Em 2020, Bolsonaro manteve a retórica fascistóide, mas seu governo ficou com a cara do Centrão
Ao final de 2020, Bolsonaro mantém sua retórica de cunho fascista, mas seu governo tem, cada dia mais, a característica de uma gestão do centrão, a “velha política” que o candidato de extrema-direita combateu na campanha e no primeiro ano de seu mandato
247 - Reportagem de Mariana Schreiber na BBC Brasil indica como Bolsonaro, apesar de manter a retórica de corte fascista, mudou seu governo para um perfil que lembra o de Temer, sob os auspícios do Centrão e cada dia mais afastado dos radicais que chegaram ao poder com ele em 1 de janeiro de 2019. Escreveu a jornalista: “o presidente Jair Bolsonaro chega à metade do seu mandato metamorfoseado: em dois anos, pouco entregou das promessas de privatização e redução do Estado e, a partir de meados de 2020, sua gestão passou a buscar uma aliança com políticos do Centrão e com a ala mais garantista (menos punitivista) do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Mas isso não significou um abandono total da retórica radical bolsonarista, ressalta o cientista político Rafael Cortez, da Consultoria Tendências: com a pandemia de coronavírus, o presidente intensificou sua disputa com os governadores, em especial o paulista, João Doria, visto como um provável adversário na eleição presidencial de 2022.
Apesar de ter sido parlamentar por mais de 30 anos, Bolsonaro chegou ao poder hostilizando o Congresso Nacional. O auge desta linha foi a série de atos antidemocráticos nos primeiros meses de 2020, aos quais Bolsonaro compareceu a despeito dos pedidos dos manifestantes pelo fechamento do Congresso e do STF. “Até que entre maio e junho, nota o cientista político Antonio Lavareda, o presidente passou a buscar com mais consistência uma aliança com políticos do Centrão — grupo de partidos sem clara identidade ideológica que costumam aderir ao governo, seja ele qual for, em busca de cargos e verbas para sua base eleitoral.Para Lavareda, essa mudança marca a passagem do ‘governo Bolsonaro 1’ para o ‘governo Bolsonaro 2’, em que o presidente se aproxima do presidencialismo de coalizão — uma administração que negocia apoio no Congresso para formar uma base política que lhe dê governabilidade.”
Na economia, Bolsonaro colheu fracassos em suas promessas ultraliberais, ao estilo Pinochet. “Após dois anos, o presidente segue longe de entregar promessas feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como grandes privatizações e zerar o rombo nas contas públicas”, pontuou Mariana Schreiber .
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