Em papéis invertidos, Renan nega vingança contra Demóstenes
Lder do PMDB decide no abrir mo da presidncia do Conselho de tica e promete tratamento mais justo possvel ao senador, o oposto do que diz ter recebido quando teve sua cassao recomendada duas vezes
247 – O PT bem que tentou colocar as mãos na presidência do Conselho de Ética para comandar o julgamento de Demóstenes Torres. Mas ontem mesmo, o líder do PMDB, Renan Calheiros, deixou claro que não abrirá mão da cadeira. Esse seria o momento ideal para o senador se vingar de Demóstenes. Calheiros teve sua cassação recomendada duas vezes pelo colegiado em 2007, e escapou da perda do mandato nas duas ocasiões graças aos votos secretos em plenário. Atualmente, tem duas pendências no Supremo. Uma delas apura se um lobista pagou, em nome do senador, pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o peemedebista tem uma filha. A denúncia rendeu o primeiro pedido de cassação contra ele. Na ocasião, um dos principais algozes dele foi justamente o senador Demóstenes Torres. Pesa também sobre ele a acusação de que ele usou laranjas na compra de veículos de comunicação em Alagoas. Segundo o colunista Josias de Souza, em privado, ele afirma ter “mil razões para promover uma vingança” contra Demóstenes. Mas jura que dispensará ao ex-verdugo um tratamento que ele lhe sonegou. “Quero conduzir as coisas da forma mais serena e justa possível”, diz Renan, entre quatro paredes.
Leia o artigo de Josias de Souza: Líder do PMDB, Renan Calheiros (AL) decidiu reter sob o controle do seu partido a presidência do Conselho de Ética do Senado. Em conversa telefônica, ofereceu a cadeira ao colega de bancada Vital do Rêgo (PB), que pediu tempo para pensar. Ficou de dar a resposta na segunda-feira. Tende a aceitar a incumbência.
Na véspera, Walter Pinheiro (BA), líder do PT, oferecera a Renan uma alternativa: se nenhum pemedebê se dispusesse a descascar o abacaxi em que se tornou o caso Demóstenes Torres (GO), o petê Wellington Dias (PI) se oferecia para assumir o comando do Conselho de Ética.
Renan disse a Wellington que consultaria sua bancada. Nesta quarta (4), menos de 24 horas depois da oferta do PT, o mandachuva do PMDB já estava decidido a não abrir mão da presidência do conselho. Voltou-se para Vital porque ele já acompanha os desdobramentos da encrenca como Corregedor do Senado.
Num ambiente crivado de ironias, o ex-encrencado Renan frequenta o cadafalso do ex-catão Demóstenes no papel de gestor da guilhotina. Há cinco anos, os papéis estavam invertidos: Renan era o pescoço. Demóstenes simbolizava a lâmina. O vídeo lá do alto, de outubro de 2007, dá idéia da reviravolta.
Nessa época, Demóstenes era o senador das invectivas, o paladino da sagrada flama da ética. Hoje, traído pela inconsistência e condenado ao silêncio voluntário, encontra-se rendido às articulações de um Renan que o acusava de transformar o Senado em “delegacia de polícia”.
Em privado, Renan faz pose de magistrado. Afirma que teria “mil razões para promover uma vingança” contra Demóstenes. Mas jura que dispensará ao ex-verdugo um tratamento que ele lhe sonegou. “Quero conduzir as coisas da forma mais serena e justa possível”, diz Renan, entre quatro paredes.
Em 2007, com a ativa participação de Demóstenes, o Conselho de Ética aprovara dois pedidos de cassação do mandato de Renan. Num, a ex-caça era acusada de pagar com verbas providas por um lobista de empreiteira a pensão de um filho nascido de relação extra-conjungal.
Noutro, Renan era acusado de utilizar-se de laranjas para adquirir uma emissora de rádio em Alagoas. Enviados ao plenário do Senado, os dois processos resultaram em absolvição. Renan teve de abdicar da presidência do Senado. Mas salvou o mandato. Sem nada a oferecer, Demósteves deve ter destino diverso.
Um dos argumentos utilizados para seduzir Vital do Rêgo a aceitar a presidência do Conselho de Ética é o de que a “missão” resultará benefícios políticos. O senador poderá levar à biografia o título de condutor de um processo que, ao final, servirá à opinião pública o mandato de um Lobo Mau travestido de Chapeuzinho Vermelho.
Além de ajeitar os bastidores, Renan vai pisar o palco na hora em que a cortina for aberta. Em 2007, na posição de incriminado, abstinha-se de comparecer ao Conselho de Ética. Fazia-se representar pelo advogado e por uma ativa tropa de choque. Agora, é membro titular do colegiado. De réu, converteu-se em juiz.
O conselho vai se reunir na tarde da próxima terça-feira (10). Nessa sessão, Vital do Rêgo deve assumir o posto de João Alberto (MA), um aliado de José Sarney que licenciou-se do mandato e da presidência do Conselho de Ética para assumir uma secretaria do governo maranhense de rosena Sarney.
No momento seguinte, Sarney enviará ao conselho a representação na qual o PSOL pede que Demóstenes seja julgado sob a acusação de faltar com o decoro parlamentar ao submeter o mandato de senador aos interessses do contraventor Carlinhos Cachoeira. Antes de soar o apito inicial, o Senado respira uma atmosfera de jogo jogado.
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