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    Dilma e o futuro incerto que vem pela frente

    Pela primeira vez desde o incio de seu governo, ela e Lula esto em rota de coliso; enquanto o ex-presidente incentiva a CPI, Dilma demonstra cautela; hoje, ningum consegue enxergar ao certo quais sero as consequncias de uma investigao to ampla, mas que necessria

    Dilma e o futuro incerto que vem pela frente (Foto: Ueslei Marcelino/ REUTERS)
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    247 – “Dilma X Lula”. Esse é o título da nota de abertura da coluna Panorama Político, a principal do jornal O Globo, assinada por Ilimar Franco. Diz o texto: “Pela primeira vez, desde que assumiu a Presidência da República, a presidente Dilma e o ex-presidente Lula estão em rota de colisão. Sem combinar com Dilma, como haviam acertado, Lula entrou em campo para criar a CPI do Carlinhos Cachoeira. A presidente estava atuando soberana na defesa da ética e da moralidade pública, e agora, com a CPI, o Congresso terá a oportunidade de recuperar a sua imagem e voltar a ser protagonista.”

    Nesta sexta-feira, Dilma teve duas aparições públicas. Na primeira, foi um a evento da Confederação Nacional da Indústria e usou óculos 3D, que permitem enxergar a realidade ampliada. Mas ela sabe que, com a CPI, o futuro hoje é turvo, incerto e de consequências imprevisíveis. Numa reportagem publicada pelo 247, o ex-assessor e hoje porta-voz informal de Carlos Cachoeira, Mino Pedrosa, mandou um recado: disse que o bicheiro também deu recursos a arrecadores da campanha de Dilma (leia mais aqui). A segunda aparição de Dilma foi na sede do Banco do Brasil em São Paulo, onde ela se encontrou com o ex-presidente Lula. Segundo relatos de interlocutores próximos a ela e ao ex-presidente, Dilma teria pedido cautela.

    Uma das possíveis preocupações do governo federal diz respeito à empreiteira Delta, que recebeu R$ 845 milhões do PAC nos últimos anos e foi a empresa mais beneficiada. Há indícios consistentes de que Carlos Cachoeira era uma espécie de sócio informal da empresa e já quem fale também em “CPI do PAC”, como fez a colunista Vera Magalhães, da Folha de S. Paulo. Não custa lembrar que, por muito menos, uma outra empreiteira, a Gautama, foi declarada inidônea, quando foi alvo de uma outra operação da Polícia Federal, a Navalha.

    Leia, abaixo, texto do Estado de S. Paulo sobre o encontro entre Dilma e Lula:

    - A presidente Dilma Rousseff reuniu-se nesta sexta-feira, 13, por duas horas e quarenta minutos na subsede da Presidência, na Avenida Paulista, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir a ele que tenha cautela ao incentivar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira - que investigará laços de políticos e agentes privados com o contraventor Carlos Augusto Ramos, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais. A presidente teme que as investigações respinguem em seu governo.

    Ao lado do presidente do PT, Rui Falcão, Lula tem sido um dos principais incentivadores da CPI do Cachoeira. Eles entendem que com a CPI será possível provar que não houve o mensalão - maior escândalo do governo do PT, ocorrido em 2005, em que parlamentares da base aliada votavam a favor de projetos de interesse do Palácio do Planalto em troca de uma remuneração mensal, conforme o relatório da CPI dos Correios.

    Embora não tenha se manifestado publicamente sobre a CPI, há informações de bastidores do governo de que Dilma acha que existe uma possibilidade forte de a CPI prejudicar sua administração. A visão é compartilhada por petistas mais comedidos, que temem a utilização da CPI como palco de vingança política.

    Essa ideia foi reforçada depois da volta de Dilma dos Estados Unidos. Recados do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e do senador Delcídio Amaral (PT-MS) que chegaram à presidente classificam a CPI como “de alto potencial destrutivo”.

    “O alcance dessa CPI é inimaginável. Só a empresa Delta Construções (que aparece nas gravações telefônicas feita pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, e recebeu R$ 4,13 bilhões do governo federal por obras do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC) - está presente em quase todo o País, principalmente na construção e reforma de estradas”, disse o senador Delcídio. “Eu já fiz vários alertas sobre isso. Estão brincando com fogo”, afirmou ainda o senador petista.

    Delcídio foi o presidente da CPI dos Correios, que apurou o escândalo do mensalão, e sabe que, uma vez em funcionamento, o desdobramento das investigações é algo incontrolável.

    A conversa entre Lula e Dilma teve início às 15h10 e terminou às 17h50. Desta vez, o ex-presidente é que foi se encontrar com Dilma, no gabinete de trabalho da presidente em São Paulo. 

    Para auxiliares da presidente, ela quis falar com Lula para demonstrar a preocupação com a CPI e com a agitação política que pode ocorrer no Senado, que ainda tem de votar projetos de interesse do governo. Entre eles, a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que permitirá a mudança no indexador que corrige as dívidas dos Estados com a União.

    Conforme bastidores do Planalto, a presidente tem recebido as informações sobre a CPI do Cachoeira sem mudar a expressão do rosto. Não faz comentários, apenas ouve. Os que a conhecem bem já conseguem interpretar a reação. Sempre que se mostra impassível, Dilma está dizendo que não gostou do que ouviu. 

    Entre os auxiliares mais próximos, Dilma deixou a impressão de que está aborrecida com a forma como o PT está se comportando em relação à CPI.

    Primeiro, não concorda que as investigações possam servir para que o partido tente se vingar de uma parte dos meios de comunicação; segundo, acha que a agenda do governo tem caminhos próprios que envolvem acordos com a oposição e não é a mesma do PT; terceiro, não quer paralisar o Congresso.

    “A CPI não tem nenhum objetivo de vingança, de acerto de contas. É um instrumento do Congresso para apurar circunstâncias que envolvam agentes políticos, agentes públicos ou privados”, disse Rui Falcão nesta sexta-feira, em Belo Horizonte. / COLABORARAM DAIENE CARDOSO e MARCELO PORTELA

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