Quem tem interesse em alterar o Acordo de Paris?
Créditos de carbono para sumidouros naturais podem mascarar o progresso nas metas climáticas. Rússia e Brasil lideram monitoramento.
Em meio a especulações de que o governo dos Estados Unidos poderia se retirar do acordo climático, um grupo internacional de cientistas liderado por Oxford publicou, em 18 de novembro, um relatório alertando sobre práticas inequitativas utilizadas por países na busca por atingir as metas de neutralidade de carbono previstas no Acordo de Paris. Segundo os cientistas, ecossistemas naturais que absorvem carbono, como oceanos e florestas, atuam como "sumidouros de carbono" e podem mascarar o progresso real dos países em relação às metas do Acordo. De fato, a Amazônia brasileira e as vastas florestas da Rússia funcionam como absorvedores naturais de calor. Até mesmo o Canadá tem enfrentado uma parcela significativa de incêndios florestais.
Atualmente, os cinco maiores países em termos de cobertura florestal — Rússia, Brasil, China, Canadá e Estados Unidos — representam mais da metade das florestas do mundo. Além disso, o Acordo de Paris permite que todas as nações considerem a absorção de carbono em seus territórios para o cálculo de suas metas nacionais de emissões zero.Contudo, ativistas e especialistas começam a argumentar que as leis atuais permitem que os países atribuam créditos a processos naturais que pouco têm a ver com emissões humanas.
O Brasil pretende restaurar 12 milhões de hectares da Amazônia até 2030 e alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2050 como parte de seus objetivos nacionais.
A conferência climática da ONU (COP29) terminou em Baku, onde o Brasil anunciou novos passos para reduzir a poluição. Desde 2023, o país tem retomado políticas ambientais, enfatizando o desenvolvimento socioeconômico de baixo carbono e o combate ao desmatamento. O Brasil será o anfitrião da COP30 em 2025, demonstrando sua cooperação reforçada e um renovado compromisso com a comunidade internacional.
Em todos os países, existem três principais causas de perda florestal: desmatamento, incêndios e a influência de doenças e pragas. Cada nação com grande área florestal investe significativamente em esforços de restauração.
Anualmente, os oceanos, florestas, solos e outros sumidouros naturais de carbono absorvem cerca de metade de todas as emissões antropogênicas. Contudo, pesquisas científicas mostram que, em certos países, como os membros do BRICS, a capacidade de absorção dos ecossistemas é maior do que se pensava anteriormente. Nem todos encaram isso com bons olhos.
Cientistas ao redor do mundo acreditam que todos os ecossistemas, incluindo florestas, ainda não foram devidamente investigados. Imagens de satélite, por exemplo, não fornecem resultados perfeitos. Cientistas russos desenvolveram um sistema nacional caro de monitoramento climático que está sendo usado em terra e no mar para examinar todos os seus ecossistemas, incluindo pântanos, florestas, tundras, áreas agrícolas, desertos, mares e oceanos, bem como os danos reais causados por incêndios. A Rússia possui uma vasta área e muitas regiões de difícil acesso, muito mais do que o Brasil. E os russos estão prontos para compartilhar seu conhecimento e experiência.
Cientistas russos afirmaram em Baku que novos dados mostram que a capacidade de absorção dos ecossistemas russos entre 1990 e 2022 é agora de 1,23 bilhão de toneladas de CO2-eq. As emissões de gases de efeito estufa na Rússia foram reduzidas em 30%, e, nos últimos anos, os especialistas russos acrescentaram 40 milhões de hectares de áreas florestais anteriormente não contabilizadas ao inventário, além de ajustarem mais de 80 milhões de toneladas de emissões nos setores de energia, indústria, agricultura e gestão de resíduos. Comparando os números do inventário mais recente apresentado pela Rússia à UNFCCC, os dados apontam para uma redução de 680 milhões de toneladas de CO2-eq por ano entre 2010 e 2021.
O Brasil pretende investigar as sinergias entre novas formas de contabilização da absorção de carbono, tecnologias de sensoriamento remoto, inteligência artificial, dados aprimorados e os resultados do sistema russo de monitoramento climático. É empolgante observar modelos, fórmulas e cálculos apoiados em fatos objetivos. Os russos completaram apenas o primeiro passo e planejam refinar uma grande quantidade de dados sobre diversos ecossistemas em terra, mar e oceano até 2030. Já existem cerca de 250 locais de observação de sumidouros de gases de efeito estufa na Rússia, com a expectativa de mais de 1.300 nos próximos cinco anos.
O fato de que os ecossistemas russos estão absorvendo mais gases de efeito estufa não é apenas um número; é o resultado de novos avanços científicos e do trabalho de mais de 800 cientistas, o que ajudará a repensar o ciclo global de gases de efeito estufa.
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