Editor da Wikipédia que ataca sites progressistas promove a Brasil Paralelo, produtora bolsonarista de fake news
Colaboradores da Wikipédia revelam o modus operandi e a manipulação de Rodrigo Padula: "persegue e cria medo em outros editores"
Por Pedro Zambarda de Araujo, DCM - Rodrigo Padula (39) é um especialista em TI de Juiz de Fora (MG) que é editor da Wikipédia há mais de 15 anos — o chamado “wikipedista”. Em março, veio à tona a campanha dele contra sites progressistas como DCM, 247 e Fórum. Padula é cirista assumido. O diretor do DCM, Kiko Nogueira, anunciou um processo contra ele.
Padula chegou a defender a eliminação do Diário como verbete.
O DCM teve acesso a troca de email e contatos com editores da Wikipédia. Mensagens provam que Rodrigo Padula favoreceu a produtora bolsonarista Brasil Paralelo, um das principais fontes de fake news e revisionismo histórico do Brasil.
Fundada em 2016 em Porto Alegre, a Brasil Paralelo é especializada em distorcer episódios como a ditadura, a escravidão e a colonização do Brasil. Divulga as teorias conspiratórias de Olavo de Carvalho. Ficou famosa pelo documentário “1964: O Brasil entre armas e livros”, que tenta recontar o golpe militar com a versão da extrema-direita.
Com ajuda do governo Bolsonaro e de ruralista flagrado com trabalho escravo, lançou vídeos negando o desmatamento.
O perfil anônimo “Brasil para Lerdos” no Twitter dissecou a militância de Padula em favor desse bando.
Henrique Viana, Lucas Ferrugem e Felipe Valerim, da Brasil Paralelo, deram uma entrevista ao podcast Inteligência Limitada, do humorista Rogério Vilela, em 11 de outubro de 2021. A entrevista recuperada pelo “Brasil para Lerdos” explicar como a empresa bolsonarista decidiu processar editores da Wikipédia em outubro de 2020. O perfil também recupera vídeos da própria Brasil Paralelo.
Antes do processo, o “Brasil para Lerdos” explica que a produtora de extrema direita tentou fazer edições na Wikipédia sem conseguir aprová-las e resolveu tomar medidas mais duras. “Além das críticas via vídeos do YouTube, houve uma onda de ataques via edição da Wikipédia. Um dos editores recebeu ataques em seu email pessoal e decidiu não mais editar a página da BP. Detalhe, seu email não era público”, diz o perfil.
Diz o perfil na rede social:
“A maior parte da atuação do Rodrigo Padula na Wikipédia se deu em um período que ele foi pago. Até 2013 ele tinha apenas 43 edições realizadas, uma participação considerada irrelevante. Em 2013 é contratado pela Fundação Wikimedia para atuar no programa ‘Catalisador’ no Brasil, onde atua até 2014.
Em 2014 o programa Catalisador foi encerrado, e o Rodrigo Padula criou um grupo para receber dinheiro da Fundação Wikimedia. Em 2016 passou a pedir remuneração para sua coordenação diretamente dois mil dólares mensais para 20 horas de trabalho por semana. Valores continuados em 2017 no primeiro e segundo semestres.
Em 2018 o grupo dele é ‘desreconhecido’ pela Wikipédia, impedindo a o recebimento de ‘grants’. Padula praticamente cessou suas atividades até março de 2021. Até o momento ele realizava edições simples em temas locais ou ligados a tecnologia, marinha e edições de manutenção.
Na sua volta, em março de 2021, suas edições adquirem um caráter bem distinto. A lista de páginas criadas por Padula já demonstra essa diferença. Das oito páginas criadas de 2021 para cá, três são ligadas a grandes marcas (Magazine Luiza, Toyama do Brasil e Adega Cartuxa).
As edições em artigos já existentes são ainda mais marcantes e passam a ser realizadas como propagandas da marca. Editores experientes da Wikipédia desconfiam que ele está prestando consultoria para empresas de como se posicionar bem na Wikipedia”.
A ligação entre Padula e Brasil Paralelo
O “Brasil para Lerdos” aborda a relação entre a produtora Brasil Paralelo e o trabalho de Rodrigo Padula na Wikipédia:
“Padula começa sua participação no artigo da Brasil Paralelo, marcando-o como parcial 2 vezes, sendo revertidos em ambas. Na página de discussão do artigo, Padula tenta justificar a marcação de parcialidade do artigo.
