais espetaculares aventuras na história da exploração polar. O ano era 1914 e os ingleses recentemente haviam perdido uma corrida contra os noruegueses para ver quem chegava primeiro ao ponto mais extremo do Polo Sul, fincando pé na maior latitude desse hemisfério. Restava, porém, o desafio de conseguir atravessar, a pé, de um extremo a outro o continente Antártico. Longe de ser um calouro na região, Sir Shackleton já havia chefiado duas missões ao Polo Sul, onde reuniu experiência e reputação necessárias para sua terceira e derradeira epopeia. Nessa nova empreitada, Shackleton reuniu uma equipe de 27 homens com as mais diversas habilidades, formações, personalidades, temperamentos, ambições. Uma equipe que partira com um objetivo de fazer história com seu pioneirismo, mas que ficou conhecida para sempre por sua bravura, coragem, tenacidade, companheirismo e uma incrível vontade de sobreviver. Quando o navio “Endurance” fica preso no mar congelado, começa uma sequência de acontecimentos que inacreditavelmente acaba com um happy end. Assista o filme e conheça em detalhes as penúrias que estes homens viveram na pele. Surpreenda-se com a quantidade de sobreviventes desta aventura fantástica.

    Vídeo: A lendária expedição Antártica de Ernest Shackleton


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