Gestão de Milton Ribeiro no MEC pediu propina escondida em pneu para aprovar licitação de obras em escolas
Ministério da Educação negociava contratos de obras federais em escolas públicas em troca de reformas nas igrejas de Gilmar Santos e Arilton Moura
247 - O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro autorizou a negociação de contratos de obras federais em escolas públicas em troca de reformas nas igrejas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, segundo contou o empresário do setor da construção civil Ailson Souto da Trindade ao jornal Estado de S. Paulo.
O empresário relatou que foi feito um pedido de pagamento de propina de R$ 5 milhões em dinheiro vivo, que deveria ser escondido no pneu de uma caminhonete para que a quantia fosse levada de Belém (PA) até Goiânia (GO), onde fica a sede da igreja de Gilmar e Arilton.
Trindade relatou que Milton Ribeiro teria garantido que sua empresa de construção civil seria contratada pelo governo para a realização de obras públicas, com a condição de "ajudar" a igreja dos pastores. Isso teria ocorrido em uma reunião no MEC em 13 de janeiro de 2021: “Ele se apresentou: ‘Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso’"
Um contrato fictício entre a empresa de Trindade e as igrejas mascararia a propina: “Eles falaram: ‘existe uma proposta para tu fazer isso (as obras)’. Aí eu disse: ‘que proposta?’. ‘Bom, a gente está precisando reformar umas igrejas e estamos precisando também construir alguns templos, no Maranhão, no Pará, e também outros lugares. Então estamos precisando de R$ 100 milhões para fazer isso’. Aí eu falei: ‘mas o que que eu vou ganhar em troca? Como é que vai acontecer? A igreja vai contratar minha empresa?’ ‘Não, a gente faz um contrato, entendeu? Faz o contrato com a empresa, a igreja contrata a tua empresa e eu consigo articular para tua empresa fazer as obras do governo federal’”, teria dito Arilton.
“Eles queriam R$ 5 milhões em dois dias. Eu falei: ‘mas eu não posso fazer esse tipo de negócio, eu sou empresário, eu não vou fazer uma coisa assim sem nenhum contrato’. E eles queriam que eu colocasse no pneu de uma caminhonete e mandasse para lá. Eu disse: ‘não, gente, vamos fazer em conta porque como é que eu vou saber... se não der certo, como vou provar que eu paguei?’ Aí eu fiquei com medo desse tipo de negociata. Daí queriam 5 milhões logo e depois de 15 dias queriam mais R$ 50 milhões”, afirmou o empresário.
Confira os áudios obtidos pelo Estadão:
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