Depois propõe que todas as críticas sejam removidas para um artigo separado como forma de limpar o artigo principal propõe ainda usar as afirmações da produtora para classificá-los.
Por vezes as edições de Padula alcançam patamares claramente promocionais, como quando coloca fotos da equipe, escritório e posters da Brasil Paralelo no artigo, ou quando adiciona uma propaganda de um serviço de streaming da produtora.
Apesar das ameaças, processo e ataques, editores continuam a editar o artigo e a maior parte das edições do Padula são removidas. Em janeiro de 22, ele volta a questionar a classificação do BP como ‘negacionista’ da ditadura militar brasileira de 1964 e das mudanças climáticas.
Em Janeiro de 2022, segundo editores da wikipedia, Padula chegou ao ponto de expor informações pessoais de um editor que dificultou a sua limpeza do artigo Brasil Paralelo. A edição foi removida a pedido do editor e aparece riscada na lista de contribuições do Padula”.
“Brasil para Lerdos” também recorda de uma informação interessante, recuperando o podcast Inteligência Limitada. “Fundadores da Brasil paralelo admitem o contato com um editor da Wikipédia. Possivelmente Rodrigo Padula”. A fala é de Henrique Viana.
Viana, da Brasil Paralelo, elogia o “ciberativismo” do sujeito.
Editores da Wikipédia encaminharam com exclusividade ao DCM um email que prova a atuação de Padula no sentido de proteger a produtora bolsonarista.
Na mensagem, Rodrigo Padula diz o seguinte: “Olá, vou esclarecer algumas questões aqui pois o artigo da Brasil Paralelo está muito visado e já foi comunicado pela empresa ali o interesse em processar wikipedistas.
Desde quando o assunto ganhou a mídia eu venho tentando contribuir pela imparcialidade deste conteúdo, pois a rotulagem excessiva vem gerando riscos jurídicos para nós e para os editores que estão ali a rotular a empresa.
A Brasil Paralelo já obteve diversos êxitos judiciais pelo mesmo motivo inclusive com direito de resposta junto ao jornal O Globo. Eu sinceramente concordo que a empresa possui diversos conteúdos descabidos e revisionaistas, mas negacionistas do clima e da ditadura são informações extrapoladas e facilmente refutadas de acordo com várias publicações da própria empresa conforme expliquei ali.
Enquanto a Jovem Pan sim é uma empresa totalmente negacionista e propagadora de fake news. Nenhum dos editores envolvidos nos embates do BP [Brasil Paralelo] estão lá.
Desculpe-me pelo email, é que como esses assuntos estão evoluindo para disputas judiciais, prefiro usar a cautela a me posicionar em certos sentidos. Atenciosamente. Rodrigo Padula”.
Um editor da Wikipédia comentou o teor da mensagem de Padula: “Na época eu não me toquei. A mensagem quase parece uma ameaça, vendo o que sabemos dele agora”.
Na condição de anonimato, outros editores da Wikipédia falaram sobre o comportamento de Padula.
“Ele escreveu já uma página sobre o livro do Ciro. Mas não existe uma atuação relevante do Rodrigo para beneficiar o Ciro Gomes. Não parece o foco dele a na Wikipédia. Em geral ele usa essa narrativa de que Lula e Bolsonaro são extremos, mas isso tem pouca eficácia”, disse um deles.
Perguntamos sobre a pressão exercida por Padula sobre os colegas: “No artigo do Brasil Paralelo o principal fator são as ameaças de processo que fazem com que os editores tenham medo em editar. O Rodrigo mandava emails pra editores da Wikipédia falando sobre a possibilidade da Brasil Paralelo processá-los. Isso intimidou alguns editores”, contou um deles.
“Em outros artigos, ele tem conhecimento suficiente de como funciona a Wikipédia para passar batido das revisões mais básicas e persegue quem se opõe a ele de forma a criar medo em outros editores. Acaba que só as edições muito descabidas dele são retiradas”.
A suspeita é de que a Brasil Paralelo não seja o único empreendimento bolsonarista favorecido por Padula.
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