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    Ano novo, velhas raposas

    Balanço da gestão José Sarney, publicado no jornal oficial do Senado, esqueceu de alardear que senadores e servidores do Castelo estão curtindo férias com os bolsos mais cheios

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    O Senado Federal fechou 2011 e abriu 2012, claro, de férias. Porém, da torre do castelo dos parlamentares, em Brasília, ainda incensa o odor da malandragem dos “nobres” senadores País afora. Alardeados pela agência de notícias da Casa, os números fazem crer que os súditos de Sarney trabalharam de forma exemplar: foram quase mil matérias votadas no ano passado, segundo o texto! Não deixa de ser verdade, mas dissecar é preciso. Votar projetos, ofícios, mensagens e afins nunca significou ou significará trabalho favorável à sociedade. Exemplo disso é que senadores e servidores em geral do Castelo estão curtindo férias com os bolsos mais cheios – coisa que eles esqueceram de alardear.

    É o que NÃO diz o balanço da gestão José Sarney, divulgada no finalzinho de dezembro, sob o irônico título “Mais econômico, mais ágil e mais transparente”. Publicado no jornal oficial do Senado, em 12 páginas, o documento bonito no nome é feio na clareza de informações. A omissão, claro, está nos gastos: até o início de dezembro, a Casa já tinha alcançado o mesmo montante de despesas de todo o ano de 2010. E mais: o “mais econômico” do balanço é tão sarcástico que a tal gestão Sarney tem fermentado os gastos com pessoal desde 2009, quando o “Rei” do Maranhão (eleito pelo Amapá!) assumiu a presidência do Senado.

    Segundo o Portal da Transparência, até 14 de dezembro haviam sido empenhados R$ 2,97 bilhões em despesas, valor que supera em R$ 31 milhões os gastos em 2010. Mas o ano fechou, mesmo, para o Senado com gastos totais de R$ 3,3 bilhões. O mais interessante – para não dizer revoltante – é que eles, os Senadores, não raro levantam-se para reclamar dos grandes gastos com pagamentos do assalariado brasileiro, do não fechamento do orçamento da União e dos gastos chamados exorbitantes com a previdência no Brasil. Pois, saibam, o principal gasto na coluna dos servidores do Senado está relacionado a aposentadorias e pensões: o “Castelo” passou de R$ 730 milhões com essa rubrica, em 2009, para R$ mais de R$ 1 bilhão a aposentados e pensionistas do reino do Brasil paralelo.

    Tem mais! Entre as promessas de mudanças para o futuro, o documento do Senado anunciou novo concurso para contratação de mais 246 funcionários neste novo ano, afora os 77 aprovados em 2011. O detalhe é que, até meados do ano passado, a possibilidade de concursos para a educação federal, por exemplo, foi rechaçada inclusive pelo Senado, já que a medida “pesaria no orçamento da União”. E por acaso o pagamento no “Castelo” é feito com penas no lugar de cédulas? E eis que chega o ano novo, eivado de velhos hábitos de raposa. O Senado conta com 3,2 mil servidores efetivos, mas o pior está nos 3 mil funcionários que estão lá por indicação política, além dos 3 mil terceirizados.

    Mais que um ano novo, o brasileiro precisa mesmo é de um novo Brasil.

    Henrique França é jornalista, mestre em Ciência da Informação e professor universitário. Autor do blog #CotidianaMente

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